Culpando à crise hídrica, o governo recorreu a um aumento na conta de luz, a fim de evitar um possível racionamento de energia. Nessa terça-feira (29), a Aneel anunciou novos valores para as bandeiras tarifárias. A bandeira vermelha patamar 2, adotada no mês de junho a R$ 6,24 por 100 kWh consumidos, vai custar R$ 9,49 em julho. A tentativa de frear o consumo, no entanto, pode elevar o preço de itens da cesta básica e acelerar a inflação, segundo especialistas.
Para o professor de economia do Ibmec, Tiago Sayão, deixar as luzes apagadas não irá promover alívio significativo no bolso. O problema maior é que a alta na tarifa de energia tem impacto no preço dos alimentos, produtos que ocupam a maior parte da renda dos mais pobres.
“Em prol de manter integridade do sistema, todo o custo está sendo repassado ao consumidor“, analisa o economista: “a produção de frango, por exemplo, consome muita energia e esse aumento do custo de produção vai ser repassado na ponta. Até a carne branca vai ficar mais cara“.
Na avaliação de Matheus Jaconeli, economista da Nova Futura Investimentos, entre os produtos que terão seus preços elevados em virtude do aumento da energia estão os bens industrializados, pois energia é um custo fixo para a indústria e, em algum momento acaba sendo repassado ao consumidor final; produtos agrícolas, já que o processo de produção de leite, derivados de proteína animal e outros têm energia como um fator fundamental; além de itens do varejo, que usam intensivamente iluminação, refrigeração e aquecimento. Assim, para ele, “o efeito do aumento dos preços de energia acabam se pulverizando na economia“.
O economista-chefe da Neo Investimentos, Luciano Sobral, explica que, como as tarifas de energia elétrica têm peso considerável (4,2%) no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação deve aumentar ainda mais, o que pode ser um freio para a recuperação econômica.
Eduardo Amendola, economista e professor da Estácio, acrescenta ainda que, como o Banco Central tem o compromisso de manter a inflação no intervalo alvo (atualmente entre 2,25% à 5,25%) e o mercado estima um IPCA de 6,7%, possivelmente teremos uma continuidade no ciclo de elevação dos juros básicos, a taxa Selic.
“Um dos efeitos perversos a respeito da elevação no custo da energia é uma possível pressão sobre os juros básicos. E se não há restrição ao crescimento econômico por escassez de energia como aconteceu em 2001, haverá um golpe contra a recuperação econômica por conta dos juros maiores“, opina Amendola.
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