O estilo de vida contemporâneo está constantemente sendo alvo de estudos, principalmente por conta do alto nível de estresse. Várias doenças com sintomas físicos e psicológicos podem surgir por conta do estresse e da ansiedade – problemas considerados o mau do século; muitas dessas doenças você pode sentir na pele: eczemas, dermatites, psoríase, urticária, acne e até alopecia.
“Uma pele que vive sobre descargas constantes de adrenalina e outros hormônios como cortisol e prolactina está mais propensa a ter rugas, pelo desequilíbrio em cascata, já que esses hormônios potencializam o estado inflamatório persistente no tecido cutâneo e fazem com que nossas células tenham um tempo de vida e atividade diminuídas, acarretando perda da longevidade”, explica a dermatologista Dra. Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia.
Além dos problemas que o estresse já causa diretamente, ele também interfere na qualidade do sono. “O momento do sono é restaurador para a pele e para outros órgãos do corpo. Quando não dormimos direito não permitimos que as células sejam renovadas e os radicais livres eliminados. Isso tudo prejudica o aspecto da pele e predispõe o aparecimento de rugas”, afirma o cirurgião plástico Dr. Mário Farinazzo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e Chefe do Setor de Rinologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Investigamos abaixo, os principais problemas que o estresse pode causar na pele, no cabelo e nas unhas.
Estresse e envelhecimento precoce da pele – Segundo o Dr. Mário Farinazzo, no estresse produzimos radicais livres que são responsáveis pela oxidação e envelhecimento precoce das células. Segundo o estudo “Brain skin connection: stress, inflamation and skin aging”, publicado no periódico Inflamm Allergy Drug Targets em 2014, o estresse leva à liberação de cortisol e, cronicamente, isso causa atrofia cutânea, redução do número de fibroblastos e diminuição do colágeno e elastina. “Também há uma maior liberação de adrenalina e isso causa menor reparação dos danos ao DNA celular pelo processo de envelhecimento. O estresse emocional está ligado à redução dos mecanismos de adaptação ao estresse oxidativo, aumentando a geração de radicais livres que também acentuam o envelhecimento da pele. Além disso, uma parte dos cromossomos se encurtaria, os telômeros, pelo estresse crônico: e o encurtamento dos telômeros é levantado como causador do envelhecimento por reduzir a função das mitocôndrias que geram energia para as células e por aumentar a produção de radicais livres”, explica a dermatologista e tricologista Dra. Kédima Nassif, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “O corpo precisa de descanso para se reestabelecer depois das atividades do dia a dia. A prática de atividade física, pausas de descanso durante o dia e a meditação podem ajudar no controle do estresse”, afirma o médico.
Queda de cabelo – A tricologista Dra. Kédima Nassif explica que o estresse aumenta a liberação de cortisol, o que encurta a fase de crescimento capilar e promove a queda dos fios, processo conhecido como eflúvio telógeno. “Pela maior liberação de adrenalina, há a vasoconstrição nas raízes dos cabelos com menor aporte de sangue e nutrientes ao fio, impactando na fase de crescimento. Além disso, a maior geração de radicais livres contribui para o estresse oxidativo das células que dão cor aos cabelos, contribuindo para o branqueamento precoce. Estudo atual de Harvard (Hyperactivation of sympathetic nerves drives depletion of melanocyte stem cells; Nature 2020) mostrou que as células tronco reservatórios dos pigmentos que dão cor aos cabelos são ativadas pela noradrenalina liberada no estresse, entrando em exaustão, contribuindo também para a formação dos fios brancos (canície)”, diz a tricologista.
Problemas de pele como acne e psoríase – Segundo o dermatologista Dr. Jardis Volpe, uma coisa comum a todas as doenças causadas pelo estresse é o aumento da inflamação. “Muitos tipos de células da pele, incluindo células imunológicas e células endoteliais (células que alinham os vasos sanguíneos), podem ser reguladas por neuropeptídeos e neurotransmissores, que são substâncias químicas liberadas pelas terminações nervosas da pele. O estresse pode liberar um nível maior dessas substâncias e, quando isso ocorre, pode afetar o modo com o qual nosso corpo responde a muitas funções importantes, como sensação e controle do fluxo sanguíneo. Além disso, a liberação desses produtos químicos pode levar à inflamação da pele”, explica o Dr. Jardis Volpe. A psoríase afeta cerca de 2% da população mundial e é marcada pela proliferação das células da pele e inflamação. Com o estresse, há a liberação de cortisol que libera substâncias pró inflamatórias, levando à piora do processo, também segundo o estudo “Brain-skin connection: stress, inflamation and skin aging”, de 2014. Ainda sobre a acne, o estudo diz que, com o estresse, há a maior liberação de cortisol que impacta na liberação de substâncias inflamatórias que pioram a acne, e esse hormônio também piora a oleosidade da pele, pois ao se ligar na glândula sebácea, ele a estimula a produzir mais sebo, intensificando ainda mais o problema.
Dermatite atópica + queilite angular (rachadura no canto da boca) – “A dermatite atópica é uma doença crônica da pele em que a camada protetora é alterada, predispondo a alergia, coceira e infecções cutâneas”, diz a Dra. Kédima Nassif. “O estresse altera ainda mais a barreira protetora da pele contra microrganismos e proteínas capazes de causar alergia, isso porque há uma menor produção de ceramidas, fundamentais para essa função da pele, assim como há uma alteração na produção e diferenciação das células que compõe a camada protetora”, continua a médica. O resultado disso, segundo a dermatologista, é a maior predisposição a alergia e infecções da pele, maior perda de água transepidérmica com ressecamento cutâneo que pode causar fissuras no canto dos lábios e em outros locais e menor limiar ao prurido, ou seja, maior facilidade de se ter coceira na pele, mesmo aos menores estímulos.
Cicatrização – As alterações imunes induzidas pelo cortisol elevam em 20% o tempo necessário para a reparação de feridas pela elevação de substancias pró-inflamatórias, menor migração de células saudáveis da periferia para o local da lesão, e pela menor produção de proteínas com função antibacteriana, segundo o estudo “Brain skin connection: stress, inflamation and skin aging”, de 2014. De acordo com a Dra. Beatriz Lassance, cirurgiã plástica e membro do American College of LifeStyle Medicine e do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida, como os quadros de estresse também acometem o sistema imunológico, isso faz com que a cura de alguns problemas seja mais demorada. “No caso de tratamentos estéticos, a pele pode ter uma dificuldade de ser estimulada por conta da liberação de mensageiros inflamatórios, que também dificultam a cicatrização”, diz a cirurgiã plástica.
Unhas fracas e com manchas – Segundo os estudos “Feeling stressed? How your skin, hair and nails can show it” (Science daily, 2007) e “Nails as a window of systemic diseases” (Archana Singal and Rahul Arora, Indian Dermatology online Journal, 2015), o estresse é associado aos hábitos de roer e manipular as unhas, o que facilita a descamação ungueal, o aparecimento de ranhuras nas unhas e manchas esbranquiçadas. “Podem surgir depressões horizontais nas unhas, chamadas de linhas de Beau”, explica a Dra. Kédima.
Para controlar o estresse, a cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance dá algumas dicas: “Medite, limpe sua mente. A cada hora de trabalho, pare cinco minutos para respirar, tomar um café, olhar pela janela ou simplesmente fechar os olhos. Uma vez por semana procure sair da rotina e fazer uma atividade diferente. Um tempo de descanso é extremamente importante para manejar o estresse”, destaca a médica. Mas também é importante buscar ajuda psicológica, uma vez que o estresse é a raiz ou gatilho de alguns problemas de pele, e de um dermatologista ou cirurgião plástico para tratar as alterações estéticas.
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