Numa manobra confusa e sem efeito prático algum, o PSDB decidiu destituir o deputado mineiro Bonifácio de Andrada da suplência do partido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Bonifácio é relator da segunda denúncia de corrupção do Ministério Público contra o presidente Michel Temer. O mineiro se mantém na função, agora pela vaga do PSC na comissão.
Na base do governo com quatro ministérios, essa foi a solução que os tucanos encontraram para não deixarem a digital numa possível decisão de salvar a cabeça de Temer. Bonifácio votou pelo encerramento da primeira denúncia e acredita-se que manterá seu apoio ao presidente.
Aos 89 anos, sendo 39 só de Câmara, ele acumula em sua vida política 10 mandatos de deputado federal, 4 de estadual e 1 de vereador. Sua escolha como relator foi jogada na conta da sua experiência parlamentar pelo presidente da CCJ, deputado Rodrigo Pacheco, do PMDB de Minas.
A indicação, na semana passada, criou um desconforto imediato na cúpula do PSDB. Rachado quanto o apoio ao governo, o partido teme sentir nas eleições de 2018 o reflexo da impopularidade do Planalto. E embora não se desvincule dele e dos cargos que oferece, tenta manter um certo descolamento quando se trata de manifestações públicas de apoio.
Bonifácio não gostou nada da decisão do partido. Disse que foi tratado com elegância pelos líderes tucanos, mas que isso pouco adiantou, já que o tiraram da vaga na comissão. Ao lado do líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli, de São Paulo, e do presidente nacional do partido, senador Tasso Jereissati, do Ceará, sorriam e se tratavam com polidez. Mas Bonifácio bradou independência.
“Eu não estou aqui, no caso, e eles sabem bem disso, me submetendo à direção do partido, não. Eles sabem muito bem, eu viu me submeter ao presidente da Comissão de Constituição e Justiça.”
O senador Tasso Jereissati, que minutos antes destacou o decanato de Bonifácio na Câmara e a honra de tê-lo no partido, fez questão de interrompê-lo.
“Ele tem essa ligação, mas ele tem obrigações com o partido também, ele sabe disso. Sem dúvida nenhuma. Tanto é que, lógico, se o presidente tiver que me afastar, que me afaste”
Vice-líder do governo na Câmara e defensor do presidente Michel Temer, o deputado Carlos Marum, do PMDB do Mato Grosso do Sul, lamentou a decisão do PSDB e a resumiu como inconsequente e sem efeito algum. “O meu entendimento é que não muda nada. Por isso eu penso que, se não muda nada e nós temos tanta coisa importante pra fazer, talvez isso não precisasse ter acontecido.”
Fora da vaga do PSDB na Comissão de Constituição e Justiça, Bonifácio de Andrada, ligado ao senador afastado Aécio Neves, assume a vaga na suplência do PSC que vinha sendo ocupada pelo Pastor Marco Feliciano, de São Paulo.
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