(ANSA) – Dois dias após perder seu mandato na Presidência, Dilma Rousseff concedeu nesta sexta-feira (2) uma coletiva à mídia estrangeira, em Brasília, na qual criticou os jornais nacionais na cobertura do seu processo de impeachment.
“Não podem falar que o NYT é petista, que o Le Monde, o El País são petistas. O viés da mídia nacional a favor do golpe foi total e inequívoco”, disse Dilma, em resposta à ANSA. “Meu afastamento deve servir para uma análise muito séria das consequências de termos quatro grupos de mídia controlando toda a informação no Brasil”.
Ao longo desta semana, vários jornais internacionais comentaram o impeachment da petista. O norte-americano NYT disse que os senadores brasileiros “expulsaram” Dilma, enquanto o espanhol El País disse que era “a mudança de governo mais traumática e esquizofrênica das últimas décadas”. Na coletiva de hoje, Dilma também disse que foi “expelida” dos jornais brasileiros assim que o Senado deu prosseguimento ao processo de impeachment e a afastou do cargo, em maio.
“Fui literalmente expelida de alguns meios de comunicação a partir do dia que fui afastada”. Sobre a votação “fatiada” no Senado, que tirou o mandato de Dilma por 61 votos a 40, mas, de forma inédita na história da Constituição, manteve seus direitos políticos por 42 votos a 36, a petista se esquivou das polêmicas. “Está se tentando criar uma teoria na mídia de que, já que mantiveram os meus direitos, tem que manter os de Eduardo Cunha também. Não mesmo”, disse Dilma.
No entanto, analistas políticos afirmaram que a votação separada de perda de mandato e da perda de direitos políticos abre um procedente no Senado que poderá ser utilizado na Câmara dos Deputados. Com isso, o deputado Eduardo Cunha poderá ter seu mandato cassado, mas não perder seus direitos de recandidatura. Responsável por dar início ao processo de impeachment de Dilma, o parlamentar será votado no próximo dia 12 na Câmara.
Destituída por crimes de responsabilidade fiscal, Dilma também voltou hoje a dizer que é inocente e alfinetou a jurista Janaína Paschoal, uma das autoras da denúncia de impeachment. “Para os meus netos, eu quero um Brasil democrático e cheio de oportunidades. E eles terão, e não é por conta da Dra. Janaína”, afirmou Dilma, respondendo à advogada, que argumentara que havia dado seguimento às acusações por querer o bem dos “netos da presidente”. “Vou contribuir para que o Brasil seja um país mais desenvolvido, mais justo e democrático. Eu farei oposição a este governo”, prometeu a petista. “Essa história eu conheço, sei como começa e termina. Eu tenho a consciência de que a democracia foi julgada comigo. Infelizmente, nós perdemos.
Espero que nós, todos juntos, saibamos reconstruí-la”.
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