O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se recusou a falar se concorda com a promoção da cloroquina feita pelo presidente Jair Bolsonaro e disse não ter sido consultado sobre um possível decreto contra medidas de restrição nos estados.
Principal autoridade sanitária do país, Queiroga foi questionado pelo relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), se compartilha da defesa da cloroquina como tratamento contra a Covid-19 feita por Bolsonaro há mais de um ano, embora estudos clínicos já tenham comprovado a ineficácia do medicamento.
No entanto, Queiroga se esquivou da questão e, mesmo pressionado por Renan e pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse tratar-se de um assunto “técnico”. “Essa é uma questão técnica que tem que ser enfrentada pela Conitec [Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS]”, justificou Queiroga.
Instado a responder apenas “sim” ou “não”, o ministro insistiu que o debate sobre a cloroquina deve ser técnico e que ele não sofreu pressão para distribuir o medicamento para o enfrentamento da pandemia. “Eu estou aqui na condição de testemunha, e o senhor está pedindo para eu fazer um juízo de valor”, desconversou Queiroga.
Em seguida, Aziz respondeu que até sua “filha de 12 anos falaria ‘sim’ ou ‘não'”.
Questionado por Eduardo Girão (Podemos-CE) sobre “tratamento precoce”, Queiroga não deu sua opinião e disse que o ministério elaborará protocolo clínico e diretriz terapêutica que serão colocados à discussão em consulta pública.
Questionado por Humberto Costa (PT-PE), Queiroga disse que sua função é defender “medidas não farmacológicas”, como o isolamento. “Meu papel como ministro não é ser crítico do presidente da República ou de integrantes do governo”.
O ministro reconheceu que o Brasil precisa de “mais doses e ativismo maior do governo” junto aos países produtores para acelerar o ritmo de vacinação. “Há uma dificuldade de vacinas a nível mundial. Temos dialogado”. Ele informou que o governo tem um contrato na iminência de ser assinado para aquisição de 100 milhões de doses de vacinas da Pfizer, sendo que 35 milhões devem chegar em setembro.
Decreto
Queiroga também foi questionado a respeito da ameaça feita por Bolsonaro na última quarta-feira (5) de editar um decreto contra medidas de restrição à circulação impostas por estados e municípios para conter a disseminação da Covid-19.
“Peço a Deus que eu não tenha que baixar esse decreto. Mas se baixar, ele será cumprido. E não será contestado, esse decreto. Não ouse contestar, quem quer que seja. Sei que o Legislativo não contestará”, disse o presidente.
Na CPI, o ministro da Saúde afirmou não ter sido consultado sobre o suposto decreto, embora tenha dito pouco antes que sua gestão na pasta é “autônoma”. “Não estou participando da elaboração desse decreto nem fui consultado sobre o tema”, garantiu.
Apesar disso, Queiroga declarou não ter conhecimento sobre um “aconselhamento paralelo” ao presidente, conforme havia sido mencionado pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta em seu depoimento na CPI.
“Se não foi o senhor que sugeriu o decreto, então tem um aconselhamento paralelo”, rebateu Renan Calheiros.
Do Portal N10 com Agência ANSA
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