(ANSA) – “O Brasil está enfrentando uma campanha insensata e antidemocrática para derrubar a presidente constitucional Dilma Rousseff e, se isso ocorrer, o resto da América do Sul sofrerá as consequências”, denuncia João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João “Jango” Goulart, derrubado por um golpe de Estado em 1964.
Em entrevista à ANSA, ele afirmou que “se diz aos quatro ventos que no Brasil estão funcionando as instituições para enganar a opinião pública e a imprensa internacional: isso é falso, as instituições estão sendo manipuladas por aqueles que querem acabar com o governo Dilma”. Para Goulart, “estamos vendo uma violência política que está em crescimento, sendo atropelado o debate com incitações ao ódio e a justificação banal de um golpe branco”.
Goulart aceitou a entrevista logo após encabeçar, em Brasília, um protesto no qual participaram senadores, deputados, estudantes, trabalhadores rurais e dirigentes de vários partidos que defendem a construção do Memorial da Liberdade e da Democracia, que seria dedicado ao ex-mandatário deposto pelas Forças Armadas. Jango morreu em 1976, enquanto estava na Argentina e “na mira do Plano Condor, a coordenação repressiva das ditaduras”.
A obra, desenhada pelo falecido arquiteto Oscar Niemeyer, consiste em uma cúpula semiesférica branca, que seria erguida no centro da capital nacional e ficaria próxima ao Memorial erguido para homenagear o ex-presidente Juscelino Kubistchek – que também teve seus direitos cassados pelos militares e morreu em 1976 em um acidente de carro. A morte do ex-mandatário foi investigada por diversos órgão de Direitos Humanos que suspeitam que seu falecimento foi um complô feito pelos líderes da ditadura.
“O Memorial para honrar o legado do meu pai e recordar sua destituição, um momento trágico da nossa história, não é só um monumento: é a memória viva de um país que não quer voltar a esse passado infame”, ressaltou Goulart. O filho de Jango ainda comentou que “circularam rumores em Brasília sobre uma suposta pressão do Exército para impedir a construção da obra”. “Não sei se estão totalmente certos, mas a verdade é que o governador de Brasília, o senhor Rodrigo Rollemberg, desistiu de ceder o terreno de 10 mil metros quadrados para erguer a obra. Lamentamos essa claudicação de um governador que assumiu há apenas oito meses e cede a um grupo interessado”, disse à ANSA.
A anulação da obra, que seria erguida a poucos metros do Congresso Nacional, foi uma “atitude covarde, uma falta de respeito ao povo brasileiro e foi como se o presidente Goulart fosse cassado do poder mais uma vez”, insistiu. Mesmo assim, ele lembrou que na mesma avenida central que concentrou as manifestações pedindo o impeachment de Dilma, foi o local escolhido para protestar contra a proibição da construção do Memorial para Jango.
Para Goulart, as manifestações populares dos últimos meses são “orquestradas por dirigentes políticos inescrupulosos, que se apresentam como espontâneas, mas não são”. “Em 1964, antes que os militares dessem o golpe, convocou-se uma marcha pela família e pela liberdade. Não era espontânea, foi coordenada por um padre norte-americano e era a coreografia prévia que queriam os militares. Agora, não haverá um golpe militar. O que buscam alguns é um novo golpe baixo em um novo estilo”, finalizou Goulart.
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