Em sessão especial do Fórum Nacional do Instituto de Altos Estudos, no Rio, educadores debateram a qualidade do ensino básico aplicado nas escolas do país. O tema foi abordado no painel “Transformar a educação, para que a educação transforme o Brasil”, dentro da sessão especial do Fórum Nacional do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), que vai até amanhã na cidade.
Diminuir a quantidade de conteúdo obrigatório para o ensino fundamental e médio e garantir que todos os alunos adquiram as habilidades básicas foi uma das sugestões feitas por professores como um dos meios para melhorar a educação no Brasil.
Para o professor Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), o principal gargalo na educação está no ensino médio, um modelo criado há 70 anos e voltado para o ingresso na faculdade. “Se conseguirmos destravar o ensino médio e abrir um pouco para experimentos, para iniciativas, conseguiremos avançar. É muito importante acabar com esse enciclopedismo, que não leva a nada, 15, 16 matérias que o aluno tem que passar correndo, e nunca chega a aplicar. Nós temos que permitir que os alunos optem e passem por diferentes áreas de formação e aprofundamento”. Ele destacou a importância do ensino técnico e profissional como uma opção de ensino médio, e não um complemento, como ocorre hoje.
O ex-secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro Wilton Risolia afirmou que o ensino médio não atende as necessidades nem de quem cursa, nem do país. “Nosso ensino médio é uma commoditie às avessas. Não tem fundamento nenhum nem base teórica exigir que o menino que quer ser médico, e o que quer ser jornalista, façam rigorosamente o mesmo ensino médio. Ou que o percurso formativo de quem quer ser músico e quem quer ser engenheiro seja a mesma escola”, afirmou.
O ministro Renato Janine destacou que houve muitos avanços no ensino técnico e que o Brasil ficou em primeiro lugar no WorldSkills Competition, realizado em agosto, em São Paulo. Ele lembrou que o ministério vai lançar amanhã (16) as bases comuns nacionais dos componentes curriculares, que devem contemplar cerca de 60% do que será ensinado nas escolas. O restante deve ser preenchido por conteúdos regionais, como prevê o Plano Nacional de Educação, aprovado no ano passado.
“Penso que, neste momento, a grande contribuição da base comum é sairmos de discussões genéricas para entrarmos na discussão de conteúdo: no que deve ser ensinado. E de competência: o que os alunos devem aprender. A educação é uma área no Brasil que demanda muita discussão, sobretudo sobre métodos pedagógicos, aprendizagem, e foco no aluno, nas boas práticas. Temos grandes avanços nisso, mas creio que podemos ir muito longe”.
Para o senador Cristovam Buarque, é necessário uma reforma total no sistema educacional brasileiro, partindo da federalização do ensino para que a qualidade chegue a todas as cidades. “Um núcleo comum federal com a escola municipal não vai acontecer. As pessoas esquecem a pobreza das cidades. Tem cidades no Brasil cuja receita anual da prefeitura não chega a cem reais por pessoa. Como é que vai dar uma boa escola, como é que vai pagar o professor, como é que vai exigir um professor de qualidade, se eles são escolhidos na própria cidade, não vem de fora? Os funcionários do Banco do Brasil não são escolhidos na própria cidade, vem de fora. Os juízes vem de fora, os delegados vem de fora. A professora é da cidade”.
Para o senador, a reforma curricular deve incluir o horário integral e a escolha de disciplinas pelo próprio aluno. “O aluno quer aprender violão, tem que ter espaço para ele como disciplina violão, tem que ir atrás do gosto do aluno. Agora, tem que ter um núcleo central, todos têm que ter: história do Brasil, geografia, noções de matemática, português, como falar bem. Mas a partir daí, química, deixa para alguns, não precisa todos saberem química. Então, não diminui o número de disciplinas, diminui o número de disciplinas obrigatórias e aumenta as que o aluno escolhe”.
Segundo Cristovam outros pontos que vão contribuir para melhorar a qualidade do ensino são formação e seleção do professor e dedicação exclusiva. “Professor qualificado e dedicado na sala de aula, professor que dá aula em três escolas não dá bem em nenhuma, tem que ser dedicado”. Ele acrescenta também avaliação do professor e capacitação para o uso das tecnologias. “A criança não aguenta uma aula no quadro negro mais, é uma violência para uma criança que nasceu vendo televisão, computador, internet, celular”.
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