Uma recente pesquisa elaborada pela Associação Brasileira de Medicina no Tráfego (ABRAMET) apontou que dois milhões de brasileiros sofrem de fobia no trânsito.
É um número significativo de pessoas que passam por aquilo que a psicologia chama de amaxofobia.
Essa pesquisa vai de encontro aos dados apresentados pela Organização Mundial da Saúde, em 2013, a qual dizia que 6% dos condutores brasileiros tinham algum nível de amaxofobia e, a nível mundial, esse número chegou a 8% em 2015.
E é para que você possa compreender melhor o que é, como funciona, quais os tratamentos que podem ser feitospara ajudar a curar o medo de dirigirque eu desenvolvi este artigo. Confira!
A psicologia no trânsito
Para começarmos o debate sobre a fobia no trânsito, é importante considerarmos que,dentro de tantas áreas da psicologia, há um ramo voltado para tratar especificamente do sujeito no trânsito.
É nesse âmbito que se dá a Resolução Nº 425/2012 do CONTRAN, que dispõe sobre o exame de aptidão física, mental e sobre a avaliação psicológica daqueles que desejam tirar ou renovar a CNH.
Especificamente sobre os procedimentos médicos para avaliação psicológica, essa resolução, em seu artigo 5º, estabelece que o candidato a ser motorista deveser avaliado pelos seguintes processos psíquicos:
I – tomada de informação;
II – processamento de informação;
III – tomada de decisão;
IV – comportamento;
V – auto-avaliação do comportamento;
VI – traços de personalidade.
Cada um desses critérios tem a sua análise detalhada redigida pelo Anexo XIII da Resolução nº 425/2012, no entanto, por ora, cabe salientar que entre tantos assuntos incumbidos ao ramo da psicologia no trânsito, um dos que mais demanda estudos e envolve os pesquisadores da área diz respeito às fobias no trânsito.
O que é amaxofobia
Popularmente chamado de “medo de dirigir”, trata-se de um distúrbio classificado pela American Psychiatric Association (2002) por meio do DSM-IV com a seguinte redação:
“A fobia de dirigir é definida como uma fobia específica, tipo situacional, ou seja, é caracterizada por medo intenso e persistente de dirigir, que aumenta à medida que o indivíduo antecipa ou é exposto a estímulos relacionados ao dirigir”.
Existem diversos níveis de fobia no trânsito. Dos mais simples, que são aqueles condutores que têm medo de dirigir somente sobre pontes levadiças ou lugares íngremes, por exemplo, até aqueles casos mais graves, em que o sujeito nem consegue sair de casa.
As pessoas que recebem o diagnóstico de amaxofobia ainda podem ser divididas em dois grandes grupos: aquelas que têm a CNH e aquelas que não têm.
Os indivíduos do primeiro grupo são mais complexos e podem ser divididos em três subgrupos na visão de uma pesquisa neozelandesa chamada “Acquisition and severity of driving – related fears”, feita por Joanne E. Taylor e Frank P. Deane.
Subgrupo 1: o mais clássico – trata-se daquelas pessoas que já sofreram um acidente de trânsito e desenvolveram a fobia a partir dessa experiência traumática. Ainda são enquadradas aqui as pessoas que simplesmente têm medo de dirigir por vir a causar algum acidente, ainda que nunca tenham passado por um.
Subgrupo 2: com muito mais questões subjetivas, neste grupo são encaixadas as pessoas que apresentam fobia no trânsito a partir de seus próprios traços psicológicos, como a ansiedade, o perfeccionismo, a insegurançaetc.
Subgrupo 3: este é um grupo que tem um medo mais prático, menos subjetivo, já que se refere ao conjunto de pessoas que se imobilizam frente a situações específicas, como realizar determinada manobra, não dirigir na chuva, ou outros fatores externos.
O segundo grupo é mais fácil de se compreender: geralmente, não possuem a CNH exatamente pelo medo de dirigir, que as impede de serem aprovadas nos exames.
Dentro desse grupo, existem, ainda, aquelas pessoas que têm fobia no trânsito de uma forma geral, isto é, elas não precisam ser colocadas na condição de motoristas para sentirem-se mal enquanto estão em trânsito.
Nesses casos, geralmente, a amaxofobia é entendida como um sintoma para algum transtorno muito maior, como a síndrome do pânico, a agorafobia ou a fobia social, por exemplo.
O que causa a fobia no trânsito
O próprio DSM-IV aponta que a principal causa de fobia no trânsito é algum acidente de trânsito que tenha sido vivenciado por aquele indivíduo.
Isso leva à outra teoria psicanalítica, que aborda como determinada experiência é desenvolvida na mente do sujeito de forma que se torne um trauma e venha a impedi-lo de realizar determinada tarefa futuramente.
Ainda que essa seja a maior causa para o DSM-IV, outros estudos mais recentes apontam que ela não é a única e que, como no desenvolvimento de qualquer transtorno psíquico, a fobia pode estar relacionada a uma série de questões subjetivas do sujeito.
Neste sentido, recorri aos especialistas psicólogos para que me ajudassem a compreender quais traços das características das pessoas podem acarretar no desenvolvimento da amaxofobia.
Quem sofre de fobia no trânsito
Para uma renomada autora no assunto, Neuza Corassa, que escreveu o livro “Vença o medo de dirigir”, a maioria dessas pessoas tem a característica de ser muito responsável. Poderia ser dito até excessivamente responsáveis.
Nas palavras da própria autora: “são extremamente responsáveis, confiáveis, organizadas, detalhistas, sensíveis, inteligentes e preocupam-se com os outros, porém, não gostam de críticas e não admitem errar”.
Ampliando esse pensamento, um estudo publicado pela Revista Ciência Hoje, em 2015, definiu que o chamado “perfil clássico”, ou seja, aquele mais suscetível adesenvolver a fobia, é formado por mulheres casadas, com profissão e nível superior, entre 21 e 45 anos.
Como tratar a fobia no trânsito
Atualmente, há diversas opções para se curar do medo de dirigir.
Partindo dos consultórios particulares de psicólogos, psicoterapeutas e psiquiatras, até mesmo na formação de centros de condutores voltados exclusivamente para esse fim.
Além disso, podemos encontrar uma vasta bibliografia acerca da fobia no trânsito, além de também presenciarmos, em diversas cidades, principalmente em capitais, empresas focadas em fornecer cursos voltados a curar o medo da direção.
Ou seja, não existe um modelo pronto para superar a amaxofobia. Cada caso vai variar de acordo com a origem do medo em determinado indivíduo e uma ou outra forma de tratamento acabará sendo a mais eficaz.
No entanto, a mensagem que quero deixar para você, caso sofra com algum nível de fobia no trânsito, é que sim, é possível curar o medo de dirigir.
Sempre é bom reforçar, também, que a fobia no trânsito pode ser um sintoma para um transtorno muito maior. Então, ao identificar que você não se sente confortável na direção, o mais recomendado é que sempre busque auxílio profissional.
Espero que você tenha gostado de conhecer alguns assuntos dentro do tema da fobia no trânsito e afirmo que fico à disposição para solucionar dúvidas, ouvir suas sugestões e receber opiniões, pelo e-mail doutormultas@doutormultas.com.br ou pelotelefone 0800 6021 543.
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