O preparo das refeições tem pressionado o bolso dos brasileiros. Isso porque, além das dificuldades financeiras encontradas na hora da compra de alimentos, o consumidor enfrenta também, desde 2020 (início da pandemia), aumento do preço do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), mais conhecido como gás de cozinha.
O botijão de gás de 13 kg teve uma alta aproximada de 50% em dois anos. O preço médio do produto saltou de R$ 69,74, em janeiro de 2020, para R$ 102,32 em dezembro de 2021, de acordo com uma análise baseada em dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
O preço pago pelos consumidores é composto pelo custo de produção e ganho da Petrobras, por tributos estaduais e federais e a margem cobrada para distribuição e revenda do botijão. Uma análise feita pelo Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás) mostra que a margem bruta da Petrobras foi o que mais contribuiu para o aumento, com alta de 83,05% entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021.
O presidente do Sindigás, Sérgio Bandeira de Mello, explica que, assim como outros produtos, o gás é uma commodity e está sujeito a variações de preço.
“A dinâmica de preço do gás tem um comportamento muito parecido como de qualquer outra commodity”, explica Bandeira. Segundo ele, entre os fatores responsáveis pelo aumento de preço visto desde junho de 2020 está o preço do barril do petróleo, que é um dos indicadores de formação de preço do GLP. Além disso, as margens de comercialização, distribuição e revenda têm um custo grande e também sofreram incrementos devido a diversos motivos. Um deles é o aumento da gasolina.
Logística
“Para entregar esse produto existe uma logística complexa já que o entregamos na porta da casa dos consumidores. O custo da gasolina impactou muito na revenda e distribuição do gás”, explicou. A dona de casa aposentada Silvana Fátima Andrade, 63 anos, afirma que a compra do botijão de gás se tornou ainda mais pesada para o bolso já que outros incrementos nas contas foram observados durante o mesmo período.
Para tentar economizar ao máximo o uso do produto, ela precisou recorrer às dicas dadas na internet, que vão desde a manutenção do fogão até o uso da panela de pressão. “Com as dicas, meu gás, que durava um mês e 10 dias, agora passou a durar dois meses”, conta.
Novos aumentos
Apesar do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta semana, apontar uma queda de 0,73% do gás de botijão em janeiro, analistas indicam que o preço do produto se manterá com viés de alta pelo menos até o final do inverno no Hemisfério Norte.
“Tem uma expectativa e desejo do setor de que os preços arrefeçam, mas o que os analistas apontam para a gente é que, até o fim do inverno no hemisfério norte, o preço do gás ainda esteja sob pressão de aumento”, explica o presidente do Sindigás. Isso acontece porque a variação de preço das commodities energéticas, como gás natural, tem forte relação com o clima devido à participação de equipamentos de calefação no consumo de energia em muitos países desse hemisfério.
O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros, Deyvid Bacelar, diz que os preços devem continuar subindo este ano, pressionando ainda mais o bolso dos consumidores:
“Com as instabilidades na Ucrânia e as ondas de frio no Norte, em locais como Estados Unidos e países da Europa, aumenta-se o consumo de petróleo e continua a instabilidade, em movimento de subida de preços. O Brasil, mesmo com produção de petróleo e derivados suficiente para abastecimento interno, vai sofrer também. Enquanto a Petrobras praticar o Preço de Paridade de Importação e repassar a variação dos preços internacionais, vamos viver em pressão para aumentos de preços dos combustíveis e gás de cozinha aqui“, revelou.
Mais pessoas cozinham com lenha
De acordo com o Atlas da Eficiência Energética Brasil 2021, publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a lenha é a fonte que possui maior consumo energético para cocção por domicílio no país, apesar de o GLP ter grande capilaridade, atingindo em torno de 94% das residências brasileiras.
Para combater o uso de lenha, que provoca inúmeros acidentes domésticos, além de provocar doenças nos moradores que a utilizam, o governo começou a pagar um vale-gás a famílias carentes, a cada dois meses, subsidiando metade do valor de um botijão. Na opinião do presidente da Sindigás, a medida ainda não é suficiente, visto que essa população tem outras demandas mais urgentes.
“Esse valor tem sido usado para comprar comida, proteína, e as pessoas continuam catando madeira na rua para cozinhar. O benefício deveria ser adequado para uso exclusivo para essa finalidade“, sugere Mello.
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