Demissões “em massa” de enfermeiros foram apontadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como uma possível consequência da criação do piso salarial de enfermagem de R$ 4.750. Questionado sobre o tema num evento promovido por empresas dos setores de serviços e varejo, na última quinta-feira (1º), ele aproveitou para defender um antigo projeto, a carteira verde e amarela, e afirmou que para evitar problemas é preciso “votar bem”.
O comentário de Guedes foi feito antes de o ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspender a aplicação do piso para melhor análise de suas consequências sobre o emprego e a oferta de serviços de saúde. A decisão do Judiciário ocorreu neste domingo (04/09).
“Ano eleitoral, Congresso aprova o piso”, disse Guedes. “Ano eleitoral, um governo que foi austero o tempo inteiro, que não deu aumento salarial, como vai entrar nessa briga a 30, 40 dias de uma eleição?”.
Em seguida, porém, ele criticou a criação do piso, que considera uma intervenção na economia.
“Se perguntar a um economista qual o efeito disso, eu devolvo a pergunta”, disse. “Deve estar havendo demissões, né? O setor privado deve estar demitindo. Ao mesmo tempo, deve ter dificuldade nas Santas Casas de Misericórdia”.
A criação do piso da enfermagem provavelmente causa preocupação nos hospitais públicos e privados, comentou. Ele disse ter ouvido de muitos interlocutores do setor privado que “estão tendo de demitir.”
No setor privado, as demissões não ocorrem, disse. Porém, aumentam as pressões por mais recursos públicos. Além disso, os salários passam a absorver um dinheiro que poderia ser usado em outros programas sociais. Seria o caso de “ver quem precisa mais”, comentou.
Não só os enfermeiros, mas “todas as profissões do país” desejarão um piso elevado, acrescentou.
Guedes disse que acharia “ótimo” instituir um salário mínimo de R$ 5.000,00. Em seguida, perguntou quantos conseguiriam trabalhar com carteira assinada, se o piso salarial fosse esse. “Em vez de 46 milhões, seriam 20 milhões”, especulou.
A solução para essa situação, disse, é realizar eleições e votar bem. “Se votar bem, tem possibilidade de corrigir erros, fazer coisas corretas”.
A intervenção no mercado de trabalho dos enfermeiros e as demissões em consequência mostram o quanto é importante ter o sistema verde-amarelo, disse ele. Nesse regime, haveria um salário mínimo a ser pago por hora, e acordos voluntários entre patrões e empregados determinariam as condições de trabalho. Prevaleceria o acordado sobre o legislado.
O país passaria a conviver com dois regimes, o da Consolidação das Leis do Trabalho e esse outro, “sem essas intervenções”.
O ministro reafirmou estar confiante na democracia brasileira. Considera que as relações do governo com o Congresso atingiram um grau de maturidade “muito grande” e ressaltou a fala do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que é preciso trabalhar em tempos de paz como se trabalhou em tempos de guerra.
Com informações da Valor Investe*
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