Como o cacau sustentável pode afetar os preços no mercado brasileiro?

O cacau sustentável é uma ameaça para o aumento de preço de atacado do cacau? Acredita-se que sim, isso porque o cacau é uma das commodities de maior valor agregado do mundo. Portanto, práticas sustentáveis podem tornar o fruto cacau ainda mais caro. Isso dificulta a importação pelo Brasil e também torna o valor nas gôndolas maior aos consumidores.

Porém, o cacau sustentável poderá ser verdade nos próximos? Isso é difícil de responder. Hoje, dos 5 maiores produtores de cacau do mundo, 4 são países africanos, Costa do Marfim, Gana, Camarões e Nigéria. A transição para um cacau sustentável encontra, entre tantas barreiras, a falta de regulamentação e diretrizes trabalhistas.

Por outro lado, o mercado brasileiro consegue sim estimular uma produção sustentável de cacau, afetando o preço no mercado doméstico e nas eventuais exportações. Inclusive, dá para utilizar a estratégia de cacau sustentável para subir no ranking de exportação da commodity. Hoje, o Brasil é o sexto maior exportador de cacau do mundo, superado pelos países africanos e pelo Equador.

Mas afinal, pode o cacau sustentável ser um trunfo e diferencial positivo da produção brasileira? E se sim, como isso poderia ser feito? Nesta reportagem especial, destacamos os principais pontos que envolvem a produção sustentável de cacau no Brasil!

O mercado de cacau no Brasil é sustentável?

O cultivo sustentável do cacau faz parte de práticas que geram economia nos componentes usados no cultivo de cacau, como água, luz, entre outros itens que geram prejuízos ao meio ambiente. Hoje, a produção sustentável de cacau e demais commodities exigem tecnologia. Infelizmente, o mercado do cacau ainda não possui acesso a isso.

Mas por qual razão o cacau está atrasado em relação à tecnologia? Isso acontece por causa da falta de políticas de fomento para a produção, como acontece hoje com o agronegócio. Atualmente, as lavouras são acompanhadas remotamente, com pixels via satélite apontando o período do cultivo. Soluções criativas que poupam recursos e geram economia não estão presentes aos montes ainda.

Para este cenário mudar, é preciso considerar duas frentes. A primeira está na presença de políticas de fomento à tecnologia aplicada na produção de cacau. Desta forma, dá para sair na frente de outros países e aumentar a exportação de cacau sustentável para demais países.

Do outro lado da balança, este investimento deve estar presente no valor agregado do cacau. Hoje, sabe-se que há bastante valor na fruta, mas para viabilizar mais medidas sustentáveis, este valor precisa fazer parte da venda da safra, caso contrário não há razão para mudança.

Como tornar o cacau brasileiro sustentável?

Em commodities mais populares, o Brasil se esforça em manter um alto nível de qualidade, sem tantos prejuízos ao meio ambiente. Porém, esta meta possui uma grande meta: a entrada da carne brasileira na Europa a partir do dia 1º de janeiro de 2025. O parlamento europeu aprovou a Lei de Anti-Desmatamento. Isso significa que as importações dos países do continente europeu vão priorizar países sustentáveis.

Especialmente no Pantanal, não é bem isso que acontece. Para priorizar uma rápida produção, é comum queimar árvores para abrir passagem para o pasto mais rapidamente. Essa prática deve ser coibida e o agricultor vai ter que provar a sustentabilidade no seu negócio, caso queira ter como destino a Europa.

A mesma lei, inclusive, impacta diretamente na produção de cacau. Caso um produtor queira fazer negócios com países do bloco europeu, vai ser necessário provar que a produção da fruta foi em território sem desmatamento, com alguma rastreabilidade aceitável. Abaixo, mencionamos os desafios a serem superados!

1. Selo Verde

O primeiro passo é ter um Selo Verde nacional, distribuído aos produtores e aos produtos que utilizam um cacau sustentável. Hoje, sabe-se que existem certificações internacionais que verificam e atestam a qualidade de um produtor, mas convém ter uma versão nacional para agregar valor à produção.

2. Políticas de crédito prioritário

Os bancos estatais e privados são frequentemente buscados para financiar uma lavoura, em especial quando há eventos extremos que prejudicam a safra. Em casos assim, é importante definir diretrizes que focam no cultivo sustentável em detrimento de menores taxas de juros. As linhas de crédito verde já existem, porém, alinhar o fácil acesso ao crédito com um eventual selo verde nacional seria positivo!

3. Incentivo em tecnologia e descentralização de produção

Existe uma barreira geográfica. Hoje, as startups com foco no agro estão localizadas no sudeste, onde atendem os estados de Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Hoje, os produtores de cacau estão no extremo oposto, como Pará e Bahia. Para levar tecnologia para lá, seria necessário incubar empresas e descentralizar as startups.

O cacau sustentável está próximo, mas falta atenção

O cacau sustentável está perto de ser verdade. No entanto, faltam políticas públicas adequadas, assim como tecnologias voltadas à cacauicultura, especialmente nos estados que mais produzem. Com a alta da procura de safras sustentáveis, pode ser que isso mude nos próximos anos!