A Operação Tempus Veritatis da Polícia Federal (PF) trouxe à tona mais do que a minuta de decreto golpista encontrada na sede do Partido Liberal (PL). Em um computador apreendido na sala de assessores do general Walter Braga Netto, os investigadores encontraram uma apresentação de slides intitulada “Palestra nos Clubes Militares – 29 JUN V2.pptx”. O material, com acesso restrito e alerta contra cópias e divulgação, contém 67 páginas e defende uma maior participação das Forças Armadas na política brasileira.
Criada pelo assessor Carlos Antonio Lopes de Araujo e com a última modificação feita pelo coronel da reserva Marcelo Lopes de Azevedo, a apresentação questiona a tradicional postura de afastamento da política pelas Forças Armadas, argumentando que isso levou a uma perda de influência nas decisões nacionais. Um dos slides afirma: “Seguindo o pensamento liberal, os militares foram afastados do centro de poder e das decisões de Estado. Com isso, perdemos paulatinamente a capacidade de influenciar!!”
O documento compara os governos de Dilma Rousseff, Lula e Jair Bolsonaro, destacando a maior inserção de militares em cargos de comando durante o governo Bolsonaro. A apresentação defende a “importância da participação dos militares na conjuntura política”, argumentando que “A atuação política é necessária para não ceder espaço. Não estamos em um movimento retrógrado, mas sim num aproveitamento do êxito” e “Nunca haverá vácuo de poder”.
O material também inclui críticas ao Poder Judiciário, em especial ao Supremo Tribunal Federal (STF), citando a soltura de Lula em 2019 e a oposição ao voto impresso como exemplos de suposto ativismo judicial. Um slide questiona: “Por que queremos mais quatro anos de governo Bolsonaro?”, lembrando que Braga Netto foi vice na chapa do ex-presidente. Há ainda uma página em rascunho sugerindo a inclusão de informações sobre a candidatura de Braga Netto em 2022 e seus planos para 2024 e 2026, com a anotação: “Para que possamos influenciar a política nacional precisamos de militares dispostos a concorrer a cargo político. No caso concreto, o general pode citar o exemplo pessoal que concorreu como vice-presidente e está colocando o nome dele à disposição do partido”.
A PF enviou uma cópia do arquivo ao Supremo Tribunal Federal (STF) e considera a apresentação um “chamamento aos demais militares a participar da vida política”. A investigação destaca a relevância do material em face de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) em tramitação no Congresso Nacional que visa proibir a participação de militares da ativa na política e em cargos civis na administração pública.
É importante ressaltar que o general Braga Netto é um dos 37 indiciados por organização criminosa, golpe de Estado e abolição violenta do Estado de Direito, sendo citado 98 vezes no relatório final da PF como “figura central” do plano golpista. A investigação aponta seu conhecimento do planejamento para atentar contra a vida do ministro Alexandre de Moraes, o presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin, além de sua influência em uma campanha de pressão sobre o comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, para adesão ao golpe.
A defesa do general Braga Netto ainda não se manifestou sobre o conteúdo da apresentação.
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