O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta segunda-feira (23 de janeiro), durante encontro com seu homólogo da Argentina, Alberto Fernández, a criação de uma moeda comum para facilitar as transações comerciais entre os dois países.
“Se dependesse de mim, o comércio exterior sempre seria feito nas moedas dos países para não depender do dólar. Por que não tentar criar uma moeda comum entre os países do Mercosul? Por que não tentar criar uma moeda comum entre os países do Brics? Com o tempo, isso vai acontecer, e é necessário que aconteça“, disse o petista em coletiva de imprensa na Casa Rosada.
Lula deixou claro que ainda não há nada concreto, mas disse que as equipes econômicas de Brasil e Argentina foram encarregadas de elaborar uma “proposta de comércio exterior e de transações entre os dois países numa moeda comum, a ser construída com muitos debates e muitas reuniões“.
“Tudo que é novo causa estranheza, e eu acho que tudo que é novo precisa ser testado. O que a gente não pode é, no meio do século 21, continuar fazendo as mesmas coisas que fazíamos no século 21“, reforçou Lula.
Já Fernández apontou as “injustiças do sistema capitalista e do sistema financeiro mundial“, como a dependência das economias nacionais em relação às moedas estrangeiras. “Se não tivermos coragem de mudar, vamos continuar sofrendo dos mesmos males“, declarou o líder argentino.
A ideia não seria substituir o peso argentino e nem o real brasileiro, mas sim criar uma divisa exclusiva para transações comerciais entre os dois países.
Gasoduto
Os presidentes também comentaram as negociações para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiar o segundo trecho do gasoduto Néstor Kirchner, que faria o gás extraído da bacia de Vaca Muerta chegar até o Rio Grande do Sul.
“Vamos criar as condições para criar o financiamento que a gente puder fazer para financiar o gasoduto argentino“, disse Lula. Fernández, por sua vez, declarou que a decisão está nas mãos do Brasil e que seu desejo seria aproveitar a “inércia” da construção do primeiro trecho para iniciar as obras do segundo.
Há um propósito do Brasil e da Argentina na integração elétrica e gasífera. O país vizinho tem sustentado a proposta da construção de um gasoduto entre as reservas de gás xisto (shale) da reserva de Vaca Muerta até o Brasil.
Questionado sobre a possibilidade de o BNDES financiar obras desse projeto, Lula disse que é papel de “países maiores” auxiliar aqueles que têm menos condições em determinados momentos históricos. “De vez em quando no Brasil somos criticados por pura ignorância, pessoas que acham que não pode haver financiamento de engenharia para outros país. Acho que não só se pode como é necessário o Brasil ajudar todos os seus parceiros. E é isso que vamos fazer dentro das possibilidades econômicas do nosso país. O BNDES é muito grande”, disse.
Lula, entretanto, está confiante que os empresários brasileiros têm interesse no gasoduto e em fazer investimentos em outras áreas no país vizinho. “Se há interesse dos empresários, do governo e temos um banco de desenvolvimento para isso, eu quero dizer que vamos criar as condições para fazer o financiamento que a gente tiver que fazer para ajudar ao gasoduto argentino”, completou Lula.
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