CIDADE DO VATICANO – (ANSA) – O papa Francisco criticou nesta terça-feira (21) a “retórica populista” sobre os imigrantes e disse que as autoridades têm a obrigação “moral” de ajudar as pessoas que fogem de guerras e da miséria.
O líder católico não citou especificamente nenhum país, mas criticou os governos que usam o medo sobre a presença de imigrantes como desculpa para justificar, por exemplo, crises econômicas – como ocorre em várias nações europeias e nos Estados Unidos.
“Perante este tipo de rejeição, enraizada até em última instância no egocentrismo e amplificada pela retórica populista, é necessário mudar de atitude para ultrapassarmos a indiferença e contrariar o medo através de uma abordagem generosa de acolhimento aos que batem às nossas portas”, disse durante um encontro com líderes de grupos humanitários e imigrantes que moram na Itália.
Segundo Francisco, é preciso “abrir canais humanitários acessíveis e seguros” para aqueles que fogem de guerras e de perseguições, sendo que muitos deles estão “nas mãos de organizações criminosas sem escrúpulos”. O Pontífice ainda ressaltou que proteger os imigrantes é “um imperativo da moral que deve ser traduzido em instrumentos jurídicos, internacionais e nacionais claros e pertinentes”, causados por “escolhas políticas justas e de longo prazo” com “programas tempestivos e humanizantes na luta contra os traficantes de ‘carne humana’ que lucram sobre as desventuras dos outros”.
Para combater o que chamou de “índole da rejeição”, o sucessor de Bento XVI afirmou que o acolhimento responsável “começa com a sistematização de espaços adequados e com decoro”. “Grandes acampamentos não dão resultados positivos, gerando, ao contrário, novas situações de vulnerabilidade e de problemas”, disse Jorge Mario Bergoglio sugerindo que esse acolhimento seja feito “de maneira difusa”.
Outro ponto destacado pelo Papa voltou a atacar as políticas populistas apresentados por diversos candidatos aos governos europeus e por parlamentares de vários países, que tentam impedir que imigrantes consigam o reagrupamento familiar.
De acordo com o líder da Igreja Católica, essa integração dos imigrantes “não é nem assimilação, nem incorporação” cultural”, mas sim um trabalho “bidirecional” que implica no “mútuo reconhecimento da riqueza cultural do outro”.
Em outra parte de seu forte discurso, Bergoglio ainda criticou a má distribuição da riqueza no mundo, que causa tanto crises internas nos países, mas também força muitas pessoas a tentar buscar uma vida mais digna em outra nação.
“Não pode um grupinho de indivíduos controlar os recursos de meio mundo. Não podem pessoas e povos inteiros terem direito de recolher apenas as migalhas. Ninguém pode ficar tranquilo e dispensado dos imperativos morais que derivam da corresponsabilidade de gestão do planeta”, acrescentou ainda criticando o “uso cínico do mercado” e de “novas formas de colonialismo”.
Desde que assumiu o Pontificado, o papa Francisco sempre defendeu a causa dos imigrantes e dos refugiados. Tanto que uma de suas primeiras viagens foi até a ilha de Lampedusa, na Itália, uma das principais portas de entrada de imigrantes ilegais na Europa.
A fala ainda ocorre em um momento que o ultranacionalismo começa a ganhar força na Europa, que será palco de diversas eleições presidenciais importantes em 2017 e que podem agravar ainda mais a gestão da crise migratória. Do outro lado do Atlântico, o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também está tomando medidas para barrar refugiados e imigrantes de países em guerra – especialmente os de maioria muçulmana.
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