Em áudio, Mauro Cid fala em US$ 25 mil para Bolsonaro e venda ilegal de itens em leilão
Em um áudio obtido pela Polícia Federal durante a investigação da venda ilegal de presentes oficiais recebidos pelo governo Jair Bolsonaro (PL), o ex-ajudante de ordens Mauro Barbosa Cid trata de três temas que comprometem os investigados. Entre eles, um “repasse” que deveria ser feito em “cachê” (dinheiro vivo), ao então presidente de República.
A citação a US$ 25 mil (dólares) supostamente endereçados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, tratativas para a venda de estátuas de palmeira e um barco folheados a ouro, recebidos pela comitiva brasileira durante visita oficial ao Bahrein em 2019 e as negociações para levar a leilão um dos kits recebidos na Arábia Saudita com relógio e joias masculinas.
De acordo com o inquérito, a mensagem foi enviada por Mauro Cid ao assessor especial de Jair Bolsonaro Marcelo Câmara. Nesta sexta-feira (11) a PF realizou uma operação contra pessoas ligadas a Bolsonaro suspeitas de tentar e até mesmo vender presentes recebidos por integrantes do governo durante viagens oficiais.
Segundo as informações divulgadas pela polícia, foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão em Brasília (DF), São Paulo (SP) e Niterói (RJ). Os alvos dessa operação foram: tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro; Mauro Lorena Cid, também militar e pai de Mauro Cid; Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; e Frederick Wassef, advogado que já defendeu o ex-presidente e familiares.
O ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator do inquérito que apura a atuação de uma suposta milícia digital contra a democracia autorizou os mandados. De acordo com a PF, os crimes apurados na operação desta sexta-feira são lavagem de dinheiro e peculato (desvio de bem público).
Dinheiro enviado a Jair Bolsonaro
No áudio, Mauro Cid afirma que o pai, o general Mauro Lourena Cid, estaria com 25 mil dólares “possivelmente pertencentes a Jair Bolsonaro”, segundo a PF. Mauro Cid também indica, dizem os investigadores, medo de usar o sistema bancário para entregar o dinheiro ao ex-presidente da República. E uma preferência por fazer a entrega em dinheiro vivo, ou “em cash”.
“Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente (…) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né? (…).”
Marcelo Câmara responde, em mensagem de texto, sobre esse assunto. Diz: “Melhor trazer em cachê”. Em seguida, manda uma outra mensagem: “Ok ciente“.
Tentativa de venda das esculturas
Logo após, Mauro Cid relata a Marcelo Câmara que não conseguiu vender, nos Estados Unidos, as esculturas douradas em formato de palmeira e de barco, recebidas por Bolsonaro no exercício da Presidência da República em visita ao Bahrein. Cid diz que a operação não foi concluída porque as peças não são de ouro maciço e que ainda tentava negociar com outro homem, não identificado. “(…)
“(…) aquelas duas peças que eu trouxe do Brasil: aquele navio e aquela árvore. Elas não são de ouro. Elas têm partes de ouro, mas não são todas de ouro (…) Então eu não estou conseguindo vender. Tem um cara aqui que pediu para dar uma olhada mais detalhada para ver o quanto pode ofertar (…) eu preciso deixar a peça lá (…) pra ele poder dar o orçamento. Então eu vou fazer isso, vou deixar a peça com ele hoje (…).”
Mauro Cid e o Leilão de kit de joias
Ainda no áudio, Mauro Cid compartilha com Marcelo Câmara informações sobre um “kit“, contendo um relógio, que iria a leilão no dia 7 de fevereiro de 2023.
O ex-ajudante de ordens da Presidência da República não detalha o kit no áudio, mas a PF identificou que se tratava do kit de joias masculinas recebido por Jair Bolsonaro na Arábia Saudita. E que o Tribunal de Contas da União (TCU) ordenou que fosse devolvido ao governo meses depois.
“(…) o relógio aquele outro kit lá vai, vai, vai pro dia sete de fevereiro, vai pra leilão. Aí vamos ver quanto que vão dar(…)”, diz Mauro Cid.
Em negociação, pai de Mauro Cid aparece no reflexo da imagem
Foi identificado pela Polícia Federal no reflexo de uma foto usada para negociar, nos Estados Unidos. Esculturas recebidas pelo governo como presente oficial o rosto do general do Exército Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
De acordo com os investigadores, ao fotografar a caixa com os itens para pedir uma avaliação do valor em lojas especializadas, Mauro Lourena Cid acabou deixando seu rosto aparecer no reflexo. Foi anexada a imagem como um dos elementos á operação nesta sexta-feira que faz buscas em endereços ligados a Cid pai, Cid filho e a outros assessores e aliados de Bolsonaro.
Segundo a PF, foram transportadas as esculturas para os Estados Unidos no mesmo avião presidencial que levou Jair Bolsonaro ao país, às vésperas do fim do mandato em 2022. Mauro Barbosa Cid pediu que o pai, Mauro Lourena, fosse às lojas de joias. O pai, general que foi colega de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), nos anos 1970. Teria tentado vender as joias nos dias 3 e 4 de janeiro de 2023. Mas não conseguiu, porque descobriu que os itens não eram de ouro maciço, e sim, folheadas.
A PF também obteve mensagens em que Mauro Lourena Cid (o pai) avisa a Mauro Barbosa Cid (o filho) que 25 mil dólares precisam ser entregues a Jair Bolsonaro em dinheiro, para que a origem não seja identificada.