O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro, declarou apoio público ao movimento de boicote contra o Carrefour, em resposta à decisão da empresa francesa de suspender as vendas de carne do Mercosul em suas lojas na França.
A decisão do Carrefour, anunciada pelo CEO Alexandre Bompard em carta a Arnaud Rousseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas da França, gerou forte reação no Brasil. O veto, segundo a empresa, se justifica pela crise enfrentada pelos produtores rurais franceses. Entretanto, o Carrefour havia declarado que o veto não se aplicaria às unidades no Brasil e na Argentina, bem como em outros países onde opera em regime de franquia.
Em nota oficial, o Ministério da Agricultura (Mapa) repudiou a decisão, reafirmando a qualidade da carne brasileira. Diversas entidades do setor seguiram o mesmo caminho, incluindo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a Sociedade Rural Brasileira (SRB) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Estas entidades, em conjunto, sugeriram um boicote completo aos produtos Carrefour no Brasil, caso a empresa mantivesse a posição.
Em evento comemorativo dos 10 anos da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), em Brasília, o ministro Fávaro expressou seu apoio ao boicote: “Nos surpreende a presidência local [do Carrefour], aqui no Brasil, dizer ‘nós vamos continuar comprando porque sabemos que tem boa procedência, quem não quer comprar é a matriz, a França’. Ora, se não serve para os franceses, não vai servir para os brasileiros. Então, que não se forneça carne nem para o mercado desta marca aqui no Brasil. O Brasil tem que ter muita responsabilidade e garantia da qualidade dos nossos produtos. Eu quero crer que eles vão repensar do que estão falando da produção brasileira“
Fávaro considerou a iniciativa das entidades do agronegócio “uma atitude louvável… que mostra soberania e o respeito à legislação brasileira“, adicionando que o movimento conta com seu total apoio. O ministro também se manifestou sobre um episódio similar com a Danone, em outubro, quando um diretor da empresa declarou (posteriormente desmentido pela multinacional) que a empresa não compraria mais soja brasileira por questões de sustentabilidade. Para Fávaro, os dois casos sugerem uma possível “ação orquestrada contra o agronegócio brasileiro“, embora admita a possibilidade de coincidência.
“Eu custo a acreditar que está acontecendo uma ação orquestrada por parte das empresas francesas. Custo a acreditar que é orquestrada, mas também sou uma pessoa que não acredita em coincidências. Eu acredito em providência divina, acredito no trabalho. Ao ver, há 15 dias atrás, a Danone com uma ação mais ou menos como essa, agora o Carrefour lançando um movimento desse. Veja, primeiro que o Brasil não se nega a discutir sustentabilidade com ninguém em nenhum lugar do mundo. É um governo, um país, que tem compromisso com respeito ao meio ambiente, com a rastreabilidade, com a boa sanidade, com todos os princípios desse tipo. Agora, de forma alguma, ser atacado na nossa soberania, isso é irretocável“, afirmou o ministro.
O Ministério da Agricultura avalia que a decisão do Carrefour pode representar um obstáculo ao acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, um tema que vem sendo debatido há mais de 25 anos e que enfrentou novas dificuldades durante a recente Cúpula do G20. O presidente francês, Emmanuel Macron, reiterou, na cúpula, que o acordo, “em seu estado atual, não é um tratado aceitável“, refletindo preocupações de produtores franceses com a possível perda de mercado.
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