Milei, Trump e Bolsonaro? Vitória da extrema direita preocupa Lula
No último domingo (19) o economista ultraliberal Javier Milei, do partido “A Liberdade Avança“, venceu a eleição para a Presidência da Argentina. Com 97% das urnas apuradas, Milei tem 55,76% dos votos, contra 44,23% de Sergio Massa, ministro da Economia e candidato governista. Cerca de 26 milhões de argentinos votaram, 76,3% do total. Milei foi mais votado em 20 das 23 províncias do país, além da capital Buenos Aires, que é uma cidade autônoma.
Com isso, as fontes do Itamaraty e do PT já acenderam o alerta para os próximos movimentos da direita no mundo, após a vitória do economista no último domingo. Para integrantes da diplomacia brasileira e do partido, o democrata Joe Biden, tem pouca chance de derrotar o republicano Donald Trump e se reeleger nas eleições americanas em 2024, a não ser que haja uma mudança nos cenários. Essa mudança seria o surgimento de um candidato democrata mais competitivo. Caso contrário, a Argentina não será o único país governado por um ultraliberal nos próximos anos.
Caso a volta de Trump na maior economia do mundo se concretize, os dois eixos principais de atuação do Brasil passariam a ser a Europa e o Sul global. E, nesse contexto, com a eleição de Milei, é mais provável que o acordo entre Mercosul e União Europeia seja assinado até o fim do ano, afim de evitar conflitos.
Sobre as relações com o novo presidente argentino, o governo brasileiro vê o movimento com cautela e deve esperar para saber o que, dentro de tudo o que disse Milei era discurso de campanha e o que será colocado em prática.
Enquanto isso, a oposição a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) faz a festa diante da nova liderança de extrema direita. Bolsonaristas comemoram nas redes sociais e veem vitória de Milei como esperança no continente para as eleições de 2026. Entre aliados mais pragmáticos de Lula, os recados da vitória de Milei são de que esquerda precisa trabalhar uma frente ampla de fato e não apenas de um slogan de campanha. A eleição de Milei foi muito comparada no governo brasileiro com a vitória de Bolsonaro sobre Haddad em 2018. Até a porcentagem que deu a vitória a Bolsonaro (55%) é o mesmo número que deu a vitória a Milei, lembraram integrantes do governo. Haddad, teve 44,8%, em 2018.
Confira as expectativas da economia
Os integrantes da equipe econômica de Lula veem a proposta de dolarização proposta por Milei como algo de médio ou longo prazo, já que não haveria como implementar esse projeto no curto prazo, do ponto de vista técnico.
A comparação, por ora, é de que o governo de Milei terá uma economia como foi no governo Sarney-Collor, se o presidente eleito levar adiante tudo que prometeu, na visão do governo brasileiro. Já sobre os BRICS, a expectativa da Fazenda é de que seja apenas bravata, pois o resultado da saída do bloco seria muito devastador.
Confira pronunciamento de Lula e Bolsonaro
O presidente Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se manifestaram nas redes sociais, após a promulgação dos resultados eleitorais. No decorrer do pleito argentino, o PT e outros partidos de esquerda declararam apoio a Massa, enquanto o bolsonarismo e deputados de direita se posicionaram a favor de Milei.
Lula parabeniza novo governo, sem citar Milei:
O mandatário brasileiro parabenizou o novo governo argentino, mas não citou nominalmente Javier Milei. Além disso, o petista reiterou a disposição do Brasil em trabalhar junto com a Argentina. Lula descartou ir a Buenos Aires para a posse do novo presidente, no dia 10 de dezembro. Ele também não pretende fazer uma ligação telefônica ao argentino cumprimentando-o pela vitória.
“A democracia é a voz do povo, e ela deve ser sempre respeitada. Meus parabéns às instituições argentinas pela condução do processo eleitoral e ao povo argentino que participou da jornada eleitoral de forma ordeira e pacífica. Desejo boa sorte e êxito ao novo governo. A Argentina é um grande país e merece todo o nosso respeito. O Brasil estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos”, escreveu Lula.
Bolsonaro cumprimenta Milei e afirma que esperança volta a brilhar na América do Sul:
Já Bolsonaro que havia declarado apoio expresso a Milei ao longo da campanha eleitoral saudou a vitória do economista. Conforme apurou o analista da CNN Caio Junqueira, Bolsonaro deve ir à posse de Milei caso seja convidado. A assessoria do ex-presidente informou ainda que é certo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), seu filho, vá à posse.
“Parabéns ao povo argentino pela vitória com Javier Milei. A esperança volta a brilhar na América do Sul. Que esses bons ventos alcance os Estados Unidos e o Brasil para que a honestidade, o progresso e a liberdade voltem para todos nós”, registrou Bolsonaro.
No planalto a notícia foi recebida com desânimo
Auxiliares diretos do presidente Lula receberam, com surpresa e desânimo, a informação da vitória de Milei. Havia a expectativa, no Palácio do Planalto, de que Massa superasse Milei por pequena margem de votos. O otimismo de Lula e seus assessores cresceu após o desempenho do peronista no debate presidencial do último domingo.
A ordem geral, entre conselheiros de Lula em política externa, é não responder eventuais críticas ou insultos de Milei ao petista. O brasileiro já foi chamado de “comunista” e “corrupto” pelo presidente eleito da Argentina. Os mais próximos pedem para Lula não fazer declarações públicas, afirmando apenas: “A América do Sul se tornará uma região mais complexa”.
Retorno de Bolsonaro ou indicação de sucessores?
Enquanto as especulações políticas continuam, uma questão relevante é a possibilidade de retorno de Jair Bolsonaro. Contudo, tal retorno só poderia acontecer em caso de anulação de seu julgamento e condenação à inelegibilidade.
Apesar dos desafios legais, o capital político de Bolsonaro permanece influente, suficiente para ele indicar um sucessor. Dentro da Família Bolsonaro, Michele e Flávio são os principais nomes, enquanto fora dela, políticos como Romeu Zema, Tarcísio de Freitas e Nikolas Ferreira aparecem como possíveis indicações.
A ascensão de Javier Milei na Argentina, juntamente com a potencial volta de Donald Trump nos EUA e a influência contínua de Jair Bolsonaro no Brasil, sugere a formação de uma trindade da direita no cenário político das Américas.
Este panorama sugere um cenário político em evolução, onde os desenvolvimentos precisam ser acompanhados de perto. Com as eleições americanas de 2024 e as brasileiras de 2026 no horizonte, há muito a se desdobrar no cenário político, tanto no Brasil quanto na América Latina e no mundo.