O debate entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na noite deste domingo (16/10), foi marcado por ataques e trocas de acusações sobre a pandemia, corrupção, “fake news” e pobreza.
Lula buscou desgastar Bolsonaro ao explorar a falta de vacinas e os problemas da gestão federal para combater a covid-19. Em contrapartida, o presidente destacou o esquema de corrupção do “petrolão” durante a gestão petista.
Em comum, os dois candidatos se comprometeram a não aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), se eleitos. E chamaram um ao outro de “mentiroso”, ao longo do debate.
Corrupção
O presidente tentou colar no petista a faixa de ter feito o “maior esquema de corrupção do mundo” na Petrobras, e disse que Lula enterrou R$ 90 bilhões com obras de três refinarias que nunca foram concluídas.
Lula, no entanto, tentou rebater a acusação ao falar que os desvios só foram apurados porque Polícia Federal tinha liberdade de investigar. “Não tinha sigilo de filho, de cartão corporativo, tinha é portal da transparência e lei de acesso à informação“, citou o petista.
Em outro momento do debate, Bolsonaro, voltou a enfatizar o tema da corrupção e insinuou que houve uma suposta entrega de recursos do governo Lula para Venezuela. O petista, no entanto, rebateu e puxou o debate para o tema do salário mínimo, afirmando em seguida que o atual governo não concede reajuste com ganho real há três anos.
Pandemia
Já no início do debate, realizado na TV Bandeirantes, em um pool com o Uol, “Folha de S. Paulo” e TV Cultura, Lula procurou centrar suas críticas na gestão da pandemia.
Em sua primeira pergunta, o candidato do PT questionou o presidente sobre a falta de investimentos em universidades federais e escolas técnicas. “Durante a pandemia, as universidades ficaram fechadas. Não tinha cabimento fazer universidade para ficar fechada“, disse Bolsonaro. Na sequência, Lula criticou a falta de ações do presidente para combater a covid-19 e vinculou “metade das mortes” à “negligência” de Bolsonaro.
“O senhor debochou, riu, simulou pessoas morrendo engasgadas. Não há história de alguém que brincou com a pandemia e a morte da forma como o senhor brincou“, disse Lula. Bolsonaro voltou a defender tratamento precoce, que é comprovadamente ineficaz. “A questão do tratamento precoce, tendo ou não comprovação científica, tirou-se a autonomia do médico. A história mostrará quem está com a razão“, disse Bolsonaro.
Ao tentar se esquivar das críticas sobre a pandemia, o presidente puxou o assunto da corrupção. Bolsonaro rebateu a acusação de um esquema irregular na compra de vacinas e disse que não houve corrupção no caso da Covaxin porque a compra não foi efetivada. O presidente ainda afirmou que poderia “ter acabado com a CPI da Covid”.
Lula insistiu na questão da pandemia e disse que Bolsonaro carrega mortes da pandemia nas costas. “O senhor recebeu proposta de vacina muito cedo e não quis comprar vacina porque não acreditava na pandemia. Você tratava como uma ‘gripezinha’“, disse Lula. Além disso, o petista lembrou que Bolsonaro decretou sigilo sobre seu próprio cartão de vacinação.
O petista perguntou por que Bolsonaro não visitou famílias enlutadas pela Covid-19, mas decidiu ser “bonzinho” e ir ao enterro da Rainha Elizabeth na Inglaterra e Bolsonaro atacou o petista ao dizer que ele “fez discurso em cima do caixão da esposa”, em referência à Marisa Letícia.
Segurança Pública
Bolsonaro usou o tema da segurança pública para atacar Lula e o questionou sobre o motivo de não ter transferido presos para presídios federais, de segurança máxima.
O presidente afirmou que houve um suposto acordo com Marcos Camacho, o Marcola, chefe do PCC, durante o governo do petista. Em resposta, Lula disse que quem entende de criminoso é Bolsonaro, que teria relações com milicianos.
Pedofilia
Coube a Bolsonaro trazer para o debate o assunto sobre pedofilia, que ganhou as redes sociais nos últimos dias, depois de o presidente ter dito, em entrevista na sexta-feira, que “pintou um clima” com jovens venezuelanas, menores de idade, durante visita a uma comunidade do Distrito Federal.
Em meio a acusações sobre quem comete mais ‘“fake news”, Bolsonaro citou decisão deste domingo do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, que determinou a remoção dos vídeos em que o candidato do PL fala sobre as meninas venezuelanas da região de São Sebastião, no Distrito Federal (DF). Isso porque o vídeo foi usado para associar o atual presidente com a pedofilia.
Lula evitou citar diretamente o assunto, mas deu algumas indiretas e disse que Bolsonaro estava com a consciência pesada. O petista citou que Bolsonaro levantou à 1h para afirmar, em ‘live’ “que não fez isso ou aquilo”. “Quem te conhece sabe o que você fez“, disse o ex-presidente.
Orçamento secreto
O petista tentou vincular Bolsonaro ao Orçamento secreto, e o presidente disse ter vetado. “Eu jamais daria dinheiro para essa turma, nunca comprei voto de ninguém. Eu até queria que o orçamento estivesse nas minhas mãos, eu faria melhor uso“, afirmou. Lula disse que, se eleito, vai criar um orçamento participativo. “Vamos mandar para o povo dar opinião e diminuir o poder de sequestro do Orçamento pelo Centrão“.
O ex-presidente se descuidou ao cuidar do tempo que tinha e deixou Bolsonaro ficar com mais de 5 minutos no fim do debate, sem ter direito à réplica. O presidente voltou a bater no Bolsa Família, programa de transferência de renda que foi criado na gestão petista. Bolsonaro defende que Lula poderia ter pago mais para os beneficiários, mas não quis.
Bolsa Família x Auxílio Brasil
“Se dependesse do PT, você estaria recebendo Bolsa Família de R$ 40 a R$ 190. Meu irmão, pobre, sabemos da sua dificuldade, do seu sofrimento. Sabemos que você levanta de manhã para trabalhar”, disse Bolsonaro, olhando para a câmera de TV.
Lula conseguiu um direito de resposta e usou o tempo para lembrar das suspeitas envolvendo a família Bolsonaro, com a compra de ao menos 51 imóveis em dinheiro vivo.
“Você continua descaradamente mentindo. O povo não quer alguém que compre 51 imóveis, não quer mais rachadinha. Queiroz está escondido até hoje”, disse, em referência a Fabrício Queiroz, investigado por comandar um esquema de ‘rachadinha’ envolvendo a família Bolsonaro. O petista citou ainda gastos milionários do atual presidente no cartão corporativo.
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