O governo dos Estados Unidos deve anunciar nesta terça-feira (13) que, pela primeira vez na história, cientistas produziram uma reação de fusão nuclear que gera mais energia do que aquela necessária para desencadeá-la.
No processo, chamado de fusão por confinamento inercial, eles bombardearam um minúsculo pedaço de plasma de hidrogênio com o laser mais poderoso do mundo, produzindo cerca de 2,5 megajoules de energia, cerca de 120% dos 2,1 megajoules de energia usados no laser. Os resultados preliminares constituem um avanço na busca por energia ilimitada e livre de carbono, informou o Financial Times (FT) no domingo.
Segundo o jornal, o laboratório confirmou o experimento, lembrando que a análise dos resultados estava em andamento. “Os primeiros dados de diagnóstico sugerem outro experimento bem-sucedido no National Ignition Facility [NIF]. No entanto, o desempenho exato ainda está sendo determinado”, explicou. “Esta análise está em andamento, portanto, publicar as informações antes que o processo seja concluído seria incorreto”, acrescentou. A descoberta já está sendo amplamente discutida pelos cientistas.
Duas pessoas com conhecimento dos resultados comentaram ao jornal que, como a produção de energia foi maior do que o esperado, parte do equipamento de diagnóstico foi danificado, o que complicou a análise. No ano passado, esse laboratório chegou mais perto do que nunca de um ganho líquido de energia, ao produzir 1,37 megajoules a partir de uma única reação de fusão, cerca de 70% da energia do laser usado na ocasião.
“Se isso for confirmado, estamos testemunhando um momento na história”, comentou o físico de plasma Dr. Arthur Turrell sobre o recente avanço. “Os cientistas têm lutado para mostrar que a fusão pode liberar mais energia desde a década de 1950, e os pesquisadores de Lawrence Livermore finalmente quebraram totalmente esse objetivo de décadas”, acrescentou.
O “Santo Graal” da energia limpa
A fusão nuclear é apelidada de “Santo Graal” da produção energética por ser uma fonte potencialmente ilimitada e limpa, imitando o processo que acontece nos núcleos das estrelas, que consiste na união dos núcleos atômicos que fundem átomos de hidrogênio e produzem quantidades astronômicas de energia. O desafio, no entanto, é fazê-la de maneira economicamente viável.
A reação de fusão nuclear não libera carbono, não produz resíduos radioativos de vida longa e, em teoria, uma pequena quantidade de combustível de hidrogênio liberaria quantidades significativas de energia ao longo dos anos.
A maior parte da pesquisa de fusão se concentra em uma abordagem diferente desta que usa lasers poderosos. Isso é chamado de fusão por confinamento magnético, na qual o combustível de hidrogênio é mantido no lugar por ímãs poderosos e aquecido a temperaturas extremas para que os núcleos atômicos se fundam.
Nicholas Hawker, executivo-chefe da startup First Light Fusion, com sede em Oxford, que está desenvolvendo uma abordagem semelhante à usada no NIF, descreveu o potencial avanço como “uma virada de jogo” .
“Não poderia ser mais profundo para a fusão de energia”, afirmou. De sua parte, o congressista norte-americano Don Beyer, presidente da convenção bipartidária Fusion Energy, chamou a tecnologia de “Santo Graal” da energia limpa.
