Putin alerta OTAN sobre ‘consequências severas’ se Ucrânia atacar com armas ocidentais
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaça retaliação contra a OTAN se a Ucrânia utilizar armas ocidentais para atacar a Rússia, destacando o risco de um conflito global.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, alertou nesta terça-feira (28) sobre as graves consequências que podem resultar de uma escalada contínua do conflito ucraniano, especialmente se os países da OTAN permitirem que a Ucrânia utilize armas ocidentais para atacar o território russo. A advertência de Putin vem em meio a um crescente debate entre as nações ocidentais sobre a necessidade de levantar as restrições ao uso dessas armas pela Ucrânia.
Durante uma coletiva de imprensa no Uzbequistão, Putin enfatizou que os membros da OTAN devem estar “conscientes de com o que estão jogando“. Ele questionou os planos da aliança de permitir que a Ucrânia utilize armas de longo alcance para atingir alvos dentro da Rússia, sugerindo que isso poderia precipitar um conflito global. “Uma escalada contínua poderia acarretar graves consequências. Se essas graves consequências chegarem à Europa, como se comportará os Estados Unidos, tendo em vista nossa paridade estratégica de armamento?“, afirmou Putin.
Escalada do conflito
As discussões sobre a possibilidade de permitir ataques ucranianos ao território russo com armas ocidentais ganharam força recentemente. Na segunda-feira (27), a Assembleia Parlamentar da OTAN, composta por legisladores de países membros da aliança, adotou uma declaração instando os membros da OTAN a levantar a proibição de usar armas ocidentais contra a Rússia. Essa declaração seguiu apelos semelhantes do secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, e de ministros do governo da Polônia, Lituânia, Letônia e Suécia.
Funcionários ucranianos afirmam que a Rússia reuniu cerca de 10.000 soldados na fronteira nordeste da Ucrânia, na região de Sumy, em preparação para uma possível ofensiva terrestre. Eles argumentam que suas mãos estão atadas a menos que possam atacar do outro lado da fronteira. “Por que não podemos usar armas para destruí-los onde estão se reunindo?“, perguntou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Debate interno nos EUA
Os apelos para permitir que a Ucrânia utilize armas ocidentais de longo alcance são principalmente direcionados aos Estados Unidos, o maior fornecedor de armamentos ao governo ucraniano. Washington tem repetidamente solicitado à Ucrânia que não use armas fabricadas nos EUA para atacar o território russo, temendo uma escalada do conflito. No entanto, agora existe um debate dentro da administração Biden sobre a possibilidade de relaxar essa proibição.
Putin alertou que os países ocidentais que ajudam a Ucrânia a atacar a Rússia devem estar cientes do “que estão jogando“. Ele acrescentou que os pequenos países europeus que clamam por ataques diretos à Rússia devem ter em mente que são densamente povoados, sugerindo uma ameaça implícita contra eles.
A Ucrânia tem reclamado nos últimos meses que a proibição permite que as forças russas lancem ataques a partir do território russo sem risco, dificultando sua capacidade de repelir tais ofensivas. Esse desvantagem ficou evidente quando a Rússia iniciou uma nova ofensiva perto da cidade de Kharkiv, logo ao sul da região de Sumy, após reunir tropas e equipamentos do outro lado da fronteira.
“Recebemos informações de nossos serviços de inteligência sobre a acumulação de tropas russas do outro lado da fronteira, mas não podíamos atacá-los para prevenir essa ofensiva“, disse Yehor Cherniev, vice-presidente do comitê de segurança nacional do Parlamento ucraniano, em uma entrevista por telefone. “Tivemos que esperar até que cruzassem a fronteira. Isso nos custou muitas vidas.“
Apoio internacional à Ucrânia
Até o momento, o exército ucraniano limitou-se a usar armas ocidentais para atingir alvos em território ucraniano ocupado pela Rússia. Recentemente, a cidade de Luhansk, controlada pelos russos no leste da Ucrânia, foi alvo de ataques, com explosões e incêndios sendo relatados. Autoridades ucranianas reivindicaram a responsabilidade pelo ataque, que aparentemente foi realizado com mísseis de longo alcance fornecidos pelo Ocidente.
Vários países europeus, incluindo Letônia, Reino Unido e Suécia, apoiaram a ideia de permitir que a Ucrânia use armas ocidentais contra a Rússia. O presidente da Letônia, Edgars Rinkevics, afirmou que os recentes avanços da Rússia no nordeste da Ucrânia são “a consequência de nossa incapacidade de fornecer armas à Ucrânia” e das restrições ao uso dessas armas para atacar alvos militares na Rússia.
O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, declarou que cada país que envia armas para a Ucrânia pode decidir individualmente se limita seu uso, destacando que não cabe à OTAN decidir quais armas ocidentais podem ser usadas dentro do território russo. “O direito de autodefesa da Ucrânia inclui atacar alvos fora da Ucrânia, alvos legítimos dentro da Rússia“, afirmou Stoltenberg antes de uma reunião com ministros das Relações Exteriores da União Europeia em Bruxelas.