O número de pessoas que tiraram a própria vida ao longo de 2020 no Rio Grande do Norte aumentou 11,06% em comparação com o ano anterior. Em números absolutos, cujo levantamento foi feito pelo Instituto Santos Dumont (ISD) junto ao Observatório da Violência do Rio Grande do Norte (OBVIO/RN), foram 226 lesões autoprovocadas em 2019 contra 251 em 2020.
A preceptora multiprofissional em Psicologia do ISD, Carla Glenda Silva, analisa os números e chama atenção para o número crescente de crianças e adolescentes com pensamentos e ideação suicidas. O 10 de setembro foi instituído como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
“Se nós pensarmos nas faixas etárias, devemos levar em consideração o momento da vida de cada uma dessas pessoas. A criança também tem depressão, assim como ocorre com adolescentes e adultos. Então, em cada faixa etária dessa, a motivação para o suicídio pode ser diferente. Nós podemos ter motivações como o bullying, como a separação dos pais, indiferença da família, ausência de figuras parentais importantes, a desorganização financeira, o momento recente que vivenciamos em relação à pandemia onde muitas pessoas perderam o emprego… Com isso, as questões financeiras e da vida cotidiana se tornaram desesperadoras para algumas pessoas”, afirma Carla Glenda Silva.
A preceptora multiprofissional, que atua no acolhimento de pacientes no Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita), em Macaíba, ressalta que é preciso estar atento às mudanças de humor. “É preciso estarmos atentos ao estado de humor das pessoas. A depressão é um dos fatores que favorece as ideações suicidas, à intenção em acabar com a própria vida ou mesmo o ato definitivo de levar a cabo aquilo que está se planejando”, ressalta Carla Glenda Silva. Conforme dados do Ministério da Saúde, a depressão é a principal causa dos suicídios em todo o Brasil. Em segundo lugar está o transtorno bipolar e, em seguida, o uso de substâncias.
Levantar causas específicas para explicar o aumento das taxas de suicídio no Brasil é um complexo trabalho, diante da sensibilidade e individualidade de cada conduta. Entretanto, para o pesquisador integrante do OBVIO/RN, Ramiro Vasconcelos, a pandemia e as redes sociais podem ter ligação direta com a elevação dos casos em 2020. Recentemente, o adolescente Lucas Santos, de 16 anos, ceifou a própria vida após ser vítima de perseguição nas redes sociais em razão da postagem de um vídeo. Esse é apenas um dos milhares de exemplos mundo afora do quão danosas podem ser as redes sociais para quem está passando por um momento difícil.
“Em linhas gerais, por assim dizer, eu colocaria a pandemia, redes sociais (e derivados na Internet) e ambiente acadêmico. Daí no tocante à pandemia, envolve fatores também econômicos em que diversas pessoas perderam empregos. Gerando assim, fragilidade. Quando se convive em um momento de incertezas, pessoas mais suscetíveis e frágeis tendem a entrar em um processo depressivo. É um efeito bola de neve. A pandemia, em específico, desencadeou grandes transtornos sociais, econômicos e culturais. Imagina que de uma hora para outra temos que ficar trancafiados muitas vezes dentro de casa, percebendo o mundo num caos?”, frisa o pesquisador Ramiro Vasconcelos.
Números
Analisando os números levantados pelo Instituto Santos Dumont junto ao OBVIO/RN, a maioria das vítimas da lesão autoprovocada no Rio Grande do Norte são homens. Em todo o ano passado, 199 homens cometeram suicídio no Estado (há registros em quase todos os municípios potiguares). A vítima mais idosa tinha 102 anos e a mais nova, 14. No mesmo período, foram registrados 52 suicídios entre mulheres (aumento de 57,57% em relação ao ano anterior). A vítima mais idosa tinha 84 anos e a mais nova, 15. Em 2019, o total de homens que tiraram a própria vida no Rio Grande do Norte foi de 193. O quantitativo de mulheres foi de 33.
Conforme dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), são registrados mais de 13 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Trata-se de uma triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais. Em mais de 98% dos casos, o suicídio foi causado por transtornos mentais não tratados corretamente ou não identificados/acompanhados.
“Precisamos orientar e conscientizar a sociedade sobre a prevenção do suicídio, por isso, neste mês de setembro, nós concentramos os nossos esforços na prevenção efetiva. A morte por esta causa é uma emergência médica e pode ser evitada através do tratamento adequado do transtorno mental de base“, afirma o presidente da ABP, Dr. Antônio Geraldo da Silva.
Principais fatos
Para cada suicídio, há muito mais pessoas que tentam o suicídio a cada ano. A proporção chega a 1 suicídio efetivado para 25 tentados. A tentativa prévia é o fator de risco mais importante para o suicídio na população em geral.
O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos.
Cerca de 79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda.
Ingestão de pesticidas, enforcamento e armas de fogo estão entre os métodos mais comuns de suicídio em nível global.
Setembro Amarelo
A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina, promove pelo oitavo ano consecutivo a campanha do Setembro Amarelo, com o tema “Agir salva vidas”. A ação, que foi implementada no Brasil em 2014, tem como principal objetivo diminuir índices de suicídio. A iniciativa se estende por todo o mês, tendo como data principal, o dia 10 de setembro – Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
No Brasil, os casos passam de 13 mil por ano, podendo ser bem maiores em decorrência das subnotificações. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que a cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio no mundo. Já ao que se refere às tentativas, uma pessoa atenta contra a própria vida a cada três segundos. Em termos numéricos, calcula-se que aproximadamente um milhão de casos de óbitos por suicídio são registrados por ano em todo o mundo.
Para buscar ajuda, você pode ligar gratuitamente para:
Centro de Valorização da Vida (CVV): 188
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