Funai pagou R$ 260/kg por carne de “pescoço de galinha” na gestão Bolsonaro
A aquisição sem licitação desta e outras carnes superfaturadas visava atender a alimentação de indígenas e funcionário do órgão. Além disso, 19 toneladas de carne adquiridas pelo então governo Bolsonaro nunca foram entregues.
Se você conhece a expressão “carne de pescoço” certamente sabe que ela refere-se a algo ou alguém ruim. De fato, o corte está longe de ser um dos mais usuais para consumo no país. No entanto, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), no governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL) adquiriu um lote de 5,2 mil reais desta “iguaria” para a alimentação de indígenas e funcionários do órgão.
Em uma série de reportagens, o jornal O Estado de S.Paulo analisou notas fiscais relacionadas a aquisição de alimentos pela FUNAI. Apenas em carne, foram 927,5 mil reais entre os anos de 2020 a 2022. No entanto, não há registro de entrega desses alimentos aos indígenas.
No caso da carne de pescoço de galinha, foram 20 quilos ao todo, comprados ao valor de R$ 260 cada. Em licitações anteriores, o custo do item era de R$10. Já nos mercados, o item (quando encontrado) é vendido a cerca de R$ 7 reais.
A empresa relacionada a venda da tal “Carne de Pescoço de Galinha” fica em Humaitá (AM) e tem como dono Herivaneo Vieira de Oliveira Junior, filho do prefeito Herivaneo Vieira de Oliveira (PL). Procurado para esclarecer o a situação, o empresário falou que deveria ter “ocorrido um erro na nota” e que a “carne de pescoço de galinha é ruim demais“.
Outra empresa que também deveria fornecer carne seria o Loja do Crente Rei da Glória. De acordo com as notas fiscais seriam entregues charque, maminha, coxão duro, alcatra e latas de presunto, no enteando assim como no caso anterior, a entrega não ocorreu como previsto.
Na época das compras, quem comandava o órgão destinado a proteção indígena era o capitão do Exército Claudio Rocha, nomeado pelo governo Bolsonaro.
Outros casos no governo Bolsonaro
Segundo as reportagens, foram ainda apontadas diversas inconsistências nas compras realizadas pela Funai durante o governo Bolsonaro, incluindo a aquisição de 19 toneladas de bisteca que não chegaram às comunidades indígenas do Vale do Javari, no Amazonas. Além disso, gastos de R$ 4,4 milhões em sardinha e linguiça calabresa para os yanomamis, alimentos que não são consumidos pelos indígenas, foram mencionados.
O que diz a Funai
Em nota publica na noite desta segunda-feira (15) a atual gestão da Funai afirmou que identificou a ausência de qualificação adequada dos itens das cestas de alimentos distribuídas durante a ação de enfrentamento à Covid-19. Também informou que todos os contratos vigentes estão sendo analisados pelas áreas técnicas do órgão, e que medidas cabíveis serão tomadas caso sejam identificadas inconsistências técnicas ou jurídicas.
A Funai reforçou seu compromisso com a transparência e legalidade em todos os processos de licitação, aquisição e prestação de contas de produtos e serviços. A instituição ressaltou que busca respeitar e atender melhor as especificidades culturais e hábitos alimentares dos diferentes povos indígenas.