Em um cenário de constante mudança, o vestibular no Brasil adquiriu um outro significado. Se até a década passada havia pouca gente em cursos universitários no país, esse número cresceu muito a partir de 2003, principalmente pela expansão da rede privada, dos programas de incentivo do governo federal e da consequente melhoria da renda de boa parte das famílias.
Essas transformações também fizeram com que a almejada universidade pública, ainda que permanecesse concorrida, não fosse mais uma das poucas opções de fazer uma graduação com qualidade. Os dados comprovam essa percepção: em 2002, 147 mil pessoas se inscreveram para estudar na Universidade de São Paulo (USP), a principal instituição de ensino superior pública do país.
Em 2007, cinco anos depois, o número era de 140 mil, enquanto as faculdades privadas cresciam vertiginosamente: em 2005, já com os programas de incentivo estatais, eram cerca de 1,5 milhão de alunos nas universidades pagas, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Já em 2015, o Brasil tinha 2,3 milhões de universitários nestas instituições – um aumento de mais de 50%.
Para o professor Wagner Belmonte, da paulistana FAPCOM, as universidades privadas oferecem uma série de vantagens que não possuíam antes, como uma estrutura ampla, uma oferta grande de cursos em diversos campus e, o principal, valores reduzidos em relação ao que se costumava pagar. “Na década de 1990, só rico mesmo podia ter curso superior. Hoje em dia, é uma realidade que se modificou”, explica.
“De fato, as universidades privadas conseguiram melhorar seus cursos e manter as portas mais abertas aos alunos, que antes tinham menos opções de cursos pagos e ainda sofriam para entrar nas públicas”, completa.
Em 2012, segundo a revista britânica The Economist, das 2,4 mil universidades existentes no Brasil, três quartos eram privadas. Essa expansão possibilitou não apenas aumentar o número de alunos, mas permanecer oferecendo vagas sem o sofrimento do vestibular público. Foi o caso do hoje estudante de Direito, Gabriel Mendes: após tentar duas vezes a Fuvest, ele e sua família resolveram matriculá-lo em uma universidade privada. Até agora, a experiência foi positiva.
“Não foi tão fácil entrar, mas também não foi a dificuldade do curso público. O que mais me surpreendeu é que alguns professores que me dão aula também atuam nessas públicas, o que não altera tanto a qualidade”, afirma.
Por ter mais prédios e instalações, as universidades privadas também conseguem oferecer um número maior de cursos em diferentes locais, outra vantagem em relação aos oferecidos por universidades públicas. Em alguns casos, a mesma grade chega a estar disponível em todas as regiões de São Paulo, por exemplo.
Para a coordenadora do curso de Jornalismo da FAPCOM, Marcia Avanza, o custo-benefício é uma das vantagens mais relevantes dos cursos privados: por valores baixos – que ainda podem ser reduzidos por projetos educacionais do governo ou particulares –, é possível ter uma graduação com bons professores, estrutura adequada e métodos de ensino inovadores. “Não à toa o mercado de trabalho geralmente procura profissionais nessas universidades. Além de bons alunos, estão prontos para as empresas”, finaliza.
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