Quase metade dos estados brasileiros tinha mais beneficiários do Auxílio Brasil do que trabalhadores com carteira assinada em março deste ano.
De acordo com levantamento do g1, feito com base nos números do programa social fornecidos pelo Ministério da Cidadania e do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho e Previdência, em 13 estados o número de famílias que sobrevivem do dinheiro do Auxílio Brasil é maior que o das que vivem da renda do trabalho formal, com vínculo CLT.
Dentro desses 13 estados, está o Rio Grande do Norte e todos os outros do Nordeste, além de quatro da região Norte (Acre, Amazonas, Amapá e Pará).
Auxílio Brasil x Vagas CLT em março
Em negrito, estados com mais beneficiários do Auxílio que trabalhadores por CLT:
As maiores diferenças entre o número de beneficiários do auxílio e empregados com carteira assinada estavam nos estados do Maranhão (576.411 mais beneficiários do que CLT), Bahia (412.290), Pará (332.706), Piauí (241.874), Pernambuco (155.548), Paraíba (188.546), Alagoas (118.974) e Ceará (110.915).
Desemprego no País
O levantamento analisou ainda os dados da Pesquisa Nacional do IBGE.
No primeiro trimestre, a taxa de desocupação ficou acima da taxa nacional – de 11,1% – em 13 estados e no Distrito Federal. Não surpreendentemente, estão entre eles 12 dos 13 locais que têm maior número de beneficiários do auxílio do que trabalhadores CLT.
Taxa de desemprego por estado
Dos 14 locais com taxas superiores à nacional, 12 têm mais beneficiários do Auxílio Brasil que trabalhadores CLT:
- Bahia 17,6%
- Pernambuco 17,0%
- Rio de Janeiro 14,9%
- Sergipe 14,9%
- Acre 14,8%
- Paraíba 14,3%
- Alagoas 14,2%
- Amapá 14,2%
- Rio Grande do Norte 14,1%
- Amazonas 13,0%
- Maranhão 12,9%
- Distrito Federal 12,6%
- Piauí 12,3%
- Pará 12,2%
- Ceará 11,0%
- São Paulo 10,8%
- Minas Gerais 9,3%
- Tocantins 9,3%
- Espírito Santo 9,2%
- Goiás 8,9%
- Roraima 8,8%
- Rio Grande do Sul 7,5%
- Rondônia 6,9%
- Paraná 6,8%
- Mato Grosso do Sul 6,5%
- Mato Grosso 5,3%
- Santa Catarina 4,5%
Precariedade do mercado
Para Ecio Costa, economista pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pós-doutor em economia pela University of Georgia (EUA), esses números mostram que quanto maior a precariedade do mercado de trabalho, maior a dependência do programa social.
“É reflexo da pobreza, do desemprego e da informalidade nas regiões Norte e Nordeste, indicando alta dependência do dinheiro público e necessidade de políticas de desenvolvimento econômico regional”, afirma.
Costa lembra que a pandemia levou o governo a criar o Auxílio Emergencial, que trouxe um impacto significativo na vida das famílias e na economia dessas regiões – estudo conduzido por ele mostrou que o peso do auxílio sobre o PIB de alguns municípios passou de 30%.
“O Auxílio Brasil substituiu o Bolsa Família e vai trazer o mesmo tipo de impacto sobre as famílias e municípios mais pobres no Brasil. Mas, como pode se compreender a partir desse levantamento, o problema é muito maior“, diz.
“Políticas de desenvolvimento regional são a solução para resolver essa grande disparidade regional. O Auxílio Brasil atenua no curto prazo, mas a saída precisa vir de políticas que desenvolvam o capital humano, através da educação, e as potencialidades econômicas regionais. Enquanto não se pensar em longo prazo, a dependência de programas sociais será constante”.
Costa aponta que antes da pandemia, 8 estados tinham mais pessoas dependendo de benefícios sociais que vivendo de empregos formais. Em 2020, esse número subiu para 10. Já em fevereiro deste ano eram para 12, e em março, subiu para 13. Ou seja, a cada mês recordes vêm sendo batidos.
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