Uma pesquisa recente do Instituto Patrícia Galvão e Consulting do Brasil, apoiada pelo Ministério das Mulheres e viabilizada por emenda da deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP), revelou dados preocupantes sobre a violência contra mulheres no Brasil. O estudo, intitulado “Medo, ameaça e risco: percepções e vivências das mulheres sobre violência doméstica e feminicídio”, entrevistou 1.353 mulheres brasileiras adultas em outubro de 2023, desvendando uma realidade alarmante de ameaças de morte por parte de parceiros atuais ou ex-parceiros.
Um quinto das mulheres entrevistadas (21%) relatou ter sofrido ameaças de morte, e seis em cada dez conhecem alguém que passou por essa situação. A pesquisa destaca uma disparidade preocupante: as mulheres negras (pretas e pardas) são desproporcionalmente afetadas. Apesar de 60% das mulheres ameaçadas terem rompido o relacionamento após a ameaça, uma taxa significativamente maior entre as mulheres negras, a maioria delas (66%) acredita na impunidade dos agressores, com apenas um quinto acreditando que eles sejam presos.
Apesar de 44% das vítimas terem relatado medo intenso, somente 30% registraram queixa na polícia e 17% solicitaram medidas protetivas. Esse índice baixo demonstra uma falha sistêmica no acesso à justiça e na proteção das vítimas. A pesquisa também indica que 60% das entrevistadas associam a percepção de impunidade ao aumento dos casos de feminicídio, enquanto 42% acreditam que as ameaças não representam um risco real de morte. No entanto, a pesquisa ressalta que 90% das participantes consideram que os casos de feminicídio aumentaram nos últimos cinco anos.
O estudo também investiga a percepção das mulheres sobre os serviços de apoio disponíveis. 80% acreditam que a rede de atendimento, apesar de boa, é insuficiente para atender à demanda. A mesma porcentagem destaca o impacto positivo de campanhas de estímulo à denúncia e das redes sociais na conscientização e no enfrentamento da violência. Entretanto, 80% das entrevistadas acreditam que a justiça e as autoridades policiais não tratam as ameaças e denúncias com a seriedade necessária.
O testemunho de Zilma Dias ilustra a dura realidade da violência doméstica e suas consequências devastadoras. Zilma, uma diarista pernambucana, perdeu uma sobrinha, Camila, assassinada aos 17 anos por seu ex-companheiro, que a esfaqueou doze vezes diante da própria filha, Raíssa. O agressor só foi preso após cometer outro crime. Zilma também foi vítima de violência doméstica por seis anos, relatando agressões físicas e psicológicas, além de isolamento e controle por parte do parceiro. Ela descreve o ciclo de violência, marcado por pedidos de perdão seguidos de novas agressões, e a dificuldade em romper o relacionamento por medo de ser morta. “Eu não sabia a quem recorrer. Deus me livre chamar a polícia. Não contava nem à minha mãe que ele me batia. Quase todos os dias, ficava machucada. Grávida, apanhava… Ele me proibiu de falar. Aí, eu disse ‘Eu caí’.”, lembra Zilma.
Zilma também relata como o agressor tentava controlar sua vida, inclusive impedindo que ela fizesse exames pré-natais. “Ela dizia que ele era mosca morta”, diz Zilma sobre a percepção de risco de sua sobrinha. A experiência de Zilma destaca a necessidade de maior conscientização sobre os sinais de violência doméstica, o acesso à justiça e os recursos de apoio disponíveis para as vítimas.
A pesquisa do Instituto Patrícia Galvão está disponível em seu site, oferecendo informações detalhadas sobre os tipos de violência e os recursos de apoio para mulheres em situação de risco. Para pedir ajuda, ligue para o 180 ou procure uma delegacia especializada no atendimento à mulher ou uma Casa da Mulher Brasileira. Existem dez unidades espalhadas pelo país: Campo Grande, Fortaleza, Ceilândia (DF), Curitiba, São Luís, Boa Vista, São Paulo, Salvador, Teresina e Ananindeua (PA).
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