(ANSA) – Fazer com que os filhos comam um pouco mais de verdura, apressá-los para chegar na escola na hora ou levá-los a todos seus compromissos, como aniversários, aulas de música, inglês, natação ou consultas no médico são alguns dos principais ingredientes que conduzem a um desgaste físico e emocional total de um a cada 10 pais que somam todas essas atividades com o seu trabalho e afazeres pessoais. É o que afirma um estudo publicado na última edição da revista científica “Frontiers in Psycology” e conduzido pela Universidade Católica de Lovanio, na Bélgica, no qual participaram cerca de 2 mil pais.
Segundo a pesquisa, 13% dos entrevistados sofriam todos os sintomas típicos do esgotamento, ou “bournout” do trabalho, com abatimento, incompetência e cansaço, sendo que a porcentagem varia de 12,9% para as mães e 11,6% para os pais. Conduzido pela psicóloga Isabelle Roskam, o estudo não só evidencia a frequência com a qual os pais se sentem exaustos devido aos papeis com os filhos, mas também que esse desgaste é, em muitos aspectos, idêntico ao estresse do trabalho.
O problema, explicam os autores da pesquisa, é que a partir da década de 1990, na Europa se começou a observar uma “mutação” do papel do progenitor, que fazia com que os pais fossem cada vez mais uma figura da qual se espera uma maior colaboração, dedicação e atenção aos filhos. “O ‘burnout’ indica a presença de um enorme desgaste psicológico que agora já não se limita a certas profissões específicas”, afirmou Fernando Pellegrino, psiquiatra do ASL de Salerno, na Itália.
Segundo o italiano, essa síndrome pode sim afetar os pais que, hoje em dia, têm que atuar em cenários de forte pressão em vários níveis e espaços. “Os pais não suportam o processo de aceleração histórica, saltos de gerações repentinos que mudam a forma de fazer as coisas das pessoas em um curto tempo e criam a falta de comunicação entre pais e filhos (que, por exemplo, agora têm um modo de se comunicar cada vez mais virtual)”, explicou Pellegrino.
Além disso, o psiquiatra também comentou que, com cada vez mais dificuldades em seus próprios espaços de trabalho, fica mais difícil para os pais cuidarem de seus filhos, principalmente se for considerado que atualmente muitas pessoas já não contam com o apoio de avós e outros familiares como se costumava a ter antigamente nas grandes famílias. Pellegrino também afirmou que os jovens têm mais possibilidades de escolha atualmente e recebem estímulos “infinitos”, por isso acabam ficando mais “desarmados” contra o mundo que seus pais, precisando assim de mais atenção de seus progenitores. Crianças e adolescentes acabam se transformando em pequenos administradores devido aos seus vários compromissos.
Assim, para o especialista italiano o que se pode fazer para melhorar essa situação e tentar impedir que os pais se esgotem “é avaliar o estado de tensão, reconsiderar a organização familiar e prezar mais pelas exigências emocionais dos filhos no lugar de correr atrás de mil compromissos”.
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