Apesar do mercado de trabalho seguindo a passos de tartaruga, muitos brasileiros estão se ‘desapegando’ dos seus empregos.
Do total de 1.816.882 desligamentos registrados no mês de março, 603.136 foram voluntários, ou seja, a pedido do trabalhador – o equivalente a 33,2% do total. Isso em meio a um índice de desemprego que atinge 12 milhões de brasileiros.
O levantamento feito pela LCA Consultores leva em conta os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que contabiliza as vagas com carteira assinada no país.
Trata-se do maior número de demissões a pedido em um único mês desde janeiro de 2020, início da série histórica do Caged com a metodologia atual de contagem de vagas.
Segundo com Bruno Imaizumi, responsável pela pesquisa, trata-se de um movimento de continuidade de normalização do mercado de trabalho.
“A gente tem que lembrar que no começo da pandemia muita gente acabou aceitando emprego que não tinha afinidade com suas formações. Agora os efeitos da pandemia estão cada vez menores no mercado de trabalho e tem muita gente que acaba se demitindo para acabar se admitindo em outro lugar em profissões mais condizentes com suas qualificações”, diz.
Home office
O economista complementa que muitas empresas estão voltando para o trabalho presencial. Com isso, para os trabalhadores que viram que essa modalidade não é benéfica em termos de qualidade de vida, essa volta ao ambiente de trabalho acaba pesando na escolha do profissional, que prefere trabalhar de casa em vez de pegar trânsito todos os dias, por exemplo.
“Isso para empregos específicos, mais voltados para o setor de serviços em que seja possível trabalhar de casa”, ressalta.
Áreas com mais pedidos de demissão
Em relação ao estoque de vagas, ou seja, o total de empregos com carteira assinada, o setor de alojamento e alimentação foi o que mais registrou pedidos de demissão em março.
Já os setores de Atividades Administrativas e Serviços Complementares; Informação e Comunicação; e Atividades Profissionais, Científicas e Técnicas vêm em seguida na maior proporção de pedidos de demissão dentro do total de vagas. Nesse último caso, mostra-se um movimento de pedidos de demissão vindo principalmente de profissionais mais qualificados e de setores mais aquecidos, como de TI.
Pedidos de demissão de acordo com os setores
Atividades | Demissão a pedido do trabalhador | % sobre o estoque de vagas |
---|---|---|
Alojamento e Alimentação | 38 730 | 2,1 |
Atividades Administrativas e Serviços Complementares | 88 118 | 1,8 |
Informação e Comunicação | 18 008 | 1,7 |
Atividades Profissionais, Científicas e Técnicas | 22 183 | 1,7 |
Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca e Aquicultura | 28 066 | 1,6 |
Artes, Cultura, Esporte e Recreação | 3 855 | 1,5 |
Comércio, Reparação de Veículos Automotores e Motocicletas | 149 906 | 1,5 |
Construção | 36 612 | 1,5 |
Saúde Humana e Serviços Sociais | 36 324 | 1,4 |
Educação | 24 289 | 1,4 |
Atividades Imobiliárias | 2 342 | 1,3 |
Transporte, Armazenagem e Correio | 31 661 | 1,3 |
Indústrias de Transformação | 94 642 | 1,3 |
Serviços Domésticos | 44 | 1,1 |
Outras Atividades de Serviços | 12 550 | 1,1 |
Atividades Financeiras, de Seguros e Serviços Relacionados | 8 234 | 0,9 |
Água, Esgoto, Atividades de Gestão de Resíduos e Descontaminação | 2 799 | 0,8 |
Indústrias Extrativas | 1 370 | 0,6 |
Administração Pública, Defesa e Seguridade Social | 2 975 | 0,4 |
Eletricidade e Gás | 417 | 0,3 |
Organismos Internacionais e Outras Instituições Extraterritoriais | 11 | 0,3 |
Para obter os dados por setores, Imaizumi fez o ajuste pelo total de trabalhadores dentro de cada atividade (estoque de vagas) para obter maior precisão nas informações, já que no caso do comércio, a quantidade de trabalhadores é significativa.
Segundo Bruno Imaizumi, o setor de alojamento e alimentação aparece em primeiro lugar porque foi uma atividade muito prejudicada pela pandemia.
“Agora com a recuperação desse setor, muitos trabalhadores, com a abertura de novos restaurantes, pousadas e hotéis, estão se demitindo porque estão recebendo ofertas melhores de outros lugares”, explica.
Já os outros três setores com maior proporção de pedidos de demissão estão relacionados a vagas mais técnicas que permitem a realização de trabalho remoto.
Flexibilidade
Estudo do LinkedIn aponta que 49% dos entrevistados estão considerando mudar de emprego em 2022. Esta porcentagem é ainda mais alta para os profissionais jovens de 16 a 24 anos (61%). Os dois principais motivos são a busca por melhores salários e o desejo por um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Outra pesquisa da rede social profissional mostra que 78% dos profissionais afirmam que a pandemia fez com que passassem a querer ou a precisar de mais flexibilidade no trabalho. Cerca de 30% dos entrevistados afirmaram que deixaram seus empregos por falta de políticas flexíveis no último ano e quase 40% já consideraram essa possibilidade em algum momento da carreira. Equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal foi citado por 49% como principal motivo.
A busca por maior remuneração é o principal motivo para 49% dos empregados que pretendem buscar novas oportunidades neste ano, segundo outro levantamento da consultoria Robert Half.
Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul, aponta que o percentual de profissionais qualificados com nível superior pedindo demissão vem crescendo trimestre a trimestre, o que indica um importante movimento de busca de oportunidades mais alinhadas ao seu perfil e momento de vida.
Com informações do G1 Economia*
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