Bárbara Azevedo, de 40 anos, é gerente em uma universidade privada de Natal. Casada, mãe de três meninos, triatleta amadora, também adora cozinhar e estudar Filosofia Prática. “Quando conto sobre a minha rotina a alguém que não me conhece de perto, surge a ideia de que minha vida é uma loucura e vivo sufocada, o que não é verídico, pois tenho uma vida muito bem planejada, com horário para tudo”, conta.
Ela faz parte de uma nova geração de mulheres, que defendem a liberdade de ser e fazer o que quiserem, quebrando padrões de comportamento obsoletos e traçando um novo rumo na luta pela equidade de gênero no mundo. O Brasil, porém, caiu uma posição no ranking que mede igualdade de gênero em 144 países, ficando na 78ª colocação. O dado faz parte do Índice de Gênero dos ODS 2022, desenvolvido pela Equal Measures 2030, um relatório global que avalia a evolução dos países em metas e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para a agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Durmo cedo, acordo muito cedo, às 4h30, exercito-me, levo os meninos para a escola e sigo para o trabalho, no qual me sinto muito realizada profissionalmente. Comecei na UnP, em 2007, como técnica de nível superior, e, desde então, passei por diversos cargos”, continua Bárbara.
Embora tenha ascendido na vida profissional, ela comenta que não consegue contar quantas vezes foi a única mulher numa sala de reunião e afirma que luta para a mudança dessa realidade. “Reconheço que a ascensão profissional me conferiu um lugar de privilégio na sociedade e tenho consciência desse meu lugar. Mas, no passado, já cheguei a ser questionada se, quando eu fosse viajar, quem ficaria com meus filhos e como seria a minha rede de apoio. Estou certa de que nenhum homem teve que responder a isso. Só uma mulher sabe o que é escolher uma roupa a depender do ambiente ao qual irá ou ter que pensar se o perfume ou a cor do batom vão chamar atenção demais ou de menos“, desabafa.
Remuneração
As mulheres ainda ganhavam 19,9% menos que os homens no mercado de trabalho em 2021, segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) elaborado a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, a disparidade salarial era ainda maior entre profissionais com mais anos de instrução. Entre trabalhadores com ensino superior completo, elas ganhavam 36,4% menos que os homens com o mesmo grau de ensino.
Ainda de acordo com a pesquisa, o rendimento médio habitual das mulheres foi de R$ 2.255 em 2021 contra R$ 2.815 dos homens. Considerando-se só trabalhadores ocupados que concluíram o ensino superior, a renda média subiu a R$ 6.647 entre os homens contra um resultado de R$ 4.228 para mulheres.
Assim como Barbara Azevedo, Sheylla Cavalhachi, 45 anos, supervisora de relacionamento com escolas e empresas, também é funcionária de uma instituição de ensino superior em Mossoró e considera estar “há 18 anos fazendo parte da história e transformando vidas por meio da educação”.
Sheylla não sente que precisa cumprir uma jornada múltipla entre trabalho, família e hobbies, já que considera o labor uma extensão da casa, a qual tem como “mais importante patrimônio”. “Na UnP, passei por cargos de administração, tesouraria, assistência de direção. Sou grata por ser colaboradora de uma instituição que se preocupa com a responsabilidade social das empresas e, assim, reafirma o compromisso com a equidade de gênero”, explica.
Ela ressalta que, ainda hoje, faz parte de uma minoria em posições de liderança. “Diante disso, é um orgulho poder representar a força da mulher no mercado laboral. A sociedade ainda está aprendendo a nos ver como referência profissional. Minha maneira de enfrentar o preconceito é com a competência, ouvindo, falando, executando e servindo com amor”, diz.
Avanço
Embora Sheylla tenha essa sensação de estar entre uma minoria de líderes femininas, a situação melhorou e é cada vez mais comum. Assim, deparar-se com mulheres em cargos de liderança tem se tornado cada vez mais comum. Segundo estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) elaborado a partir da Pesquisa do IBGE (PNADC), o empreendedorismo feminino ganhou força no último trimestre do ano passado.
Após recuar para um total de 8,6 milhões de donas do próprio negócio, no segundo trimestre de 2020, o número de mulheres à frente de um negócio no país fechou o quarto trimestre de 2021 em 10,1 milhões (mesmo resultado alcançado no último trimestre de 2019). No Rio Grande do Norte, 35% dos negócios são comandados por mulheres.
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