Em mais um dia marcado pelo atraso na divulgação dos números diários do coronavírus (Covid-19), o Brasil registrou, na sexta-feira (5), pela quarta vez na semana, mais de mil mortes pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) em 24 horas.
De acordo com os dados, 1.005 óbitos foram confirmados entre quinta-feira (4) e ontem, totalizando 35.026. Além disso, existem 614.846 casos da Covid-19, com um aumento de 30.830 novos contágios em um dia.
O Brasil enfrenta uma grave crise sanitária e ultrapassou a Itália em número de mortes por covid-19 e assumiu a terceira posição no ranking atualizado pela Universidade Johns Hopkins, atrás apenas do Reino Unido (39.987) e Estados Unidos (107.474).
O presidente Jair Bolsonaro defendeu o atraso na divulgação dos boletins e afirmou que com a mudança no horário, que antes era 19h, “acabou a matéria do Jornal Nacional”. A divulgação às 22h começou nos últimos dias sem que o Ministério da Saúde desse uma justificativa para o atraso.
Neste sábado (6), Bolsonaro confirmou que o governo irá utilizar uma nova forma de divulgação das informações sobre a pandemia do novo coronavírus no país. Em uma rede social, o presidente informou que “o Ministério da Saúde adequou a divulgação dos dados sobre casos e mortes relacionados ao covid-19.”
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A mudança já ocorreu no boletim divulgado ontem, que trazia apenas os números do dia (recuperados, novos casos e mortes registrados nas últimas 24h), ignorando assim os números totais registrados desde o início da pandemia.
Questionando, Bolsonaro defendeu a nova forma de divulgar os números, excluindo do balanço diário as pessoas que morreram em dias anteriores.
Já o portal do Covid-19, alimentado pelo Ministério da Saúde, que trazia os números da pandemia no Brasil está fora do ar. Até o fechamento desta matéria, por volta das 15h deste sábado (6), ao acessar a página https://covid.saude.gov.br/ a mensagem “Portal em manutenção” é apresentada.
Neste sábado, por meio de uma rede social, Bolsonaro voltou a falar sobre o assunto. De acordo com o presidente, o “Ministério da Saúde adequou a divulgação dos dados sobre casos e mortes relacionados ao Covid-19” e optou por divulgar o balanço diário mais tarde para “evitar subnotificações e inconsistências.
“As rotinas e fluxos estão sendo adequados para garantir a melhor extração dos dados diários, o que implica em aguardar os relatórios estaduais e checagem de dados. Para evitar subnotificação e inconsistências, o Ministério da Saúde optou pela divulgação às 22h, o que permite passar por esse processo completo. A divulgação entre 17h e 19h, ainda havia risco subnotificação. Os fluxos estão sendo padronizados e adequados para a melhor precisão”, informou o presidente. Ele, no entanto, não explicou por que era possível, antes, consolidar os dados mais cedo.
Críticas
Por meio de uma rede social, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, disse que os dados do Ministério da Saúde “devem estar abertos ao público, aos gestores e, portanto, à imprensa de forma consistente e ordenada.”
Já a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) disse que “enquanto o número de mortos e contaminados atinge níveis recordes no país, ceifando a vida de milhares de brasileiros, o governo de Jair Bolsonaro opta por dificultar o acesso a informações sobre o avanço da doença.”
A ABI disse ainda que o Ministério da Saúde passou a atrasar a divulgação dos dados “na tentativa de calar a imprensa por meio do adiantado da hora.”
A vice-presidente da comissão mista do Congresso que acompanha o coronavírus, senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), informou que quer convocar o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, para dar explicações.
“A transparência é essencial para se combater a doença principalmente agora, com os números de infecção e óbitos crescentes. Não se pode imaginar ou permitir qualquer manipulação nessa área. Seria crime de responsabilidade”, disse.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse, na sexta, que, se o governo continuar atrasando a divulgação do balanço, o Congresso vai criar um sistema próprio com as secretarias estaduais de Saúde para atualizar os números.
“Nós temos que organizar de algum jeito as informações, é pra sociedade. O ideal é que o governo restabeleça isso o mais rápido possível. Espero que nos próximos dias o ministro da Saúde compreenda que informar é fundamental pra sociedade brasileira, principalmente num mundo tecnológico. Num mundo com tanta tecnologia, a gente omitir informação parece que é um erro muito grande.”
O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, também propôs a criação de uma rede paralela à do governo, envolvendo os tribunais de contas nos estados, para consolidação dos dados sobre a covid-19 e “divulgação diária até as 18h”.
Dantas, por meio de uma rede social, justificou a medida diante das “novas dificuldades para divulgar dados nacionais de infectados, curados e óbitos da Covid-19.”
Do Portal N10 com informações do G1
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