A importância do luto e do respeito a cada um dos seus estágios

Passar e enfrentar a dor do luto envolve muitas emoções: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Elas são conhecidas por serem as fases dessa experiência, que começa no instante que se perde alguém. Apesar de ser uma experiência individual e única, a maneira como lidamos, com o luto tem um impacto significativo na vida das pessoas envolvidas e nas dinâmicas familiares e sociais. O luto é um processo natural e multifacetado que envolve a experiência de lidar com a perda de alguém ou algo significativo na vida de uma pessoa. É uma resposta emocional natural e inevitável diante da perda de algo.

Isso pode ir além de pessoas: pode ocorrer em outras situações, como o fim de um relacionamento, a perda de um emprego, mudanças na saúde física ou mental e outras transições importantes na vida. Seu significado transcende a tristeza, pois abrange uma ampla gama de emoções e reações, como tristeza, raiva, negação e aceitação, que podem variar em intensidade e duração. Esses sentimentos podem se alternar, se sobrepor ou ocorrer em diferentes momentos. A dor do luto varia de pessoa para pessoa e pode ser influenciada por fatores como cultura, crenças religiosas, histórico familiar e personalidade.

Contrariando expectativas, as fases do luto não são lineares e esses cinco estágios não precisam acontecer em apenas uma ordem. A negação, a raiva, a barganha, a depressão e a aceitação podem aparecer em momentos diferentes durante esse processo.

Veja quais as 5 fases do luto

Negação:

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A negação é uma resposta instintiva à dor e ao choque da perda. Nesta fase, a pessoa cria uma barreira temporária para proteger a si mesma do impacto emocional avassalador. A negação permite um tempo para processar a notícia e se preparar para lidar com a realidade. Ela pode ser manifestada através de pensamentos como “isso não pode estar acontecendo” ou “deve haver algum engano”. Com o tempo, essa negação começa a desaparecer, dando lugar a outras emoções.

No entanto, se a negação se prolongar demais, pode ser um sinal de que a pessoa está tendo dificuldades para enfrentar a perda e pode precisar de apoio adicional para seguir em frente.

Raiva:

A raiva surge quando a pessoa começa a aceitar a realidade da perda e se sente injustiçada ou traída. Essa emoção pode ser direcionada a outras pessoas, como familiares, amigos, médicos ou até mesmo a alguém que partiu. Nesta fase, é comum ouvir questionamentos como “por que isso aconteceu comigo?” ou “não é justo”. É importante permitir-se sentir raiva e expressá-la de maneira saudável, como através de conversas, escrita ou atividades físicas.

O que vale é não deixar a raiva se transformar em ressentimento, pois isso pode atrapalhar o processo de cura emocional.

Barganha:

A fase da barganha é marcada por um desejo intenso de reverter ou aliviar a dor da perda. A pessoa pode fazer promessas a si mesma, a Deus ou a outras forças superiores, na esperança de que isso amenize a dor. Por exemplo, a pessoa pode pensar: “Se eu for uma pessoa melhor, talvez isso não tenha acontecido” ou “Se eu mudar meu comportamento, posso evitar que outras perdas ocorram”.

Essa fase reflete a busca desesperada por algum controle sobre a situação, mas é importante reconhecer que nem todas as circunstâncias estão sob nosso controle. À medida que a pessoa avança no processo, a necessidade de barganhar tende a diminuir.

Depressão:

A depressão é uma resposta natural à perda, e é o momento em que a pessoa realmente sente o peso da ausência. É aquele momento em que a realidade da perda é plenamente sentida, e a pessoa pode experimentar profunda tristeza, desânimo e desinteresse pelas atividades diárias quando está vivendo o luto.

Isso pode se manifestar através de alterações no apetite, no sono e na concentração. Nesta etapa, é essencial buscar apoio emocional e, caso necessário, acompanhamento profissional, para enfrentar a dor e evitar o agravamento dos sintomas.

Aceitação:

Independentemente da ordem anterior, a aceitação é o estágio final do luto, no qual a pessoa começa a se adaptar à nova realidade sem a presença do ente querido. Ela não significa que a pessoa esqueceu ou superou completamente a perda, mas sim que está aprendendo a viver com ela.

A pessoa pode começar a encontrar novos interesses, estabelecer novos objetivos e criar outros vínculos. A aceitação é um processo contínuo, e a pessoa pode oscilar entre os estágios antes de finalmente encontrar a paz e a resiliência para seguir em frente.

Quanto tempo dura o período de luto?

O período de luto é uma experiência única. Isso significa que a duração dele varia de acordo com fatores como a relação com o ente querido, a natureza da perda e o apoio emocional disponível. Não há um prazo específico para o fim, e é essencial respeitar o tempo que cada um leva para processar e lidar com a perda.

Algumas pessoas podem começar a se sentir melhor em semanas ou meses após o luto, enquanto outras podem levar anos para encontrar a aceitação e a paz necessárias para seguir em frente. É importante lembrar que isso não é um processo linear, e é normal que a pessoa oscile entre diferentes emoções e fases ao longo do tempo. O essencial é permitir-se vivenciar em seu próprio ritmo e buscar apoio para o luto quando necessário.

Consequências físicas e emocionais desse processo

Em contato com o N10 notícias, a psicóloga clínica com abordagem terapêutica cognitiva comportamental (TCC) especialista em saúde mental e avaliação psicológica, Erika Caroline do Nascimento, apontou sobre como os profissionais de saúde direcionam as pessoas que estão passando pelo processo do luto, além de ressaltar a importância de perceber quando os sintomas e as consequências passam a ser físicas.

“Essa adaptação ao luto às vezes é coerente ao sofrimento e a dor, e as vezes é uma forma não adaptativa. O profissional da saúde busca, com a maior sutileza possível, como deixar a pessoa falar, deixar ela viver sua dor, não isolar esse indivíduo, mas deixá-lo compreender o que está sentindo. Com isso a pessoa não vai se distanciar do ente querido, mas vai entender o processo”, afirmou Nascimento.

“Além disso, é preciso observar as consequências físicas que o luto acarreta como por exemplo perda de apetite, isolamento, dificuldades no trabalho, perda de cognição, tristeza constante, mau humor, continuidade na negação e as vezes até uma dor física, caso esses sintomas persistam já pode considerar o adoecimento por conta dessa perda”, pontuou.

“Dito isso, ao falarmos sobre o processo de ajuda e de escuta a pessoa pode procurar um especialista em saúde mental, além do apoio dos familiares e amigos. Pode-se usar da terapia cognitiva comportamental, a terapia da aceitação e do compromisso, essa terapia busca processos de valores, percepção de mundo e dualidade”, complementou.

Confira algumas técnicas apresentadas pela psicóloga dentro da TCC (Terapia Cognitiva Comportamental):

Dentro da TCC existe alguns tipos de intervenção como por exemplo a técnica ‘Cadeira Vazia’ que se trata de um diálogo que você faz consigo mesmo, em busca de aceitação e de entender aquilo que você está sentindo. Além disso, tem também as ‘Cartas do Perdão e da Valorização Humana’, que você pode fazer para si mesmo ou para a pessoa que se foi, você pode conversar com essa pessoa caso tenha ficado algo mal resolvido no decorrer da vivência, a pessoa pode trabalhar nessas cartas essas situações. Outra técnica é a ‘Caixa de Memórias’ onde a pessoa pega tudo que for de memória viva e recorrente, significativa daquele ente que se foi, e faz uma caixa de memória como ponto de recordação, com fotos e objetos, até mesmo algo pessoal da pessoa que se foi para que seja um momento dela de reviver aquela dor”, esclareceu.

“Realizar isso no dia do aniversário de quem já se foi, rever esses objetos neste dia, é uma forma de valorização da vida daquele que partiu. Assim, é possível levantar pontos como a contribuição deixada por seu ente querido, como forma de reviver seu legado. Contudo, é importante não se isolar, trazendo seus familiares junto, procurando trabalhos voluntários e processos com pessoas em grupos terapêuticos, caso precise de terapia para validar essa dor interna de forma produtiva e elaborada”, finalizou.

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