Variedades

Pandemia, imprudência no trânsito e o desprezo pela vida

As cenas de praias lotadas em todo Brasil e de aglomeração em bares sem o uso de máscaras durante a pandemia ganharam destaque na imprensa e causaram perplexidade neste feriado de 7 de Setembro. Mas o descuido com a própria saúde e a disposição em arriscar a vida foram vistos também nas rodovias do país: a cada 14 abordagens feita pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante o feriado, houve 1 flagrante de pessoa sem cinto de segurança ou de motociclista sem capacete.

O fato é que a quarentena modificou a forma como os brasileiros vivem, se relacionam, trabalham e até mesmo se comportam no trânsito. Os veículos passaram a ser cada vez mais utilizados, já que se tornaram um meio de segurança epidemiológica, em detrimento do transporte coletivo, e isso teve consequências no comportamento do motorista brasileiro, com a exacerbação do perfil agressivo e individualista.

O brasileiro passou a entender o trânsito como um espaço individualizado, e não mais coletivo. Isso se reflete em várias situações do dia a dia, como as agressões, a intolerância e o crescente desrespeito à lei. O eu e o meu se sobrepõem ao nosso e ao coletivo, guiado por uma orientação ideológica daqueles que foram eleitos para manterem controles rigorosos e fiscalizatórios sobre todos nós.

O que vemos no trânsito é uma clara sinalização da falsa falta de necessidade de obediência às leis, à cultura, história, ciência e de todos os principais pilares que conduziram a nossa sociedade até aqui. Sim, os brasileiros estão mais intolerantes, agressivos e imprudentes no trânsito.

Segundo balanço divulgado pela PRF, mais de 3.646 motoristas foram flagrados sem cinto de segurança e outros 1.072 não estavam usando capacete. Estamos falando de regras de trânsito já conhecidas e que se incorporaram há muito aos hábitos de segurança no trânsito. A desobediência a essas normas pode fazer a diferença entre a vida e a morte.

Também chama atenção o número de motoristas alcoolizados flagrados pela polícia: 704. Há 12 anos a Lei Seca foi implantada e, desde então, entidades médicas e governo fazem campanhas sobre a combinação perigosa e criminosa de álcool e direção. Não faltam informações, mas sobra desrespeito.

Outras infrações que revelam o desprezo do brasileiro pela segurança viária: foram 5.728 ultrapassagens indevidas e as 531 crianças transportadas sem os dispositivos de retenção (cadeirinha). Se com regras e normas rígidas já temos um desfile de imprudência nas estradas e rodovias do Brasil, o cenário que desponta no horizonte com a flexibilização do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) não é nada promissor.

Durante os dias da Operação Independência, as estradas federais registraram 933 acidentes, que resultaram em 1.103 feridos e 97 mortos. Os índices são altos e justificam o Brasil ser o quarto país com o trânsito mais violento do mundo. A flexibilização das regras e o desprezo pela vida certamente farão crescer o número de vítimas do trânsito.

Por isso, mais do que nunca, é imprescindível lutar para que as leis que tornem o trânsito mais seguro sejam mantidas e aprimoradas. Um exemplo é o PL 98/2015, que prevê a avaliação periódica da saúde mental de todos aqueles que se propõem a conduzir veículos. O ato de dirigir vem exigindo dos cidadãos uma complexidade de sentimentos e de formações que estão sendo deixados de lado com as mudanças recentes na nossa sociedade. Por isso é urgente que cuidemos também da saúde mental dos condutores, o que vai ao encontro do modelo biopsicossocial de saúde, para que não tenhamos cada vez mais mortes e casos de invalidez no trânsito. Precisamos interromper a violência no trânsito que vem vitimando todos os dias cada vez mais jovens.

Onde faltam leis e regras, as pessoas pagam com a vida e a saúde. A desburocratização e a economia de recursos não podem ser usadas como desculpas para afrouxar normas que salvam vidas. Não há como estipular um valor para a vida humana.


Artigo especial escrito por Dr. Alysson Coimbra, médico especialista em trânsito.

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Rafael Nicácio

Co-fundador e redator do Portal N10, sou responsável pela administração e produção de conteúdo do site, consolidando mais de uma década de experiência em comunicação digital. Minha trajetória inclui passagens por assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte (ASCOM) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde atuei como estagiário.Desde 2013, trabalho diretamente com gestão de sites, colaborando na construção de portais de notícias e entretenimento. Atualmente, além de minhas atividades no Portal N10, também gerencio a página Dinastia Nerd, voltada para o público geek e de cultura pop.MTB Jornalista 0002472/RNE-mail para contato: rafael@oportaln10.com.br

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