(ANSA) – Após apenas quatro anos, a esquerda está de volta ao poder na Argentina. Alberto Fernández, ex-chefe de Gabinete de Néstor e Cristina Kirchner, obteve 48,1% dos votos na eleição deste domingo (27) e derrotou em primeiro turno o atual mandatário Mauricio Macri (40,38%), que não resistiu à crise econômica que assola o país.
A apuração ainda não foi concluída, mas, com quase 98% das urnas escrutinadas, não há mais como reverter o resultado – para vencer em primeiro turno, Fernández, 60 anos, precisava de mais de 45% dos votos.
“A única coisa que me preocupa é que os argentinos deixem de sofrer”, afirmou o candidato do Partido Justicialista, que recebeu um telefonema de congratulações de Macri. Ambos devem se reunir já nesta segunda-feira (28) para iniciar o processo de transição.
O vencedor era vice na chapa encabeçada por Cristina Kirchner, mas a ex-presidente decidiu trocar de lugar com seu ex-chefe de Gabinete em maio passado, após se tornar ré por corrupção.
Os outros presidenciáveis na disputa eram o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna, com 6,17%, Nicolás del Caño, com 2,16%, Juan José Gómez Centurión, com 1,71%, e José Luis Espert, com 1,48%.
O governo também perdeu o comando da província de Buenos Aires para Axel Kicillof, ex-ministro da Economia de Cristina, mas manteve o poder na cidade de Buenos Aires, capital do país, com Horacio Rodríguez Larreta.
Volta da esquerda
Os dramáticos acontecimentos em Equador e Chile, assim como a incerteza política na Bolívia, desviaram a atenção de um fato político que muda o equilíbrio de forças na América Latina.
Além de recolocar a esquerda no poder em um dos principais países da região, o resultado da eleição na Argentina é um duro golpe no liberalismo encampado por Macri, que teve um mandato marcado pelo aumento do desemprego, por uma interminável crise cambial e pelos empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A apuração das primárias, em 11 de agosto, já havia indicado que Fernández, com 47,79%, era favorito para vencer em primeiro turno. Macri ainda anunciou medidas que vão contra seu próprio receituário econômico, como o congelamento de preços, mas não foi suficiente para deter sua derrocada.
Até então mais afeito à atuação nos bastidores, Fernández, advogado de formação, assumirá a Casa Rosada em 10 de dezembro, com o desafio de reverter a precariedade econômica e social da Argentina e tendo Cristina como vice.
“Vamos construir uma Argentina solidária, igualitária, que defenda a educação pública e a saúde e que privilegie aqueles que produzem e trabalham”, disse o vencedor, prometendo que o país “entrará no mundo com dignidade”.
Sua vitória já provocou uma medida imediata: o Banco Central reduziu o teto mensal para compra de dólares de US$ 10 mil para US$ 200, em uma forma de evitar uma nova escalada da moeda americana no período de transição e de preservar as reservas em divisa estrangeira.
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