Diversas tecnologias chegam à educação, mas tal educação tecnológica não chega para 4,8 milhões de crianças e adolescentes, na faixa de 9 a 17 anos, no Brasil. Isso porque para eles a internet ainda não é usada em casa. Engana-se quem pensa que essa realidade é encontrada apenas nas zonas rurais do país.
Os dados divulgados, na semana passada, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mostram a desigualdade no acesso à educação no país, que se escancara no momento em que aulas presenciais estão suspensas por conta da pandemia da Covid-19.
Com atividades e aulas on-line, 17% dos estudantes matriculados em escolas brasileiras não conseguem acompanhar o conteúdo programático escolar de forma satisfatória, segundo dados do Unicef.
Aflição é o que sentem os pais ao verem seus filhos sem aproveitar o ano letivo como os demais colegas da turma. Para a doméstica Edilene Santos, 44, ver a dificuldade que seus filhos têm para estudar em casa, sem internet, lhe parte o coração. Ela tem três filhos no ensino infantil e dois no ensino médio. Para os filhos menores, as aulas são entregues em papel, que ela busca na escola. Já os mais velhos assistem aulas pelo celular, com ajuda da internet disponibilizada pela irmã de Edilene, que mora próximo à família.
“É complicado, é muito difícil! A gente fica tentando ajudar sem poder, o coração fica partido, a gente fica pulando de galho em galho”, relata fazendo referência à necessidade de mandar os filhos estudarem na casa da irmã.
A queda no rendimento escolar diante dessa situação se faz notável na casa de Edilene, pois, algumas vezes, os filhos precisam esperar ela chegar do trabalho, à noite, para poder assistir às aulas. “Eles estão sendo prejudicados porque estudar à noite é ruim, é uma hora que eles já estão cansados e, infelizmente, às vezes é o único horário que eles podem estudar quando não conseguem a internet da minha irmã, e eu tenho que compartilhar do meu celular quando chego do trabalho”, conta.
Para ela, se as aulas fossem transmitidas na televisão a situação seria um pouco mais favorável. “Na tv ajudaria porque eles iriam estudar em horários programados, não iriam ter que me esperar chegar do trabalho, de noite, pra estudar com eles”, diz.
Tv Cultura Educação
Diante da realidade de muitos estudantes que não têm acesso à internet em casa, a TV Cultura, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo e a Secretaria Estadual de Educação, lançaram o novo canal TV Cultura Educação. A proposta é transmitir aulas e conteúdos educativos para 3,5 milhões de estudantes da rede estadual dos Ensinos Infantil, Fundamental e Médio, por meio do canal digital 2.3.
A previsão é de que pelo canal sejam transmitidas 10 horas diárias de conteúdo ao vivo voltado à Educação, de segunda a sexta-feira, além de programas educativos e aulas gravadas.
Dessa forma, todos os alunos podem acessar, gratuitamente, o aplicativo através de um aparelho celular, sem a necessidade de ter pacote de dados móveis disponíveis no momento.
Adia Enem
A falta de recursos em casa para estudantes que se preparam para o Enem levou o assunto à mesa de discussão de diversas instituições que, juntamente, com alunos do país, pressionaram o Ministério da Educação (MEC) a adiar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A possibilidade da realização do exame em novembro é vista como injusta para quem não tem condições de estudar em casa.
Assim, após diversas polêmicas, o MEC se posicionou sobre o assunto emitindo um comunicado oficial em que deu a entender haver possibilidade de adiamento da prova, porém, sem anunciar novas datas.
“(…) o MEC e o INEP reforçam possuir um diálogo sempre aberto junto às mais diversas entidades e à sociedade em geral, destacando que todas as sugestões e críticas apresentadas são importantes para o aprimoramento de suas atividades e que cada uma delas será avaliada e discutida, sempre buscando o que seja melhor para a educação brasileira”, diz trecho da nota.
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