Aposentar-se. Um verbo que dificilmente entra no vocabulário das crianças mais novas, mas que, na idade adulta, tira o sono de muita gente. Por isso, a preparação para esse momento da vida precisa começar desde cedo, de preferência logo nos primeiros anos da infância, estabelecendo objetivos de curto, médio e longo prazo.
De acordo com o coordenador pedagógico da Conquista Solução Educacional, Fernando Vargas, especialista em educação financeira, é a partir dos três anos de idade que as crianças começam a se identificar no meio social, fora do ambiente familiar. Convivendo com outras crianças na escola e frequentando espaços comerciais, por exemplo, elas passam a desenvolver seu senso de valor e a reconhecer valor em diferentes coisas. Segundo ele, é nessa idade que começam as birras quando os pais se negam a satisfazer determinadas vontades dos filhos. “As crianças são expostas muito cedo aos encantos do consumo. Então, é fundamental construir com elas desde sempre a consciência do planejamento financeiro”, explica.
Isso pode ser feito de diversas formas, porém, a mais eficaz, segundo o especialista, é o exemplo. Quanto mais novas as crianças, mais elas tendem a imitar o comportamento dos pais, responsáveis e outros adultos com os quais convivem. Assim, se esses adultos se rendem frequentemente ao consumismo, será difícil educar crianças que não reproduzam esse padrão de comportamento. “Precisamos educar adultos planejadores. Isso não quer dizer que eles vão se privar de tudo, mas que terão suas realizações pessoais sem extrapolar suas possibilidades financeiras”, detalha. Para Vargas, uma criança que aprende a planejar será capaz, no futuro, de poupar para se aposentar com recursos suficientes para ter uma vida tranquila.
A aposentadoria pode começar com o videogame ou a bicicleta
Uma boa estratégia para educar financeiramente desde cedo é motivar os pequenos para que aprendam a fazer escolhas. Quando uma criança pede, por exemplo, uma bicicleta ou um videogame, cabe aos adultos explicar que isso custa dinheiro e, portanto, precisa estar previsto em um planejamento mais amplo. “Os pais podem dizer ‘podemos comprar essa bicicleta daqui a cinco meses, por exemplo, mas, para isso, não podemos ficar comprando os brinquedinhos do supermercado’. Isso vai estabelecer um prazo para a compra e a economia com outros itens vai fazer com que a bicicleta deixe de ser apenas um objeto e se torne uma realização pessoal”, ensina.
A construção dessa lógica de que as coisas precisam ser conquistadas é o alicerce para que as crianças comecem, desde cedo, a pensar e a fazer planos para o futuro. “Falar de criança e aposentadoria parece algo muito distante. Esse não é um assunto imediato para os pequenos, não gera satisfação momentânea ou realização psicológica. Por isso, é tão difícil de abordar”, destaca Vargas. No entanto, ele alerta que é ensinando por meio dos desejos imediatos das crianças que se cria o senso de responsabilidade com o dinheiro. “Para pensarmos no futuro, temos que pensar no presente. Um investimento para o futuro não necessariamente é tangível ou monetário. Mas o que é o futuro se não plantarmos as sementes no presente?”, finaliza.
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