(ANSA) – O vírus da zika é capaz de matar células-tronco de glioblastoma, um tipo mortal de câncer no cérebro, de acordo com um estudo publicado nesta terça-feira (5) na revista científica “The Journal of Experimental Medicine”.
A nova pesquisa foi realizada por cientistas norte-americanos da Universidade de Washington, em Saint Louis, e da Universidade da Califórnia, em San Diego. O estudo abre caminho para que futuramente o zika seja utilizado como um tratamento complementar no combate ao câncer.
Atualmente, o zika pode provocar anomalias em crianças, mas também pode destruir o glioblastoma, que hoje é tratado com radioterapia e quimioterapia, mas sem efeitos prolongados. Mesmo com o tratamento, células-troncos associadas ao tumor sobrevivem e “enganam” o sistema imunológico, o que faz o tumor voltar em cerca de seis meses.
“É tão frustrante tratar um paciente tão agressivamente apenas para ver o seu tumor voltar alguns meses depois”, explica Milão Chheda, pesquisador da Universidade de Washington.
Os cientistas notaram que as células-tronco do glioblastoma, com sua capacidade quase ilimitada de produzir novas células, lembram as células neuroprogenitoras, que são responsáveis por gerar células novas para o cérebro em desenvolvimento. As células neuroprogenitoras são os alvos preferidos do vírus da zika.
Desta forma, os pesquisadores testaram se o vírus poderia matar células-tronco em gliobastomas removidos de pacientes em biópsia para realização do diagnóstico. “Nós nos questionamos se a preferência do vírus zika por células neurais poderia ser usada contra as células do glioblastoma”, acrescentou Chheda.
Os tumores foram infectados com o zika, que se espalhou e rapidamente matou as células-tronco de câncer, evitando outras células tumorais. No entanto, ele ignora a maior parte do tumor, o que poderá ser combatido com tratamentos complementares como a quimioterapia e radioterapia. “Imaginamos que um dia o zika vá ser utilizado em combinação com as terapias já existentes para erradicar o tumor completamente”, disse o cientista da Universidade de Washington.
Novos testes também foram realizados pelos pesquisadores. Eles infectaram o vírus no cérebro de 18 camundongos e uma solução de água salgada (um placebo) no cérebro de outros 15 animais. Duas semanas depois, os tumores ficaram consideravelmente menores nos camundongos tratados com zika, que também sobreviveram bem mais tempo que os animais que receberam o placebo.
Caso o zika seja usado em humanos, o vírus terá que ser injetado diretamente no cérebro, provavelmente durante uma cirurgia de remoção do tumor primário. O tratamento é seguro para adultos porque seus alvos principais – as células neuroprogenitoras – são raras em um cérebro já desenvolvido, ao contrário do das crianças. (ANSA)
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