O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender, nesta terça-feira (05/01), o uso precoce de medicamentos sem eficácia cientificamente comprovada para o tratamento da covid-19. Em publicação no Twitter, o chefe do Executivo atribuiu a baixa taxa de óbitos por coronavírus em países africanos à distribuição em massa da ivermectina.
A imagem divulgada pelo presidente lista 9 países que integram iniciativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) de distribuição do medicamento no Programa Africano para Controle de Oncocercose, doença chamada também de “cegueira do rio”.
Os dados apresentados na tabela apontam que, até 4 de janeiro de 2021, entre os países listados, o Quênia tinha o maior número de mortes por milhão de habitantes (32,1). O Brasil, até 1º de janeiro deste ano, era o 21º país do mundo em mortes por milhão de habitantes (923).
Até agora, no entanto, não há nenhum medicamento com eficácia comprovada contra a covid-19. Associações como a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e a Sociedade Brasileira de Infectologia já publicaram comunicados nos quais afirmam que o uso da ivermectina não é capaz de evitar a contaminação pelo coronavírus.
A Anvisa afirmou, em nota, que “as indicações aprovadas são aquelas constantes da bula do medicamento” — nenhuma é para a covid-19.
Na mesma publicação, Bolsonaro também fez apologia ao uso do medicamento antiviral nitazoxanida, conhecido como Anitta. Segundo ele, o vermífugo é capaz de reduzir a carga viral de pacientes infectados pelo coronavírus.
O presidente afirmou que estudo sobre o remédio foi publicado em “conceituada revista científica internacional”. O mandatário anexou à publicação um áudio de reportagem do programa de rádio A Voz do Brasil sobre a veiculação, pela revista científica European Respiratory Journal (íntegra, em inglês – 2 MB), de artigo científico com resultados do estudo financiado pelo governo federal.
De acordo com a pesquisa, a carga viral dos 194 pacientes que se trataram com a nitazoxanida caiu 55% depois de 5 dias. Entre os 198 voluntários que tomaram o placebo, a carga viral teve redução de 45% no mesmo período. O vermífugo não levou à redução dos sintomas da covid-19. Os pesquisadores concluíram não haver evidências de que o medicamento seja uma terapia efetiva para pacientes com casos leves de covid-19.
O trabalho foi enviado ao European Respiratory Journal em 5 de outubro. Foi aceito em 4 de dezembro e publicado em 24 de dezembro. É assinado por 29 pesquisadores, coordenados pela professora Patrícia Rocco, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
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