As vendas do comércio varejista brasileiro recuaram pelo terceiro mês consecutivo. É o que aponta a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE, divulgados nesta quarta-feira (14 de setembro). O volume de vendas caiu 0,8% em julho, levando o setor para o patamar próximo do período pré-pandemia, de fevereiro de 2020.
Os dados revelam que o brasileiro esvaziou o carrinho de compras, mas, ao mesmo tempo, encheu o tanque do carro. Combustíveis foi o único segmento a apresentar alta nas vendas.
No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção, o volume de vendas em julho caiu 0,7% frente a junho.
Trajetória irregular
De acordo com o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, a terceira queda seguida após meses de alta demonstra a retomada da trajetória irregular pela qual passa o varejo desde o período mais grave da pandemia.
Enquanto artigos farmacêuticos, combustíveis, materiais de construção e hiper e supermercados registram volume de vendas muito acima do patamar pré-pandemia, há atividades como as de livros e jornais, vestuário e calçados, móveis e eletrodomésticos, além de veículos e motos, que não se recuperaram até o momento.
“O setor repete a trajetória que vem acontecendo desde março de 2020, com alta volatilidade“.
Vestuário e calçados desabam
Das dez atividades investigadas pela pesquisa, nove recuaram em julho. Apenas a atividade de combustíveis e lubrificantes mostrou crescimento, com avanço de 12,2% em relação ao mês anterior.
“Resultado da política de redução do preço dos combustíveis“, justifica Santos, destacando que houve uma queda de 14,15% nos preços, de acordo com dados do Índice de Preços ao Consumidor de julho.
A Petrobras reduziu o preço da gasolina em julho, e o do diesel caiu logo no início de agosto, efeito do corte da alíquota do ICMS e da queda da cotação do petróleo. A estatal fez novos reajustes para baixo recentemente.
O maior recuo em julho foi observado no segmento de tecidos, vestuário e calçados, que caíram 17,1%.
“Algumas das grandes cadeias comerciais apresentaram redução na receita, sobretudo na parte de calçados. Além disso, pode haver também escolhas do consumidor, considerando a redução da capacidade do consumo atual“, afirma Santos.
O segundo maior recuo veio do segmento de móveis e eletrodomésticos, cujo volume de vendas caiu 3%. Na sequência aparecem livros, jornais e revistas (-2%); equipamentos e material para escritório informática e comunicação (-1,5%); artigos farmacêuticos (-1,4%), hiper e supermercados (-0,6%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,5%).
O segmento de hiper e supermercados é um dos que mais pesam no desempenho do comércio.
No comércio varejista ampliado, veículos e motos caíram 2,7% e material de construção recuou 2,0%. Estes são os primeiros dado do varejo que contemplam o terceiro trimestre. Na terça-feira, o IBGE divulgou que o setor de serviços avançou 1,1% em julho.
Perspectivas
A perspectiva dos analistas econômicos para o comércio não é animadora neste ano. Isso porque o setor lida com a escalada dos juros – cuja ciclo de alta da Selic agora deve chegar a 13,75%, segundo analistas – que encarece o crédito.
Por outro lado, a recente desaceleração da inflação, somada às medidas de estímulo do governo como o aumento do Auxílio Brasil, e a maior confiança do consumidor contribuem no ânimo dos empresários do setor com os próximos meses.
O Índice de Confiança do Comércio (ICOM) do FGV IBRE subiu 4,3 pontos em agosto, ao passar de 95,1 para 99,4 pontos. Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE, reforça que, embora mais otimistas, o aumento da confiança não tem se refletido nas avaliações sobre o presente, já que pelo segundo mês consecutivo os indicadores que medem a demanda seguem em queda.
“Para os próximos meses ainda é possível imaginar resultados positivos, mas é necessária cautela considerando o ambiente macroeconômico ainda frágil e com alguma oscilação devido à proximidade das eleições”, avalia, em comentário.
Fonte: Jornal EXTRA
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