Nesta sexta-feira (6), Patrício Pitbull colocará o cinturão dos penas (até 66 quilos) do Bellator em jogo pela terceira vez contra um adversário já conhecido: Daniel Straus, com quem o potiguar já lutou duas vezes, incluindo uma defesa de cinturão bem sucedida. Os desafios da categoria, Renan Barão e José Aldo, os próximos nomes que podem enfrentá-lo na divisão e a possiblidade de lutar no novo Pride foram alguns dos pontos abordados pelo faixa preta de jiu-jitsu. Confira na entrevista exclusiva concedida ao Blog Gladius, abaixo.
Blog Gladius – Hoje, você fará sua terceira defesa de cinturão, oportunidade que vai enfrentar pela terceira vez Daniel Straus, um lutador que você conhece muito bem. Na primeira você venceu por pontos, a segunda por finalização. Agora é o nocaute?
Patrício Pitbull – Tanto a primeira luta quanto a segunda foram duras, mas na segunda ele chegou perto de acabar algumas vezes. Ele abriu meu rosto, me deu um knock down e nenhum homem tinha feito isso comigo na minha carreira interira, nem em treino. Então, ele é um adversário à altura. Ele é um cara muito bom e eu respeito isso. Mas dessa vez eu tenho o plano certo para fazer com que a luta não se torne uma luta.
Blog Gladius – Antes dessa luta você enfrentou Daniel Weichel, um lutador que pouca gente achava que pudesse complicar algo para você, mas foi uma luta dura também…
Patrício Pitbull – É, aquele cara fazia um tempo que não perdia. A última derrota dele tinha sido para Musa Khamanaev, em 2012. Ele também tinha acabado de vencer o GP dos penas, tinha vencido uma luta casada contra o ex-campão da divisão, Pat Curran. Então, ele vinha de uma sequência de vitórias muito boa, vinha com um ritmo muito bom. Ele me pegou numa finta errada que eu fiz. Eu não voltei com a mão alta, coisa que geralmente eu não faço. Ele conseguiu colocar um golpe no meu queixo e eu ia sendo nocauteado, mas ele foi com muita sede ao pote e acabou que eu nocauteei ele, graças a Deus.
Blog Gladius – Patrício, fazendo uma comparação com o UFC, mas em categoria diferente. Demetrious Johnson, campeão dos moscas, já encarou Joseph Benavidez duas vezes, John Dodson também duas, Ian McCall também em duas oportunidades. Voltando a Bellator, você também vem recorrentemente encarando as mesmas figuras. Falta renovação ao MMA?
Patrício Pitbull – O Bellator tem investido muito em novos talentos dentro da organização. Acabou de entrar Toninho Fúria, mas ele perdeu logo de cara e não conseguiu iniciar uma história de vitórias dentro da organização. Tem Jonh Macapá que tem duas ou três vitórias consecutivas no Bellator, tem Goiti Yamauchi, que é um lutador muito bom, habilidoso, mas que no meio do caminho teve uma derrota. A dificuldade é ter um lutador que crie uma história para disputar o título. Por isso que eu estou esbarrando em Daniel Straus, Pat Curran, porque eles conseguem se manter no topo da categoria. Após essa luta eu vou dar uma parada de uns cinco meses e a categoria vai ter tempo de construir uma história. Daí vai sair um desafiante. Eu soube que [Georgi] Karakhanyan, um cara que eu nocauteei em 2011, vai lutar contra Daniel Weichel, o cara que eu nocauteei na última luta. Então, provavelmente, daí pode sair um adversário. Ninguém sabe o que pode acontecer, mas cada vez mais atletas estão vindo.
Blog Gladius – Muita gente comenta sobre a mudança de estilo do lutador. Um exemplo é José Aldo. Dedé Pederneiras já respondeu uma vez sobre a mudança de jogo dele, quando criticavam ele por não ser mais o mesmo lutador do WEC, dizendo que não dá mais para ser franco atirador porque agora ele tem algo a perder. Você concorda com essa afirmação agora que detém o cinturão? Você se tornou mais defensivo do que ofensivo já que o campeão é bastante estudado?
Patrício Pitbull – E eu estudo os outros também, claro. Eu estudo até taekwondo, karatê. O campeão tem que sempre estar mostrando uma coisa diferente senão ele vai ser decifrado. Acho que o grande segredo do campeão é não deixar que os outros percebam que ele tem um código. Aldo se camufla e consegue fazer isso, mas ele tem só um jogo. Chuta a perna, joelhada de encontro, tem mãos rápidas, não leva queda. Basicamente isso. A aproximação dos adversários ele também não permite. Sempre que vai acontecer algo de errado ele antecipa. Quando é atacado e é acertado, no final sempre quem ataca por último é ele. Ele devolve a sequência. Ele é um cara competitivo, isso é muito bom.
Eu sempre fui um cara muito cauteloso. Eu não gosto de atirar golpes em vão. Não gosto de fazer ataque por fazer. Mas agora, como campeão, a gente tem que se manter na oposição de ir mais confortável ainda, de não se pôr em risco porque a gente tem o que perder. Porém, nossos adversários não querem saber disso. Quando eles tentam ditar o ritmo da violência na luta é aí que eu pego eles.
Blog Gladius – Como foi com Weichel?
Patrício Pitbull – Exato!
Blog Gladius – Você explicou um pouco do jogo de Aldo, que ele não se deixa decifrar. Talvez o companheiro de treinos dele, Renan Barão, tenha sido decifrado por Dillashaw ou o jogo não casou mesmo?
Patrício Pitbull – Eu tenho uma opinião muito incisiva sobre o que aconteceu com Renan Barão. Eu evito até dar entrevista falando sobre isso, mas é uma coisa que o mundo inteiro sabe. A luta de Barão teve vários fatores que fizeram com que ele perdesse novamente. Primeiro, desde aquela primeira luta, ficaram dizendo que Barão perdeu a luta porque tomou uma mão. Cara, um soco faz isso. Você toma um soco na cabeça e isso vai fazer você entrar em knock down. Normal, isso vai acontecer. Todo mundo ficou colocando isso na cabeça dele. “Não, você só perdeu porque tomou uma mão”. Chegou na outra luta, ele não tinha uma estratégia B ou C. Ele foi lá pra trocar. O cara trocava de base para chutar a cabeça dele e ele entrava chutando por dentro. Isso era uma das coisas certas que ele estava fazendo. Mas era só isso. Não tinha ninguém no córner dele que era estrategicamente correto na trocação. Quem tava? Jair [Lourenço], Dedé Pederneiras e Breno “Catraca”, todos três do jiu-jitsu. O cara não vai botar Barão para baixo e fazer chão com ele. O cara tava lá pra assassinar ele em pé. E foi o que aconteceu.
Barão é um lutador que usa a mão para chutar. A maioria dos nocautes deles é com o joelho, com a perna. Acho que uma ou duas lutas dele acabou com golpes de mão, com socos. Isso é um estilo dele, até porque ele treinou kickboxing durante muito tempo, que é mais ou menos isso, mãos rápidas e chutes fortes. Mas eu gosto de bater mais forte. Aprendi desde 2010, lá na Team Nogueira, e dei uma renovada no meu treinamento. O lutador tem que estar sempre se reinventando, mesmo que todo mundo fale que você está bem, que limpou a categoria. Não, sempre haverá alguém que vai estar estudando você, alguém que vai estar vendo um buraco no seu jogo. Isso é normal. Ninguém é perfeito.
Blog Gladius – Você já fez lutas duras com Daniel Straus e Pat Curran. Contra este último você perdeu por decisão dividida após passar 22 meses afastado do cage, mas não contestou tanto o resultado quanto na luta contra Joe Warren, em 2010, a sua primeira derrota na carreira. É uma luta que você ainda pensa em fazer?
Patrício Pitbull – É uma luta de desejo pessoal meu porque aquela foi uma luta que não me vi perdendo. Muita gente achou que eu perdi, que eu venci, que foi empate, mas deram a vitória por decisão dividida para o meu adversário. Eu tenho 11 anos de carreira profissional, perdi apenas para dois adversários, ambas por decisão dividida, para lutadores americanos, com árbitro americano em uma organização americana. Então, é uma coisa muito duvidosa. Será que eu perdi mesmo? Será que eu não sou invicto até hoje? Então, queria fazer isso acontecer, mas hoje em dia é uma luta que não faz sentido. Ele está vindo de derrota, não tem mais o título, baixou de categoria. Se tivesse com o cinturão e tivesse vindo de vitórias eu diria: “vamos lutar pelo seu cinturão ou pelo meu, Joe Warren”. Eu aceitaria. Mas é um cara que eu ainda lutaria com ele a hora que ele quiser.
Blog Gladius – E ainda está afastado do Bellator por causa do doping após ter sido flagrado com a substância presente na maconha…
Patrício Pitbull – É, ainda tem isso.
Blog Gladius – Uma coisa interessante a ser falar…
Patrício Pitbull – Já sei. Free Nick Diaz. Free Nick Diaz.
Blog Gladius – Você não concorda, então, com a punição a ele?
Patrício Pitbull – Tá errado. Eu acho que prejudicaram Nick Diaz porque ele enfrentou a Comissão (de Nevada). Ele pegou um advogado e não aceitou o resultado. Com Jon Jones foi deferente. Ele foi lá no julgamento, aceitou tudo, pediu perdão, se ajoelhou e disse “arranque minha cabeça”. Nick Diaz não. Foi brigar pelos direitos dele, foi uma coisa que aconteceu e ele não aceitou. Só que na Califórnia é permitido o uso da maconha, o uso medicinal. E ele sofre de ansiedade. Não é defendendo o uso da maconha, claro que não. Mas o uso medicinal da planta é permitido. Até o Exército americano trata alguns ex-combatentes com a maconha. Então, é um negócio que tem que ver. Jon Jones foi pego com cocaína e não pagou nem multa. Não faz sentido, não faz sentido.
Blog Gladius – Sobre o Rizin (novo Pride), você acha que o fato de eles permitirem as regras que valiam no Pride mancha a visão que o espectador pode ter do esporte agora, com a liberação do tiro de meta, por exemplo?
Patrício Pitbull – Acho que não. Tem público pros dois. O Rizin é um evento que vai ser no Japão, provavelmente transmitido pro mundo todo. O Pride é um evento que todo mundo tem saudade, que quer ver. É o esporte mas com regras diferentes. Muitos lutadores da época foram prejudicados porque tiraram grande parte do que podia no Pride e não poderia ser usado no UFC, como tiro de meta, aquelas coisas. Shogun se atrapalhou e vários outros que não puderam fazer uso dos golpes. Talvez, não tenham sido mais campeões do UFC por causa desse impedimento. Eu acho que só tem a crescer o esporte. Claro, vão existir os críticos porque é uma coisa muito violenta, mas é questão de costume. Daqui a pouco vão dizer :”Vai, chuta a cabeça dele”. (risos).
Blog Gladius – O Rizin também tem uma parceria com o Bellator. Você já deixou claro em diversos momentos que é fã do Pride e que alugava as fitas VHS para assistir às lutas…
Patrício Pitbull – Demais, eu não perdia uma.
Blog Gladius – Será que você não poderia fazer uma luta lá?
Patrício Pitbull – Eu adoraria. Inclusive, já mandei o pedido para os caras do Bellator. Já pedi para lutar o Glory também porque o Bellator tem várias parcerias. O Glory também é da Viacom (conglomerado de mídia norte-americano que detém os direitos do evento assim como do Bellator). Eu estou à disposição. Gosto de lutar. Eu adoro aquele negócio de japonês de não ter peso, de lutar em qualquer peso. Eu luto com qualquer um. Peso pesado, 77 kg, 84 kg, com qualquer um eu luto. Não tendo quatro braços (risos).
Quer receber as principais notícias do Portal N10 no seu WhatsApp? Clique aqui e entre no nosso canal oficial.