O tratamento contra o câncer é doloroso e afeta não apenas a saúde mental, como também provoca efeitos colaterais no corpo. Durante a quimioterapia ou radioterapia – intervenções comumente usadas em pacientes oncológicos, pode haver queda de cabelo, náuseas, fadiga, perda de apetite, feridas na boca, entre outras implicações.
Para reduzir os impactos causados por esses tratamentos e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida desses pacientes, os estudantes Gustavo Henrique, Cailany Cavalcante e Marialice Gomes, da escola do Serviço Social da Indústria (SESI) de Natal (no Rio Grande do Norte), e Dailton Lima e Elton Oliveira, do SESI São Gonçalo do Amarante (no mesmo estado), criaram a jujuba Nutrinim.
Fabricada a partir de três princípios ativos – óleo essencial de hortelã pimenta, óleo essencial de tangerina e glutamato monossódico, a jujuba estimula as glândulas salivares e as papilas gustativas da língua. O que promove o descongestionamento das vias aéreas e proporciona, em poucos minutos, o retorno do paladar.
O projeto conquistou uma série de premiações desde a sua criação, entre eles: o primeiro lugar da Olimpíada do Futuro 2020; o primeiro lugar do Prêmio Evolução da Olimpíada do Futuro 2021; o segundo lugar da Feira Ciência Jovem 2021, na Categoria Desenvolvimento Tecnológico; foi finalista da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) 2022; recebeu credenciamento para o ESI AMLAT 2022, além de conquistas de medalhas individuais dos estudantes.
Como a jujuba Nutrinim atua?
Cada componente da jujuba trabalha de uma forma no organismo. O óleo essencial de hortelã pimenta dá a sensação de aumento da temperatura da boca e, com isso, ocorre o estímulo das papilas gustativas da língua e intensifica o processo de salivação. A saliva é uma das responsáveis por manter a saúde bucal, além de facilitar o processo de mastigação e gustação.
Já o glutamato monossódico é a forma mais pura do umami, o quinto sabor básico do paladar. Esse sal estimula alguns receptores específicos da língua. Por sua vez, o óleo essencial de tangerina tem a função de auxiliar na salivação do paciente e na regeneração das células, além de deixar a jujuba mais saborosa.
O estudante Dailton explica que o processo de fabricação não é tão complexo, mas que eles utilizavam o laboratório SESI para produzir as jujubas. “Nós fizemos formas em impressão 3D, utilizando modelagem e despejamos a mistura nessas formas”.
A estudante Cailany explica que os procedimentos de quimioterapia e radioterapia destroem tanto as células malignas quanto as benignas. Dessa forma, a perda do paladar é um fator previsível ao longo do tratamento oncológico, pois os alimentos, quando não perdem o seu gosto por completo, ficam com sabor metálico. O que propicia a desnutrição dos pacientes e reduz as chances de finalização do tratamento.
Marialice destaca que a Nutrinim pode ser usada ao longo do tratamento, mas também como ação preventiva para evitar o avanço a quadros críticos na saúde bucal.
A jujuba pode ajudar em outras patologias
Em parceria com o Hospital Universitário Onofre Lopes (UFRN), os estudantes vão testar a eficácia da jujuba em pacientes com Síndrome de Sjögren, doença autoimune que faz com que o sistema imunológico ataque suas próprias células saudáveis. Nesse caso, as glândulas salivares e lacrimais são as afetadas e, como resultado, a pessoa sofre com secura na boca, nos olhos, além de inflamações.
“Além do tratamento dessa síndrome e de pacientes oncológicos, a Nutrinim deve servir para pessoas que estão com problemas na região bucal devido à perda de células. Se elas forem modificadas ou mortas, a nossa jujuba recupera essas células”, explica Marialice.
Próximas testagens e depósito de patente
Por ser um medicamento, a jujuba passa por experimentações in vitro (fora do organismo vivo), como teste de tempo de desintegração bucal, aumento agudo do fluxo salivar e testes físico-químicos, que são realizados no laboratório do SESI.
A participação em feiras de ciências deu visibilidade ao projeto e fez com que os estudantes conseguissem mentorias, parcerias com hospitais e laboratórios de universidades públicas, como o Hospital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa).
O protótipo foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da UFRN. Após aprovação, os alunos darão início aos estudos multicêntricos in vivo (dentro do ser vivo). Isso significa que serão realizados testes simultâneos em pacientes oncológicos e com Síndrome de Sjögren em diferentes instituições.
Além disso, a equipe já deu início ao processo de registro de patente internacional, para obterem segurança jurídica em relação ao produto, e aguardam o seguimento para terem a jujuba registrada e vigente no mercado farmacêutico, após as devidas testagens.
Cailany conta que sempre recebem mensagens de pessoas pedindo para fazerem uso da jujuba.
“Ficamos com o coração na mão, porque temos que respeitar todo esse processo. Acho que vai ser mais gratificante quando começarmos a ver o resultado da Nutrinim realmente no mercado. Ver pessoas tendo suas vidas mudadas com essa jujuba”, declara a jovem.
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