Uma enorme quantidade de água potável é hoje usada para dar descarga em milhares de banheiros espalhados pelo mundo. O uso sanitário representa cerca de 30% do consumo doméstico, segundo a ONG britânica Waterwise, e até 70% do uso em edifícios comerciais.
Mas existe uma alternativa para evitar o desperdício, especialmente em um país com um litoral tão extenso quanto o do Brasil: utilizar a água do mar.
É o que faz Hong Kong, onde 80% dos 7,2 milhões de habitantes têm suas descargas abastecidas com água salgada. A prática começou há mais de cinco décadas por causa da falta d’água crônica na ilha, que se tornou desde então uma referência mundial em conservação hídrica neste quesito.
Glauco Kimura, coordenador do Programa Água para a Vida da ONG WWF-Brasil, acha que é “um absurdo ainda usarmos água limpa em descargas”.
“Isso provavelmente ainda não mudou porque não tínhamos enfrentado uma crise, mas deveríamos importar esta tecnologia de Hong Kong.”
Solução premiada
Em Hong Kong, a água do mar começou a ser usada em descargas em 1958, quando a ilha já se deparava com a perspectiva de falta d’água. Não existem em Hong Kong reservas hídricas subterrâneas expressivas em seu solo rochoso, e as chuvas atendem a apenas um quarto da demanda. O restante é importado da China por meio de dutos submarinos ou trazido do mar.
Segundo o órgão responsável pelo abastecimento da ilha, o “uso extensivo de água do mar tem ajudado a reduzir a demanda por água potável em descargas”.
Em 2014, uma média de 762,5 mil metros cúbicos por dia foram usados com este propósito, o suficiente para encher 305 piscinas olímpicas. Cerca de 5,75 milhões de pessoas usam atualmente água do mar na descarga, com a ajuda de uma infraestrutura composta por 35 estações de transmissão e 1,5 mil km de tubulações. A intenção do governo é atender 85% da população deste forma ainda em 2015.
O Departamento de Fornecimento de Água de Hong Kong esclarece que a água do mar não recebe o mesmo padrão de tratamento da água doce. Mas a empresa diz que ainda assim “cumpre diretrizes” para evitar eventos adversos.
Primeiro, a água é filtrada para retirar grandes partículas de impurezas. Depois, é desinfetada com cloro ou hipoclorito de sódio antes de ser levada a reservatórios, de onde é distribuída à população. A ilha tem dois sistemas de encanamento, um para água doce e outro para a salgada.
O programa da ilha foi premiado em 2001 pelo Chartered Institution of Water and Environmental Management, entidade britânica que reúne profissionais, cientistas e empresários dedicados a questões ambientais.
As informações são da BBC Brasil*
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