A organização não governamental Repórteres sem Fronteiras informou na segunda-feira (2) que, na última década, foram registradas 700 mortes de profissionais de imprensa. Segundo a ONG, o número de jornalistas alvo de detenções arbitrárias, assassinados ou torturados é uma tendência crescente no mundo.
“Apesar dos esforços, muito mais deveria ser feito para acabar com a impunidade e proteger os jornalistas. Ouvimos diariamente novos casos de jornalistas mortos, isso é extremamente preocupante”, afirmou Delphine Halgand, diretora da ONG em Washington.
Delphine defendeu em uma sessão na sede das Nações Unidas, que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, indique um representante especial para dedicar-se ao tema de segurança dos jornalistas. “Somente um representante especial trabalhando junto com o secretário-geral terá a força política e legitimidade para promover a mudança”, disse.
A diretora do Repórteres sem Fronteiras criticou que apenas metade dos países onde jornalistas foram mortos recentemente respondeu às solicitações da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sobre as circunstâncias das mortes destes profissionais. “Irã, Iraque, Mali e Rússia são alguns [dos países] que não responderam ao pedido da Unesco. Agora é hora de ação e de uma verdadeira mudança”, disse.
Nesta segunda (02), as Nações Unidas marcaram o Dia Internacional de Combate à Impunidade de Crimes Cometidos contra Jornalistas com o lançamento do relatório Tendências Mundiais sobre Liberdade de Expressão e Desenvolvimento dos Meios 2015, em Paris.
Segundo a Unesco, em média um jornalista é morto por semana no mundo e menos de 6% do total de 593 assassinatos de jornalistas (2006-2013) foram resolvidos. Entre 2013 e 2014, 178 profissionais de imprensa foram mortos – 87 em 2014.
Segundo o diretor do Centro Knight para Jornalismo nas Américas na Universidade de Austin, no Texas, o brasileiro Rosenthal Alves, a maioria das mortes é de profissionais homens. “Dos 178 assassinatos, 92% são jornalistas homens. As regiões mais perigosas para se trabalhar no mundo hoje são o Médio Oriente e a América Latina”.
O mundo árabe teve 64 profissionais de imprensa mortos entre 2013 e 2014. Já na América Latina, foram 51 casos; na Ásia e Pacífico, 30; e na África, 23. A maioria das mortes ocorreram com profissionais de televisão, com 64, seguido dos profissionais da imprensa escrita e fotógrafos (61) e rádio (50).
Na opinião da representante permanente da Lituânia na ONU, a embaixadora Raimonda Murmokaité, o assassinato de jornalistas deve ser considerado um crime de guerra. “A falta de transparência, em que 95% dos casos saem impunes, é um passe livre para matar jornalistas. E demonstra o quão perigosa é esta profissão, muitos pagam o preço pelo direito que temos de ter acesso à informação”.
Segundo Raimonda, a comunidade internacional precisa reconhecer os profissionais de imprensa como portadores de um importante papel de prevenção contra ações terroristas e atrocidades em massa. “Muitos atuam em zonas de conflito sem lei e podem ser alvo de terroristas. Apesar de as mulheres serem a minoria, é preciso considerar a dimensão de gênero na profissão. Elas estão ainda mais vulneráveis”, disse.
Agência Lusa/Agência Brasil
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