Na penúltima semana de maio, o dólar turismo atingiu, em um só dia, uma alta de 1,02%, chegando a R$ 3,95. É a moeda utilizada para comprar pacotes de viagem, passagens aéreas ou produtos no mercado turístico, por exemplo. O dólar comercial, este usado para negociações entre Estados, fechou a sexta-feira, 18 de maio, cotado a R$ 3,74, uma alta de 1,04%.
O recorde histórico, cabe lembrar, foi de R$ 4,74 em 23 de setembro de 2015. Naquele mês, a alta acumulada foi de 10,04%.
Desde então, o dólar nunca voltou aos patamares anteriores, quando era negociado abaixo de R$ 3. Isso significou o encarecimento do mercado de viagens brasileiro, que aqueceu no final da década de 2000 e gerou prosperidade às agências. Para o professor Fábio Gallo, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, as altas não significam que os preços serão mantidos, mas que um novo patamar foi instaurado a partir de agora.
“O rally do dólar começou pesado. No primeiro momento, o dólar sobe bastante e depois se acomoda em um patamar mais baixo do que está hoje, mas deve ficar em algo perto de R$ 3,50. Não volta ao que era antes. Isso afeta de imediato a área de turismo, porque está muito caro”, disse à Agência Brasil.
A alta no dólar, segundo analistas do setor de turismo, deve impulsionar as viagens de brasileiros aos vizinhos sul-americanos e desincentivar grandes deslocamentos, como em direção a Europa ou aos Estados Unidos.
A Argentina, principalmente, deve se beneficiar, já que o dólar chegou a custar 24 pesos no começo do mês, fazendo com que o Banco Central do país interviesse na economia vendendo US$ 1,1 milhão em reservas para frear o avanço do câmbio. Na sexta-feira, 11 de maio, o dólar fechou o dia cotado a 23,73 pesos – um recorde histórico.
Apesar de não ser gigante, o setor turístico na Argentina tem um impacto significativo em regiões diferentes, como Ushuaia, El Calafate e a própria capital, Buenos Aires. A desvalorização da moeda argentina, segundo os observadores locais, atrairá turistas de outros países, como os sul-americanos, que podem pagar mais barato pelos mesmos serviços no país, além da possibilidade de encontrar passagens aéreas baratas.
No Brasil, na semana seguinte à desvalorização do peso, alguns jornais passaram a enfatizar os preços mais em conta que os brasileiros iriam encontrar para viajar ao país vizinho. Como o real também sofreu quedas constantes no seu valor em relação do dólar, o impacto nas passagens aéreas não foi tão significativo, mas os custos para comer, se hospedar e se locomover na Argentina ficaram relativamente menores.
Para o diretor-executivo da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Gervásio Tanabe, o dólar mais alto fará com que as pessoas repensem viagens que já estavam planejadas para a Europa, por exemplo, por causa dos custos elevados durante o período no exterior.
“Há uma preocupação de quanto vai gastar em função da alta dólar porque não é só passagem e hotel. Tem o consumo, as compras… Então, ele pensa em economizar um pouco mais”, disse. “Os destinos brasileiros têm muito a ganhar com essa alta do dólar”, completou em entrevista à Folha de S. Paulo.
De acordo com dados do Banco Central, os gastos de brasileiros no exterior chegaram a US$ 4,9 bilhões no primeiro trimestre de 2018, quando o dólar ainda permanecia estável. O montante significou uma alta de 10,2% em relação ao mesmo período do ano passado, quando os turistas do Brasil gastaram US$ 4,4 bilhões em outros países. Segundo o banco, os números de janeiro, fevereiro e março deste ano foram os maiores desde 2015, quando US$ 5,2 bilhões saíram dos bolsos de brasileiros viajando pelo mundo.
Tanabe, entretanto, projeta que o crescimento do mercado turístico brasileiro, tanto interno quanto externo, seguirá a rota de crescimento dos anos anteriores, entre 8% e 10%. “As agências são muito criativas. Vão buscar mecanismos de fazer com que diminua pouco as viagens ao exterior, facilitando o prazo de pagamentos para o consumidor, congelando o câmbio”, disse.
Gallo, da FGV, é mais direto: quem estiver pensando em viajar nos próximos meses, que o faça pela América Latina. “O melhor é fazer outra opção. Quem viaja ao exterior leva uma parte dos recursos em moeda, outra em cartão de débito pré-pago e outra no cartão de crédito. Tudo isso pode ficar muito caro, principalmente no cartão de crédito porque o turista não sabe onde vai parar o dólar”, finalizou.
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