O Conselho de Comunicação Social (CCS) realizou uma reunião na segunda-feira (2) para discutir o desenvolvimento da nova geração da televisão digital, a TV 3.0 ou DTV+, prevista para entrar em operação em dois anos. A principal preocupação dos conselheiros gira em torno da inclusão digital e da proteção da privacidade dos usuários.
O sistema DTV+ integrará emissoras abertas como aplicativos no menu de televisores, permitindo o acesso a conteúdo sob demanda. No entanto, o presidente do CCS, Miguel Matos, expressou preocupação com a exclusão de pessoas menos familiarizadas com o ambiente digital. Após uma demonstração do projeto piloto, ele declarou: “Esses mecanismos são difíceis para quem não nasceu nesta geração. Tudo aí já me pareceu difícil.”
Representantes do setor de televisão também se manifestaram. João Camilo Júnior, conselheiro e representante das empresas de televisão, defendeu a “proeminência” da TV aberta no novo sistema, sugerindo um botão específico no controle remoto para acesso direto à programação. Em suas palavras: “O acesso precisa ser facilitado para que nossa tia, nossa mãe ou nosso avô use o controle e acesse a programação de forma simples.”
Ana Eliza Faria, integrante do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD), responsável pelo desenvolvimento da TV 3.0, assegurou que o sistema incluirá um ícone de fácil reconhecimento na tela inicial dos aparelhos, sempre visível, além de manter o acesso direto à TV aberta via controle remoto. Ela explicou: “Hoje, é desafiador para o telespectador descobrir onde está a TV aberta. O que está sendo proposto para a TV 3.0 é um ícone que seja facilmente reconhecido e esteja sempre visível na tela inicial do aparelho. Além disso, que seja mantido um acesso direto ao ambiente de TV aberta através do controle remoto.”
Preocupações com a privacidade dos dados também foram levantadas. Maria José Braga, conselheira representante dos jornalistas, alertou para o risco de criação de “bolhas de conteúdo” com base nos dados coletados pelos usuários. Ela argumentou: “Você pode garantir publicidade com alta segmentação. Mas debate público, não. Estamos vendo pessoas fechadas nos seus círculos, sem se abrirem para o debate de ideias e posições.”
Marcelo Moreno, coordenador do Grupo de Trabalho de Codificação de Aplicações do Fórum SBTVD, defendeu a implementação de registros padronizados de privacidade no sistema DTV+. Ele afirmou: “A TV 3.0 é um ambiente rico em dados de personalização, abrangendo desde hábitos de visualização até preferências baseadas na localização. Garantir a privacidade dos telespectadores é vital para manter confiança e incentivar engajamento contínuo.”
Representantes da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e do Fórum SBTVD também participaram do debate. Paulo Alcoforado, diretor da Ancine, avaliou que a TV brasileira está em “posição de desvantagem competitiva” em relação ao streaming, e que o novo modelo deve buscar um equilíbrio entre os dois serviços. Sergio Santoro, coordenador do Módulo de Mercado Fórum SBTVD, enfatizou que o atual modelo de TV aberta não consegue competir com as plataformas de streaming, e que a DTV+ é uma estratégia para evitar o desaparecimento da radiodifusão.
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