Ser contra a reforma da Previdência é coisa de gente doida, ou nas palavras do ministro da Economia, Paulo Guedes, “caso de internamento (sic)”. A frase polêmica foi apenas uma das várias proferidas pelo chefe da economia brasileira, em sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que analisa a proposta da nova Previdência.
“Ela é necessária? Eu acho que sinceramente… Quem acha que não é necessária? Eu acho que é caso de internação, tem que internar”, disse Guedes
O clima de animosidade entre Paulo Guedes e os deputados de oposição ao governo Jair Bolsonaro perdurou durante toda a audiência que debatia o texto da reforma da Previdência. O clima esquentou por diversas vezes ao longo das mais de seis horas de debate.
O primeiro momento de maior tensão ocorreu por volta das três da tarde, ainda no início da audiência. Paulo Guedes afirmou que os parlamentares que se opuserem a reforma colocarão os próprios filhos em um avião, em situação análoga a de estados com condição financeira grave.
“Se quiserem, embarquem seus filhos no avião em que vocês estão e vão acabar como Rio de Janeiro, Minas Gerais. O Chile tem quase o dobro da renda per capita do que o Brasil, acho que a Venezuela está melhor”, provocou.
Em outro momento, Paulo Guedes foi interrompido pelo deputado Ivan Valente, do PSOL-SP, que questionava a situação das empregadas domésticas na reforma. O ministro da Economia, então, reagiu, acusando os opositores de não terem trabalhado pelas causas que agora militam, quando estiveram no governo.
“Vocês estão há quatro mandatos no poder. Por que é que não botaram imposto sobre dividendo? Por que é que deram benefícios para bilionários? Por que é que deram dinheiro para a JBS? Por que é que deram dinheiro para o BNDES? Vocês estiveram no governo”, questionou o ministro, que prosseguiu. “Vocês são governo. Nós estamos há três meses. Vocês tiveram 18 anos, 18 anos no poder e não tiveram coragem de mudar, não pagaram nada, não cortaram dividendos.”
A chapa esquentou ainda mais momentos depois. A animosidade entre ministro e opositores continuou e acabou por resultar no fim da sessão, quando o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro José Dirceu, afirmou que Paulo Guedes age como “tigrão” em relação a aposentados, idosos e pessoas com deficiência, mas como “tchutchuca” quando o tema é a “turma mais privilegiada do nosso país”. A confusão ficou formada e o presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), encerrou os trabalhos.
“Eu estou vendo que o senhor é tigrão quando é com os aposentados, com os idosos, com os portadores de necessidade; é tigrão quando é com agricultores, com professores. Mas é tchutchuca quando mexe com a turma mais privilegiada do nosso país. O cargo público que você ocupa exige uma outra postura.” – Paulo Guedes respondeu: “Você não falte com o respeito comigo. Tchutchuca é a mãe, tchutchuca é a vó”.
Se for aprovado pela CCJ, o texto da reforma da Previdência será analisado por uma comissão especial formada por deputados para discutir o mérito da proposta. Passando mais uma vez pelo consentimento do colegiado, a proposta segue para a votação no Plenário da Câmara, onde precisará de 308 votos favoráveis dos 513 parlamentares, antes de entrar em pauta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
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