(ANSA) – Em seu primeiro pronunciamento desde que foi afastada da Presidência, Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira (12) que está sendo vítima de um “golpe”, pois não cometeu nenhum crime durante sua gestão e foi eleita democraticamente. Visivelmente emocionada, a mandatária relembrou sua prisão durante a ditadura militar e disse que “mais uma vez sofre a dor inominável da injustiça”.
Dilma apareceu em público por volta das 11h15 de Brasília, cerca de cinco horas após o Senado aprovar, por 55 votos a 22, a continuação do processo de impeachment contra ela, baseado na suspeita de crime de responsabilidade fiscal (as chamadas “pedaladas”).
A decisão do Senado obrigou Dilma a se afastar da Presidência por até 180 dias, enquanto são apuradas as denúncias. Automaticamente, o vice Michel Temer (PMDB) assume o cargo. “Eu fui eleita presidente por 54 milhões de cidadãos e cidadãs brasileiras. É nesta condição, de presidente eleita, que eu me dirijo a vocês neste momento decisivo para a democracia brasileira e ao nosso futuro como nação. O que está em jogo não é apenas o meu mandato, mas o respeito às urnas, à vontade soberana do voto brasileira e à Constituição”, afirmou Dilma, que foi recebida com gritos de “guerreira da pátria brasileira”.
Citando conquistas de 13 anos do governo do PT, Dilma alertou que o Brasil corre o risco de retroceder e de enfrentar “riscos de um impeachment fraudulento, um verdadeiro golpe”.
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A presidente afastada disse que, desde que foi eleita, a oposição tentou anular sua vitória. “Mergulharam o país em um estado permanente de instabilidade política, com o único objetivo de conquistar à força o que não conquistaram nas urnas. O objetivo é o de me impedir de governar”. “Esse é um processo [de impeachment] frágil, inconsistente, injusto e desencadeado contra uma pessoa honesta”, disse.
Segundo a petista, a “pior coisa contra um ser humano é puní-lo por um crime que não cometeu”. “É a maior brutalidade contra um ser humano. Não há injustiça mais devastadora que condenar um inocente”. “Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes. Estou sendo julgada injustamente por ter feito tudo que a lei me autorizava a fazer. Os atos que pratiquei foram atos legais, corretos, atos de governo. Atos idênticos foram praticados pelos presidentes que me antecederam. Não era crime na época deles, e não é crime agora”, defendeu-se Dilma.
Em uma clara referência ao PMDB, que no meio da crise política rompeu com Dilma, a petista acusou o partido de “governar sem ser eleito”. “O maior risco para um país neste momento é ser dirigido por alguém sem voto, que não foi eleito pelo povo brasileiro. Um governo que pode se sentir tentado a reprimir quem se opõe a ele. Que nasce de um golpe. Que será, ele próprio, a grande razão da continuidade da crise política neste país”, disse.
Assumindo um tom dramático pessoal, Dilma vestiu um terno branco – em contraste com o tom vermelho que sempre foi predominante em todo seu vestuário – e disse ter orgulho de ter sido a primeira presidente mulher. Ao deixar a sala de discurso, Dilma apareceu aos jornalistas com os olhos marejados. A petista já foi notificada sobre seu afastamento do cargo.
Automaticamente, Temer assume o posto. Ainda hoje, o presidente interino deverá dar posse aos novos ministros. O peemedebista ainda não fez discursos ao público.
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