(ANSA) – Na próxima quinta-feira, dia 5 de novembro, chegam às livrarias italianas duas publicações que se anunciam explosivas para a Igreja Católica e abordam o mesmo tema: escândalos e segredos ligados às finanças do Vaticano.
As obras se chamam “Avarizia” (“Avareza”), do jornalista Emiliano Fittipaldi, e “Via Crucis”, de Gianluigi Nuzzi. A sala de imprensa da Santa Sé diz que os dois livros são frutos de uma “grave traição da confiança depositada pelo Papa e de uma operação para tirar vantagem de um ato gravemente ilícito de entrega de documentos reservados”.
O primeiro deles é uma investigação que parte de documentos originais (cerca de 20 páginas do livro são de reproduções fotográficas de arquivos secretos), com a intenção de desvendar a riqueza, os escândalos e os segredos da Igreja de Francisco. Fittipaldi recolheu com fontes confidenciais uma grande quantidade de documentos internos do Vaticano (atas, orçamentos e notificações) e, graças a eles, traça os primeiros mapas do império financeiro da Santa Sé.
O livro chega em um momento crucial para o catolicismo, com o Pontífice enfrentando resistências para mudar a gestão dos recursos financeiros da Igreja. Entre outras coisas, “Avarizia” conta como centenas de milhares de euros foram gastos em voos de classe executiva, roupas sob medida e móveis finos. Além disso, a obra divulga um vasto patrimônio imobiliário em Itália, Reino Unido, França e Suíça. Apenas em Roma, seriam cerca de 5 mil apartamentos em posse do Vaticano. Outra denúncia acusa o Instituto para as Obras de Religião (IOR) de segurar recursos destinados a ações de caridade.
Já “Via Crucis” é uma análise sobre as dificuldades enfrentadas pelo Papa para reformar a Santa Sé baseada em documentos inéditos. Nuzzi relata os duros ataques de Francisco contra os dirigentes que comandaram as finanças do Vaticano nos anos anteriores à sua chegada ao poder. “Os custos estão fora de controle”, “Há armadilhas” e “Se não sabemos cuidar do dinheiro, como cuidaremos da alma dos fiéis?” são algumas das frases atribuídas a Jorge Bergoglio nos livros. Segundo Nuzzi, o caos na situação econômica da Igreja foi inclusive um dos motivos para a renúncia de Bento XVI.
Em ambos os livros, os arquivos secretos são provenientes da Comissão de Estudos sobre as Atividades Econômicas da Santa Sé (Cosea), criada por Francisco em 2013 para monitorar as contas vaticanas, mas já dissolvida. O monsenhor espanhol Ángel Vallejo Balda e a italiana Francesca Immacolata Chaouqui, que integravam o órgão, foram presos na última segunda-feira (2) acusados de vazar documentos confidenciais. Apenas a segunda foi colocada em liberdade.
O episódio fez com que o menor país do mundo revivesse o clima do “Vatileaks”, de 2012, quando arquivos sigilosos foram levados à imprensa e abalaram o Pontificado de Joseph Ratzinger. O escândalo teve como pivô o mordomo de Bento XVI, Paolo Gabriele.
Atualmente, há um clima conflituoso na Santa Sé pelo controle de suas finanças: de um lado está a Secretaria para a Economia, chefiada pelo cardeal australiano George Pell, expoente da ala conservadora da Igreja; do outro, a Secretaria de Estado, comandada por Pietro Parolin, uma das pessoas mais próximas ao Papa.
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