O vírus Zika pode estar associado a outras alterações congênitas, além da microcefalia. É o que aponta mais um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto, Ipesq, na Paraíba.
Em coletiva de imprensa no campus do Fundão da UFRJ, na zona norte, os pesquisadores da instituição, Amilcar Tanuri e Rodrigo Brindeiro, explicaram que ao analisar o líquido amniótico e tecidos cerebrais de bebês, foi encontrada uma série de outros problemas no cérebro e em outros órgãos do bebê, incluindo lesões oculares.
Os bebês foram acompanhados em Campina Grande (PA). As amostras analisadas em laboratórios da UFRJ e da Fiocruz. Dos oito fetos acompanhados durante a gestação, dois tinham o vírus no tecido cerebral e acabaram morrendo 48h depois do parto. Um deles não tinha microcefalia, mas o tecido cerebral estava severamente comprometido. Todos os bebês que sobreviveram tinham microcefalia e em dois deles foram encontrados Zika. O sangue dos outros quatro ainda serão analisados.
“A novidade da análise é que a infecção do vírus Zika no cérebro pode ter uma gama de alterações, desde implicações simples a alterações graves, como as lesões destrutivas que causaram a morte dos dois bebês”, disse Tanuri, que é especialista em genética de vírus. “Estamos tentando sistematizar uma síndrome congênita do Zika e tentar ajudar os colegas a identificá-la em outros casos”, afirmou.
Eles ressaltaram que os números de casos são muito pequenos e que há muito ainda a ser estudado, para que seja possível garantir causa e efeito entre Zika e microcefalia.
“Na história da medicina, todas essas doenças congênitas demoraram um longo tempo para serem desvendadas”, comentou Tanuri. Ele disse que, até o momento, a estimativa é que haja de dois a cinco bebês com microcelafalia a cada 100 grávidas infectadas com Zika.
Para os pesquisadores, o estudo é importante para lançar luz sobre o problema para pesquisadores no Brasil e pelo mundo. “Precisamos formar um padrão. O próximo passo será estudar como o Zika agride o tecido cerebral.”
Outra descoberta foi que todos os vírus que circulam na América Latina são idênticos, com base no sequenciamento do genoma do Zika a partir do líquido amniótico de um feto. “É mais uma pecinha que se encaixa nesse quebra-cabeça, para indentificarmos ou não a causalidade do vírus no cérebro”, disse Brindeiro.
Um fato que surpreendeu os pesquisadores foi a constatação da permanência do vírus durante toda a gestação nos dois bebês que acabaram morrendo após o parto. “O vírus permaneceu no bebê, agredindo o sistema nervoso da criança. Isso foi bem impressionante”, relatou Tanuri.
Os pesquisadores lamentaram a falta de recursos para tocar os estudos. “Estamos fazendo um sacrifício sobre-humano, as verbas estão cada vez mais curtas e essa epidemia bateu no Brasil em uma hora muito ruim”, destacou o virologista.
Agência Brasil
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