Após abrir consulta pública para avaliar se permitiria a vacinação de crianças contra covid-19 no Brasil, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse nesta quinta-feira, 23, que o governo federal vacinaria crianças de 5 a 11 anos, mas exige receita e assinatura de um formulário de consentimento dos pais. As exigências não existem em outros grupos que já tiveram a vacinação autorizada.
Segundo o ministro, o modelo adotado na Alemanha é o ideal. Lá, disse ele, as crianças com comorbidades clinicamente reconhecidas têm prioridade, mas isso depende da autorização do responsável.
“(Para) as sem comorbidades, há necessidade de prescrição médica“, afirmou o ministro em entrevista na sede do ministério. “O documento que vai ao ar é um documento que recomenda a vacina da Pfizer. Nossa recomendação é que não seja aplicado de forma compulsória. Essa vacina estará vinculada à prescrição médica, e a recomendação obedece às orientações da Anvisa“, disse Queiroga.
Questionada, a Anvisa indicou que não estava nas recomendações que a vacina só poderia ser aplicada em crianças após recomendação médica.
Demanda gera desigualdade, segundo infectologista
Para a infectologista Raquel Stucchi, da Sociedade Brasileira de Infectologia, a decisão de vacinar as crianças apenas com prescrição estimula a desigualdade, tendo em vista que as crianças que procuram clínicas privadas conseguem prescrições mais facilmente do que quem utiliza o SUS.
“A exigência de receita médica para crianças serem vacinadas contra covid-19 é um entrave e aumentará ainda mais a desigualdade no nosso país, pois poucas serão as crianças que terão acesso a esta prescrição“, afirmou Raquel Stucchi.
Insistência na consulta pública
Durante a entrevista, mesmo após ter sido anunciado como seria a vacinação infantil, Queiroga defendeu a consulta pública com a sociedade para discutir a vacina para crianças. Segundo ele, o modelo ideal é o modelo “determinado pela sociedade de cada país”. “Os dados que embasam a decisão [sobre vacinas para crianças] são preliminares, então o caso é delicado”, disse ele.
Segundo Queiroga, a decisão de como vacinar crianças será anunciada no dia 5 de janeiro, “se todos concordarem com o que estamos propondo na consulta pública“. Assim que a vacina for introduzida no programa nacional de imunização, Queiroga disse que “a curto prazo” haverá uma dose para crianças.
Aprovação científica
A decisão do Ministério da Saúde de dar início, nesta quinta-feira, 23, a uma consulta pública para colher pareceres sobre a vacinação contra covid-19 em crianças no país, mesmo depois de a Anvisa ter permitido a vacinação para crianças de 5 a 11 anos, foi criticado por especialistas. Em sua opinião, a consulta teve como objetivo apenas postergar a aplicação das doses do medicamento, por não ser aplicável em outros momentos de pandemia.
A imunização de crianças de 5 a 11 anos com dose pediátrica da Pfizer foi aprovada pela Anvisa na última quinta-feira, seguindo o que vem sendo feito por autoridades de saúde dos Estados Unidos e da Europa em mais de um mês.
Além da Anvisa, a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), órgão consultivo do Ministério da Saúde, anunciou seu apoio à imunização infantil no Brasil.
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