Os consumidores enfrentaram em 2015 um forte aumento dos preços, principalmente os administrados pelo governo, como energia elétrica, gasolina, gás, transporte público e alimentos. Com esta alta, a inflação deve superar dois dígitos este ano, o que não acontecia desde 2002, quando ficou em 12,53%. A Previsão do Banco Central (BC) é que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegue a 10,8%, em 2015.
Além do reajuste nos preços administrados e de alimentos, a inflação em 2015 foi impactada também pela inflação no setor de serviços, e pela alta do dólar.
O diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) Miguel de Oliveira lembrou que a inflação alta ocorre em ambiente de retração da economia e do emprego. “É um conjunto de fatores: inflação alta, juros altos, desemprego e inadimplência crescendo. Então é um quadro extremamente desfavorável ao consumidor”, destacou. Para 2016, a expectativa é de inflação menor, mas ainda alta. Para o diretor da Anefac, a inflação em 2016 deve ficar em 6,9%. O BC projeta 6,2%.
“Pode ser pior porque temos uma retração que segura o aumento de preços, mas temos a questão do câmbio”, disse. Oliveira destacou que se o dólar continuar a subir muito no próximo ano, sobem os preços de produtos importados e dos fabricados no país, mas com insumos do exterior.
Em 2015, o processo de ajuste de preços administrados, represado anteriormente pelo governo, foi mais intenso e mais longo do que esperado pelo BC. Já o aumento dos preços de alimentos foi influenciado pela alta do dólar e por condições climáticas adversas.
Taxa Selic
Na tentativa de evitar que a inflação seguisse na trajetória de alta, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a taxa por sete vezes consecutivas. Nas reuniões do comitê em setembro, outubro e novembro, o Copom optou por manter a Selic em 14,25% ao ano. Ao reajustar a Selic para cima, o BC contém o excesso de demanda que pressiona os preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Com as dificuldades do BC de controlar a inflação, economistas defendem que a ação do BC está menos eficaz devido à deterioração das contas públicas. “A deterioração das contas fiscais e a dificuldade de ajustá-las de modo a permitir uma trajetória sustentável da dívida pública causaram perda da confiança dos agentes econômicos e forte desvalorização do real. O resultado foi elevação das expectativas inflacionárias e pressão altista nos preços correntes”, diz o documento Economia Brasileira – Edição Especial do Informe Conjuntural, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A CNI também cita, como um fator que reduz a eficácia da ação do BC, o aumento da participação do crédito direcionado no crédito bancário total (49% em outubro de 2015 ante 36% no início de 2007). Como as taxas do crédito direcionado são inferiores à Selic e muito abaixo das taxas cobradas nos recursos livres, é preciso um aumento maior na taxa básica de juros para reduzir o volume de crédito necessário para a contenção da inflação.
“Portanto, para maior eficácia da política monetária é essencial equilibrar as contas públicas de modo a permitir a convergência da inflação à meta de forma vertiginosa e menos onerosa à atividade econômica”, acrescenta a CNI.
Meta 2016
O Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu como meta de inflação 4,5% para 2015, 2016 e 2017, sendo que o limite de tolerância é de 2 pontos percentuais para 2015 e 2016, e 1,5 ponto em 2017.
Quando a meta é ultrapassada, o presidente do BC tem de enviar carta aberta ao ministro da Fazenda, com as explicações para o descumprimento. A última vez que isso aconteceu foi em 2003, quando a inflação atingiu 9,3%.
No dia 8 de janeiro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o IPCA de 2015.
Da Agência Brasil
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