Fruto das mentes brilhantes de Stan Lee e Jack Kirby, o Dr. Robert Bruce Banner e sua contraparte icônica nomeada como Hulk, um dos maiores “super-heróis” de todos os tempos, surgiram pela primeira vez em The Incredible Hulk nº 1, de maio de 1962, onde sua história de origem foi contada, e que mais tarde foi expandida em The Incredible Hulk nº 466, e na minissérie Planeta Hulk.
Dr. Bruce Banner era um brilhante cientista, que com seus esforços de pesquisa, desenvolveu sozinho a poderosa arma nuclear “Bomba Gama“. Durante os testes da bomba, um jovem garoto invade o local, ficando na área de ação da bomba. O Dr. Banner então sai do bunker de proteção com a intenção de salvar o garoto, onde consegue, porém, é exposto aos raios gama provenientes da explosão.
Com isso, seu DNA sofreu uma mutação, e toda vez que ficava estressado ele se transformava em uma grande criatura originalmente cinza, mas que vai assumindo a cor verde (inicialmente por um erro de impressão), chamado Hulk. Com o passar do tempo sua fúria e força cresceram cada vez mais, gerando pânico na população. Isso fez com que o governo norte-americano criasse uma unidade militar especial chamada “Os Caça-Hulk“.
Um fato curioso de sua apresentação inicial e o que dificultou a caça da Unidade, é que no início do personagem, Banner só se transformava a noite. Posteriormente essa característica foi sumindo e ele passou a sofrer a metamorfose em horários variados, conforme era consumido pela raiva.
Com a presença cada vez mais frequente do destrutivo mostro, Banner passa a viver recluso, em muitas de suas histórias aparece fugindo e sendo perseguido. Em uma delas ele se envolve em uma luta com Thor, devido a uma armação de Loki. Após um grande embate, o Deus do Trovão, ao lado do Homem de Ferro, Homem Formiga e Vespa, descobrem o plano do Deus da Trapaça. A união entre todos dá origem a primeira formação do Vingadores.
Mas o grandalhão verde fez parte de várias outras equipes e até mesmo ganhou sua própria em Hulk e o Agentes de Smash. Versão contemporânea que conta com toda uma equipe de heróis gama, sendo comandados pelo Hulk.
Duas de suas principais sagas, Planeta Hulk e Hulk Contra o Mundo, contam a história de quando o herói se tornou (na visão do conselho dos Iluminatis, formado pelas mentes mais brilhantes da terra) uma ameaça ao planeta. A solução seria isolar o monstro em um outro planeta inabitado. O plano quase deu certo, mas no caminho, a nave com o Hulk, acabou indo parar em Sakaar (fato semelhante ocorre no MCU). No novo planeta, o herói não só salva a população que sofria com um tirano, como se torna o novo imperador.
Tudo vai bem, porém na história contada em Hulk Contra o Mundo, o agora soberano de Sakaar, tem todo o seu novo lar destruído pela explosão de sua nave. Após acreditar que o plano dos seus ex-companheiros terráqueos era elimina-lo, e cego por perder tudo o que tinha conquistado no novo lar, o Golias Esmeralda, retorna a Terra, junto com os membros restantes de sua guarda em Sakaar. Ao chegar, ele luta e vence a praticamente todos os heróis da editora.
Com muitas outras histórias e um grande sucesso mundial, o Hulk é um dos heróis mais queridos da Marvel. Sua popularidade rendeu várias adaptações paras as mais diversas mídias, como filmes, séries e desenhos animados dos mais diversos tipos. Além de sua presença constante sempre que alguém falar em Vingadores.
No MCU atualmente o Hulk é sua versão mais lúcida, o Professor Hulk, interpretado pelo ator Mark Ruffalo. Vivendo toda a sua transição cognitiva, indo de sua versão brutal e desequilibrada, a sua versão mais moderada atual.
OBS: O texto a seguir se atém a fatos ficcionais, e todo o seu conteúdo faz parte de um copilado de ideias e interpretações de seus autores.
Traumas são elementos definidores de personalidades. Em grande parte dos heróis da Marvel podemos encontrar diversos tipos de traumas que geram gatilhos para a construção do senso de proteção e heroísmo. Não é diferente com Hulk. Os traumas suprimidos do nosso doutor, têm influência direta em como a manifestação do seu alter ego se desenrola.
Se no início da narrativa observamos o doutor lutando contra aquilo que estava dentro de si, ao final, podemos perceber a mensagem de aceitação e tomada de consciência sobre seu atual poder e o passado que o constituiu. A bomba gama nesse sentido, além de ter sido sua maior invenção foi um estopim para que suas questões adormecidas pudessem ter uma válvula de escape.
Inicialmente pensávamos que apenas dois indivíduos partilhavam o mesmo ser, com Bruce Banner e Hulk sendo os únicos a dividirem corpo e mente. Relação simbiótica na qual os dois se digladiavam pelo controle, onde ora o Banner estava no controle e sentia que o Hulk, o parasitava como uma doença sem cura, ora o Gigante Esmeralda, nutria o mesmo ódio e sentimento em relação a seu “companheiro de quarto“.
Completamente opostos em cerne, o monstro age como uma enorme bomba gama, constantemente destruindo tudo por onde passa e sendo consumido pelo mesmo ódio que o fortalece. Do outro lado da equação, o Bruce tem em seu intelecto e “sessão de controle”, o poder sobre uma das maiores mentes da editora. O que acontece nas mais diversas mídias, sendo, nesse sentido, geralmente retratados com suas psiques fidedignas as HQs.
Com o tempo e sendo mais explorado, proporcionalmente ao seu sucesso, alguns detalhes do lado psíquico do personagem vão sendo libertos. O retorno de sua versão cinza, com a editora tendo em simultâneo três personagens em um: Bruce Banner, Hulk (verde) e Hulk (cinza), posteriormente conhecido como Joe Fixit. Sua capacidade cognitiva o diferenciava, talvez por isso seja essa uma das versões mais conhecidas do personagem.
O Hulk cinza, nesse sentido, é a fusão de todo o poder destrutivo do monstro verde, com a consciência do Banner. Seus traços mais egoístas em algumas passagens, nada mais são do que as vicissitudes próprias do ser humano. Crueldade, vícios, decepções e remorsos também fazem parte da jornada de qualquer herói.
A construção de Hulk, não só apresenta isso, como também, abre espaço para a possibilidade de domesticação das nossas raivas interiores. Saber quando ceder ou não aos impulsos, é a lição final do Golias Esmeralda.
Um ponto interessante sobre os problemas de ordem psíquica do herói, só foi revelado posteriormente pela editora, as outras versões, seriam frutos do que é descrito como um “transtorno de múltiplas personalidades” do Banner. Trancadas e suprimidas por ele desde a infância, algumas vezes devido ao comportamento do seu pai, outras oriundas de seus sentimentos enclausurados, crescendo, sendo reprimido e gerando ramificações.
Esses traumas de infância foram menos explorados, do que seria interessante diante da relevância deles para a construção do etos do personagem. Todavia temos no seu primeiro filme Hulk (2003), um leve vislumbre sobre os maus tratos e experiências feitas no pequeno Bruce. Nas HQs que exploram essa história, sua mãe se sacrifica quando seu pai tenta matar ele. Assim o pai de Banner vai para a cadeia, e ele passa a ser criado por uma tia.
Durante muito tempo essa história esteve oculta do grande público, porém após sua revelação, alguns fatos pareceram conectados, com essa imagem materna de proteção sendo encarnada em figuras femininas da vida do Hulk. Nas HQs, a filha do General Thaddeus E. “Thunderbolt” Ross, Betty Ross, é o grande amor da vida de Bruce, e uma das poucas capazes de acalmar o mostro, a ponto dele voltar a ser o franzino Banner. No MCU isso é adaptado e a Viúva Negra é quem tem essa função, até mesmo usando uma música “que fala que o sol vai se pôr” como uma canção de ninar.
Os exemplos fazem pensar se Hulk teria nestas figuras a confiança capaz de despertar-lhe a sensação de segurança e acolhimento materno, assim acalmando-o. Já figuras agressivas, imponentes e masculinas, despertariam uma reação contrária, como um mal a ser combatido. O que ajuda a canalizar os seus atos heroicos em combate aos vilões, que no geral não são nada ternos, a exemplo do seu arqui-inimigo “Abominável”.
Mas claro, com múltiplas personalidades, essa característica do Hulk também muda, a exemplo de uma das versões mais famosas “O Maestro”, que já apareceu tanto em HQs, quanto em animações e até games. Um Hulk completamente louco devido o envenenamento por radiação, o que ocorre em um mundo pós-apocalíptico, onde a terceira e quarta guerra mundial devastaram a terra. Sobrando apenas o Hulk, que foi capaz de absorver toda a radiação e se tornar soberano entre os habitantes restantes. Essa versão é tida como uma das mais fortes e cruéis dos quadrinhos.
Já o Professor Hulk das HQs é um retrato fiel da nossa ideia inicial de Ipkissia Máskarose, visto que este, em dado momento, se dedicou a “curar” qualquer portador de raios gama, mesmo contra a vontade (em alguns casos). Um Doutor, determinado a extirpar o Hulk (que também era ele mesmo) da existência, que felizmente para uns e infelizmente para outros, foi retratado (até aqui) como “muito bonzinho” no MCU.
Talvez seja justamente nas telonas onde sua trajetória ficou mais visível, e sua mudança de personalidade. Nos primeiros filmes, o Hulk odeia o Banner, depois em um dado momento do primeiro Vingadores (2012), eles “aprendem a conviver“, mas não chegam a fazerem um “trato“. O que acontece na animação “Os Vingadores: Os heróis mais poderosos da Terra“, onde eles combinam que o Hulk vai tentar ajudar e viver como um herói, em troca da “titularidade do corpo“.
O acordo é interessante, principalmente pelo “Banner” tentar agir como uma consciência para o Hulk, o que vai dando ao grandão um certo domínio de sua força, ao ponto de realmente “pensar” como um herói, calculando quem é amigo ou inimigo, e até mesmo evitando destruições desnecessárias.
Voltando ao MCU, o personagem faz o arco de evolução cognitiva mais interessante das telonas, inicialmente como “herói“, depois entendendo a ameaça, em potencial, que representa e ainda posteriormente se isolando (por vontade própria e não sendo ludibriado como acontece na saga das HQs), quando parte no Quinjet ao final de Vingadores: Era de Ultron (2015). Posteriormente em Sakaar, vemos um Hulk mais falante, e demonstrando uma clara evolução, o que o deixa mais controlado. Essa linha ascendente vai culminar no Professor Hulk, no MCU apresentado em Vingadores Ultimato (2019).
Outro ponto interessante envolvendo o herói e Sakaar, é o que vimos nas já citadas sagas Planeta e Hulk e Hulk Contra o Mundo. Na primeira, vimos essa evolução cognitiva acontecendo durante sua estadia no “planeta dos gladiadores”, sendo ele não só capaz de lutar pela liberdade do povo, como gerir todo um planeta como um bondoso soberano. Até mesmo constituindo uma família, sem recorrer ao Banner, lá o Hulk poderia ser ele mesmo e isso não era um problema.
Já no segundo arco, após perder tudo o que tinha conquistado e até mesmo sua mulher grávida, ele parece surtar novamente e quando volta à Terra consumido por seu ódio, ele derrota a todos, porém não mata ninguém. O que mais uma vez é prova da sua capacidade cognitiva evoluída, onde embora deseje a vingança, não se torna assassino para alcança-la.
Nas histórias do Hulk podemos ver não só o poder dos raios gama, mas também de seus sentimentos reprimidos e o quanto eles se tornam, nestas circunstâncias, uma bomba relógio prestes a explodir. A pressão que esses sentimentos causam é tão esmagadora (termo que tem tudo a ver com o personagem) que o faz perder o controle.
Assim podemos concluir que: Vindo de uma série de transtornos oriundos de traumas profundos; com um senso moral fragmentado em diversas personalidades, com características e até poderes distintos; tendo tentando dar um fim a própria vida, o que só não ocorre pois segundo o Banner “O outro cara cuspiu a bala”; e pelo risco em potencial a humanidade e a si mesmo, o Hulk precisa muito de ajuda. Porém, o Banner é o verdadeiro caso grave de “Ipkissia Máskarose”.
Gostou do texto? “Ipkissia Máskarose”, estará de volta na próxima semana com um novo personagem. Você pode nos ajudar a escolher ele comentando abaixo o que achou e qual personagem quer ver na próxima matéria.
Por: Augusto “Clark” Miranda, Hiago Luis e Luiz Carlos “Capitão”